Nome Completo: Martinho José Ferreira
Ano de nascimento: 1938
Em princípio, alguém poderia estranhar: o que o nome de Martinho da Vila está fazendo na seção de um site especializada em Intérpretes de Samba Enredo, se o cantor nunca puxou samba na avenida, nem poderia ser classificado como tal? Ao que eu retruco: “Alto lá! Martinho, carnaval e interpretação de samba enredo têm tudo a ver...”
O sambista, nascido num sábado de carnaval, na cidade de Duas Barras/RJ, é dos maiores (senão o maior) divulgadores de samba enredo na história da MPB. Além de ser compositor entre os mais brilhantes do gênero, “Zé Ferreira”, como também gosta de ser chamado, canta como ninguém sambas não só de sua Vila Isabel do coração, como também de outras agremiações, preocupando-se com o resgate fonográfico e o registro discográfico de sambas pouco conhecidos e evitando que este tipo de música fique esquecido. Além disso, o cantor já dedicou álbuns inteiros sobre a arte de fazer e de cantar samba-enredo. Com todas estas prerrogativas e credenciais, alguém teria coragem de dizer que Martinho da Vila não é um intérprete de samba enredo?
Martinho começou a fazer sambas na extinta Escola de Samba Aprendizes da Boca do Mato, na década de 50. Entre 1957 a 1965, a escola desfilou com sambas seus em sete carnavais. Logo em seguida, transferiu-se para a Unidos de Vila Isabel. Martinho da Vila é o segundo compositor com mais sambas enredos feitos para a escola do bairro de Noel (ao todo, são nove obras, perdendo apenas para Paulo Brazão, um dos fundadores da agremiação, autor de 16 sambas).
O artista começou a fazer história no carnaval no fim dos anos 60, ao reformatar o samba-enredo. Em vez de letras quilométricas, versos mais concisos; no lugar das arrastadas melodias, uma música de compasso mais acelerado e harmonias suaves. Em 1967, em parceria com Gemeu, compôs "Carnaval das ilusões", com o qual se classificou em 4º lugar do Grupo Especial no carnaval daquele ano.
Em janeiro de 1968, participou do primeiro LP com os sambas-enredo daquele ano. O disco intitulou-se "As escolas cantam seus sambas para 1968", selo MIS, produzido por Ricardo Cravo Albin. A Vila Isabel desfilou com o samba-enredo “Quatro séculos de modas e costumes”.
Martinho da Vila transformou em sucesso não só os sambas que embalaram os desfiles da Vila Isabel. As obras de sua autoria que caíram nos cortes de samba (como são chamadas as disputas internas para a escolha da música enredo) também foram gravadas em seus discos, desfazendo a máxima de que o samba enredo tinha vida curta e morria no exato momento em que perdia a disputa. Foi assim com “Tribo dos Carajás” (samba desclassificado para o enredo “Aruanã-Açu”, de 1974, por motivos políticos), “Ai, que saudades que eu tenho” (desclassificado para o tema homônimo, de 1977), “Desperta, Iemanjá” (samba desclassificado para o enredo “Dique um mar de amor”, de 1978), e Prece ao Sol (música desclassificada para o tema “Não deixe o samba morrer”, de 1997).
Em sua trajetória de sambista e militante do carnaval, Martinho da Vila conquistou quatro vezes o prêmio Estandarte de Ouro, conferido pelo júri do jornal O Globo – três como autor do melhor samba enredo, nos carnavais de 1980, 1984 e 1993, e uma vez como Personalidade Masculina, em 1978. Em 1987, com "Raízes", inovou o desfile de carnaval ao levar para a Marquês de Sapucaí um samba-enredo sem rimas. No ano seguinte, lançou o LP "Festa da raça", em comemoração ao centenário da Abolição da Escravatura. Ainda em 1988, ganhou o seu primeiro campeonato como criador do enredo “Kizomba – Festa de uma raça”, que originou o samba-enredo “Kizomba, a festa da raça” de autoria de Luiz Carlos da Vila, Rodolpho de Souza e Jonas Rodrigues.
Em 1993, Martinho compôs "Gbala, viagem ao templo da criação", samba-enredo que classificou a Vila em 8º lugar do Grupo Especial no desfile daquele ano. Ainda em 1993, ganhou cinco Prêmios Sharp na categoria samba e gravou um disco dedicado à Unidos de Vila Isabel no projeto Escolas de Samba, da gravadora Sony Music, que, selecionando os dez melhores sambas da escola, escolheu nove de sua autoria.
