
A precariedade era total. Faltava água todo dia depois das 16 horas, faltavam banheiros, faltava material, faltava experiência de minha parte e faltava sobretudo dinheiro. Só quem já passou por isso pode imaginar o que é fazer carnaval fora do Grupo Especial. Nem a mais fértil imaginação dá conta dos problemas a serem enfrentados a cada minuto. Aí sim se aplica a palavra superação.
Uma coisa, porém, nunca faltou: a vontade de acertar, a animação, a disposição para trabalhar, a fé na força da nossa escola. Não havia desânimo, não havia tristeza, não havia lamúria. Trabalhava-se muito e acreditava-se que tudo daria certo.
Faltando um mês para o carnaval, o barracão contava com os recursos vindos dos eventos da quadra. E estes eram escassos, porque, com a escola no grupo A, a quadra não lotava. Mas algum sempre vinha. Nossa preocupação era a última semana: as necessidades crescendo e o dinheiro minguando, porque no último sábado antes do carnaval a oferta de eventos em todas as quadras é enorme e os próprios imperianos ficariam tentados a estar fora de Madureira. Que fazer para atrair as pessoas à quadra?
A ideia partiu de Carlos Alberto Machado, imperiano antigo e ilustre que sempre aparecia no barracão para nos salvar de emergências e que depois viria a fazer parte de nosso Departamento de Carnaval. Ele sugeriu que no último ensaio de sábado antes do carnaval realizássemos a Noite do Imperiano de Fé. O ingresso era uma bonita camisa com os dizeres SOU IMPERIANO DE FÉ e a marca do enredo. E todo mundo, para entrar na quadra, tinha de vestir esta camisa: não importa se era sócio contribuinte, grande benemérito ou visita ilustre: para entrar tinha de comprar a camisa. E artistas amigos, que amam o Império Serrano, seriam convidados a "dar canja", para atrair mais público. Ao longo dos anos, em diversas versões da festa, lá estiveram Dorina, Délcio Carvalho, Luísa Dionísio, Moysés Marques, Zezé Motta, Gabriel da Muda, o imperiano João Bosco e a prata da casa: Velha Guarda Show do Império, Jongo da Serrinha, Meninas da Serrinha, Arlindo Cruz, Aloísio Machado, Jorginho do Império e Alex Ribeiro, filho do nosso imortal Roberto Ribeiro.

Todas as camisas foram vendidas, a procura era enorme e a festa foi um sucesso: não apenas do ponto de vista financeiro, mas sobretudo para levantar o moral da escola, que acabou sendo campeã debaixo de um temporal histórico. Usar aquela camisa era dar testemunho de amor e fidelidade ao Império. Desde então a festa virou uma tradição, uma bonita tradição da minha escola.
Pois é, leitor, no próximo sábado, dia 11 de fevereiro, o Império realiza a 5ª Noite do Imperiano de Fé, desta vez um tributo a Dona Ivone Lara. Temos muitos artistas convidados e lá estará também a Sinfônica do Samba de Mestre Gilmar, passistas, os casais de porta-bandeira e mestre-sala, as baianas, enfim, tudo que faz do Império Serrano uma escola de samba no sentido mais puro dessa expressão.
Como nossa quadra está em obras, a festa será este ano no Mello Tênis Clube, na Vila da Penha, pertinho do Olimpo. As camisas-ingresso podem ser adquiridas no barracão do Império, no próprio clube ou na lojinha do Império no Mercadão de Madureira. E você, que ama o Império e que sempre pergunta o que fazer para ajudar, não perca esta chance de vestir nossa camisa: vá participar de uma festa linda, uma prova de amor e de fé no Império Serrano e no samba. Se tudo correr bem, Dona Ivone estará lá para receber nossa homenagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário