
Com
mais da metade dos votos válidos – 52% - o deputado estadual Franscisco
de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, é novo presidente da Estação
Primeira. Em eleição um tanto quanto tumultuada, realizada durante todo o
domingo, no Palácio do Samba, o novo mandatário Verde e Rosa
mostrou-se, na visão dos eleitores, mais capacitado que seus oponentes e
comandará a Mangueira nos próximos dois anos. Percival Pires foi o vice
com 32% dos votos. Já o baluarte Raymundo de Castro ficou em terceiro
lugar com 14%. Não houve voto em branco e os votos nulos correspondem a
2% do total. Logo após a vitória, Chiquinho anunciou as contratações de
Rosa Magalhães e Carlinhos de Jesus, que retorna à agremiação.
Além da dupla, Chiquinho afirmou mais uma vez que manterá o intérprete Luizito. Ao seu lado, a escola busca a contratação
de um nome, segundo o próprio deputado, que tenha raízes mangueirenses.
O nome em questão é Bruno Ribas, de acordo com a imprensa
apurou. Eraldo Caê, que durante muito tempo integrou o carro de som da
Mangueira também está de volta. Como primeiro mestre-sala, Raphael está
mantido. Para formar par com ele, Chiquinho contou que há duas opções em
voga.
A imprensa apurou que uma delas é
Squel, que deixou a Mocidade Independente após o último carnaval. A
atual Rainha do Carnaval, Evellin Bastos, nascida e criada no morro da
Mangueira, será a rainha de bateria.

-
É a vitória da democracia mangueirense. Era um momento esperado por
todos. Ao longo da nossa campenha apresentamos aquilo que achávamos de
melhor para a Mangueira e o mangueirense entendeu que nós eramos a
melhor opção. Quero agradecer a toda nação mangueirense, à Imprensa, ao
juiz que conduziu esse processo (Rossidélio Lopes), ao interventor, Dr.
Fernando César Leite, e a todos que direta ou indiretamente participaram
desse processo – afirmou Chiquinho, que fez questão lembrar com louvor a
participação de Percival Pires e Raymundo de Castro nessa eleição.
Já sobre Rosa Magalhães, primeira grande contratação da gestão, Chiquinho da Mangueira explicou como foi a negociação.
- A Rosa foi sensacional conosco. Disse que ia esperar o desfecho da
eleição, que se fosse pra ficar sem trabalhar esse ano ela ficaria. Isso
demonstra que ela acredita no nosso trabalho e quer vir para a Mangueira. É uma artista dispensa apresentações. A atual campeã do carnaval – finalizou.
Após o anúncio
oficial do resultado, Chiquinho foi para a frente da quadra da escola,
onde uma multidão o esperava. Carregado nos braços, ele foi
cumprimentado pelos seus principais entusiastas e logo ganhou o alto do
carro de som para discursar para a massa mangueirense, que, eufórica,
comemorou ao ouvir o nome de cada reforço anunciado pelo seu mais novo
presidente.
Confira como foi o dia da eleição

Prevista
para começar ás 9h, a eleição mangueirense atrasou exatamente 28
minutos para começar. E o primeiro voto foi de Célia Domingues,
presidente da Amebras, que declarou seu apoio a Chiquinho da Mangueira.
Desde antes do horário estipulado para o início da votação, os três
candidatos já marcavam presença em frente ao Palácio do Samba. Com eles,
muitos simpatizantes, faixas, cartazes e até barracas montadas para que
eles se protegessem do forte sol que fez no Rio de Janeiro neste
domingo. Outro artifício usado foi a propaganda através de carro de som,
o que estava proibido de acordo com a decisão do juiz, mas ocorreu a
menos de 500 metros da entrada da quadra.