Com o CD "Tá delícia, tá gostoso", lançado em 1995, obteve enorme sucesso comercial com as músicas "Cuca maluca", "Devagar, devagarinho", e "Mulheres". Este disco atingiu a marca de mais de 1,5 milhão de cópias vendidas. Em 2003, lançou o CD "Conexões" no qual interpretou em francês diversos sucessos de carreira e inéditas.
Sempre quando compunha o samba enredo, Martinho da Vila fazia questão de gravá-lo tanto no disco oficial do carnaval quanto nos seus álbuns de carreira, mas não o fazia na avenida, deixando a função para os intérpretes da escola. No entanto, em 1993, ele abriu uma exceção e, até a primeira metade do desfile, cantou “Gbala” no carro de som junto com seus filhos Tonico Ferreira, Mart’nália e Analimar, além do puxador oficial da época Gera. Atualmente, devido ao imenso desgaste que é uma disputa e às cartas marcadas da competição, Martinho deixou de concorrer. Mas seu talento serve de exemplo e inspira os jovens compositores da escola do bairro de Noel.Início: Escola de Samba Aprendizes da Boca do Mato, aos 13 anos de idade. Chegou à Unidos de Vila Isabel em 1966.
SAMBAS DE SUA AUTORIA:
Aprendizes da Boca do Mato: “Carlos Gomes” (1957); “Exaltação a Tamandaré” (1958); “Machado de Assis” (1959); “Rui Barbosa na Conferência de Haia” (1960); “Vultos da Independência” (1961); “Café” (1962, com Renato) e “Construtores da Cidade do Rio de Janeiro” (1965).
Vila Isabel: “Carnaval de ilusões” (Vila/67, com Gemeu); “Quatro séculos de modas e costumes” (Vila/68); “Ya-Yá do cais dourado” (Vila/69, com Rodolpho de Souza); “Glórias gaúchas” (Vila/70); “Onde o Brasil aprendeu a liberdade” (Vila/72); “O sonho de um sonho” (Vila/80, com Rodolpho e Tião Graúna); “Pra tudo se acabar na Quarta-Feira” (Vila/84); “Raízes” (Vila/87, com Azo e Ovídio Bessa); “Gbala, uma viagem ao Templo da Criação” (Vila/93).
Discos especializados em samba-enredo:
- Samba Enredo (1980, quando gravou clássicos como “Sublime Pergaminho, “As três capitais”, “Chico Rei”, “Machado de Assis”, “Benfeitores do Universo”, “Ao povo em forma de arte”, etc)
- Vila Isabel Coletânea Sony Music (1993)
Discografia oficial
· - Martinho da Vila (1969)
· - Meu Laia-raiá (1970)
· - Memórias de um sargento de milícias (1971)
· - Batuque na cozinha (1972)
· - Origens (Pelo telefone) (1973)
· - Canta, canta, minha gente (1974)
· - Martinho da Vila (1974)
· - Maravilha de cenário (1975)
· - Rosa do povo (1976)
· - Presente (1977)
· - Tendinha (1978)
· - Terreiro, sala e salão (1979)
· - Sentimentos (1981)
· - Verso e reverso (1982)
· - Novas palavras (1983)
· - Martinho da Vila Isabel (1984)
· - Criações e recriações (1985)
· - Batuqueiro (1986)
· - Coração malandro (1987)
· - Festa da raça (1988)
· - O canto das lavadeiras (1989)
· - Martinho da vida (1990)
· - Vai meu samba, vai (1991)
· - No templo da criação (1992)
· - Martinho da Vila (1992)
· - Ao Rio de Janeiro (1994)
· - Tá delícia, tá gostoso (1995)
· - Coisas de Deus (1997)
· - 3.0 turbinado e ao vivo (1999)
· - O pai da Alegria (1999)
· - Lusofonia (2000)
· - Martinho da Vila, da roça e da cidade (2001)
· - Martinho definitivo (2002)
· - Voz & coração (2002)
· - Conexões (2003)
· - Conexões ao vivo (2004)
MAIS FOTOS DE MARTINHO DA VILA
Na única vez em que puxou um samba na Sapucaí: Gbala, em 1993
Martinho, entre Dominguinhos do Estácio e Paulinho Mocidade
"Kizombando" no antológico desfile de 1988
Desfilando pela Vila em 1984
Em 1967
Com Beth Carvalho
Com Caetano Veloso e sua filha Mart'nália
Com Clara Nunes
Com Darcy da Mangueira em 1969
Com Donga
Cantando com Paulinho da Viola
Com Zeca Pagodinho e Gilberto Gil
Com a Seleção de 1970, junto com craques como Pelé, Rivellino, Gérson, Brito e Carlos Alberto Torres
Durante show no Canecão, em 1998
Nenhum comentário:
Postar um comentário