Durante
todo o dia, o clima variou bastante. De calmaria total a nervos à flor
da pele. Quem também chegou cedo foi a cantora Alcione, que ficou cerca
de uma hora na rua Visconde de Niterói antes de entrar e depositar seu
voto em uma das cinco urnas espalhadas pelo Palácio do Samba. Assim que a
votação começou, Raymundo de Castro se apressou em deixar seu voto.
Logo depois, as primeiras demonstrações de tensão. Integrantes da chapa
de Percival Pires contestavam a todo momento a lista de votação definida
pelo Poder Judiciário. Na visão deles, o Estatuto mangueirense foi
''rasgado'', já que a decisão do juiz não seguiu os preceitos do
documento. Entre os mais inconformados estava o ex-diretor de carnaval
da Verde e Rosa, Jéferson Carlos, que acusou um ex-funcionário da
agremiação, identificado apenas como ''Pablo'', de omitir a lista de
sócios aptos a votar durante a gestão de Ivo Meirelles. Ainda de acordo
com Jéferson, Pablo foi demitido durante a gestão Ivo Meirelles por,
justamente, não apresentar a relação que compunha o quadro social
mangueirense. Em razão disso, Jéferson discutiu asperamente com Marcos
Oliveira, que trabalhava na eleição como fiscal da chapa de Chiquinho da
Mangueira. Marcos, que é advogado, iria concorrer na eleição do ano
passado e foi acusado por Ivo Meirelles de orquestar a invasão com
traficantes ao Palácio do Samba, em abril do ano passado.

A
medida que os ânimos foram se acirrando, o número de policiais da
Unidade de Polícia Pacificadora da comunidade dobrou. Com a chegada da
tarde, mais eleitores apareceram para votar, o calor aumentou e novos
desentendimentos ocorreram. Desta vez, o pior de todo o período de
votação. Um rapaz que trabalhava na eleição como fiscal chegou a chamar o
presidente da Comissão Eleitoral, Dr. Fernando César Leite, de ''Pau
Mandado''. Na visão dele, o advogado estava protegendo os interesses do
candidato Chiquinho da Mangueira. No mesmo momento, o presidente da
comissão eleitoral pediu aos policiais que retirassem o homem da quadra,
o que foi prontamente feito.
Pouco antes das cinco da tarde, mais um momento de pequena tensão.
Bandeiras de partidários de Chiquinho da Mangueira foram encontradas
dentro da quadra, próximas à entrada. Após um rápido desentendimento,
Édson Marcos, que já foi diretor de carnaval da Mangueira e atualmente
integra a diretoria da Liga Independente das Escolas de Samba, retirou
os objetos. Faltando minutos para o término da votação, o juiz da 36ª
Vara Cível, Rossidélio Lopes, chegou à quadra da Mangueira e demonstrou
bastante satisfação com a maneira com que a intervenção jurídica foi
feita.
- A gente buscou usar a experiência de mais de 20 anos de TRE que nós
temos, mas isso só foi possível graças a colaboração de todas as chapas e
do trabalho do Dr. Fernando César, que foi uma escolha pessoal minha. É
um advogado criminalista que eu conheço há um bom tempo. Já sabia que
ele era ligado à escola de samba e está sempre comigo lá no Fórum. Então
quis dar a ele essa responsabilidade.
Durante a eleição, como já citado, integrantes da chapa liderada por
Percival Piresameaçavam entrar com recurso na justiça para anular a
eleição. Tranquilo com relação a isso, Rossidélio Lopes sacramentou:
- Quem ganhar tem que saber ganhar e quem perder tem que saber perder. A
Mangueira é uma instituição mundial e merece esse tipo de cuiado do
poder judiciário.
Logo após o término da contagem de votos, mais desentendimentos. Uma
jovem, partidária da chapa de Percival Pires partiu pra cima do advogado
Marcos Oliveira e fez a mesma acusação feita por Ivo Meirelles no ano
passado, de que ele teria invadido a quadra da escola com traficantes e
roubado documentos importantes da Verde e Rosa.