Não adianta. Pode até perguntar para qualquer um que tenha ido à Marquês de Sapucaí este ano durante o carnaval. O dia 14 de fevereiro de 2010 ficará na memória de todos. Isso porque uma escola revolucionou. Impressionou. Sim, a Unidos da Tijuca já havia arrancado suspiros seis anos antes, com o carro do DNA. Voltou a chamar a atenção no ano seguinte, com seu imenso pavão feito apenas por humanos. Mas foi no último carnaval da década que a escola do Borel se consagrou. E se sagrou bicampeã.
Não adianta mesmo. Se em um universo de 10 pessoas, que seja, uma não disser que a Tijuca mereceu o título, será estranho. Estranho foi ver gente trocando de roupa quase que num passe de mágica. Estranho? Quase? Não, foi um passe de mágica. Um truque surpreendente, muito mais que curioso. E não foi apenas mais um truque, foi "o truque". Os carros que vinham na sequência eram diferentes. Bem ao estilo do homem que, enfim, chegou lá. Paulo Barros, o carnavalesco sensação da década.
A genialidade do artista contribuiu - e muito - para o tão aguardado título da escola. Aguardado praticamente por uma vida inteira: 74 anos. "Tenho 32 anos de escola, e nunca aquilo tinha acontecido comigo. Podem vir mais 30, que eu nunca vou esquecer daquele dia". Foi esse tipo de sensação, descrita pelo mestre Casagrande, diretor de bateria, que a Tijuca proporcionou entre seus componentes. Mas nem tudo foi tão perfeito assim. Sim, houve problemas. Mas por sorte, ou talvez alguma intervenção divina, não atrapalhou a escola.
- Antes mesmo da concentração, em um bar ali perto onde já ensaiamos há três anos uma última vez, deu problema no vestido de uma das meninas. Eu fiquei desesperado, mas ela deu um jeito e foi para a Avenida assim mesmo. Eu, super preocupado, me comunicava o tempo inteiro com o pessoal de dentro do tripé para saber se estava tudo bem. Mas imagina meu nervoso? Parece mentira... Fui com o coração na mão, mas no fim deu tudo certo - lembra Rodrigo Neri, coreógrafo da comissão de frente, parceiro de Priscila Mota.
Comissão de frente que ficará na história
E assim foi. Três grupos de seis meninas cada se revezando em cena na Sapucaí. Dentro do tripé onde tudo acontecia, quase 50 pessoas trabalhando para que tudo desse certo. E deu. Nos quase 700 metros de Avenida, nenhum erro e um show de mágica, que levou abaixo o povo nas arquibancadas. Privilégio de quem viu ao vivo. Imagina então de quem viu antes...
- Em um desses ensaios lá no barracão, às 3h da manhã, um cozinheiro da escola viu nosso ensaio escondido. Depois, ele chegou chorando para a gente contando que tinha visto. Aquilo deu uma emoção muito grande na gente. Nunca vou esquecer daquela cena - revela Priscila, que até hoje se emociona ao falar sobre o desfile.
Mas não foi só a comissão de frente a sensação da Tijuca. Os carros criativos, as fantasias bem acabadas e os componentes animados - como não poderia deixar de ser - empolgara, até mesmo os jurados. "Até eles ficaram com cara de satisfeitos, com um semblante de impressionados. Foi muito legal", recorda Casagrande.
Em seu segundo desfile como intérprete oficial da escola, o cantor Bruno Ribas conquistou o tão sonhado campeonato. Sem palavras para descrever o que sentiu no dia 14 de fevereiro de 2010, ele define em uma frase o que achou da apresentação tijucana. "Todo o projeto foi espetacular", diz. Para Bruno, o título foi como uma coroação.
- O que mais me marcou foi essa mudança na minha vida. Cheguei em 2009 na escola, que estava com um projeto nem tão ambicioso assim, que não foi promissor, e logo no ano seguinte ganhar o campeonato da forma como a gente ganhou. Fiquei muito emocionado com o fim do nosso desfile. Assim que a gente saiu, as pessoas gritavam "é campeã" e o comentário geral era de que nem precisava mais ter escola nenhuma, porque o título já era nosso. Isso me deixou muito feliz e vi ali que o título era nosso.
E vem mais por aí...
Para 2011, a Tijuca quer mais. Com o enredo "Esta noite levarei sua alma", novamente do carnavalesco Paulo Barros, a escola do Borel promete levar para a Avenida um novo show de truques. E como até a bateria teve novidade em 2010, com um carro que atravessava a ala dos ritmistas, mestre Casagrande já adianta que teremos mais com o que nos surpreender.
- Assim como a história do carro funcionou, a gente já está estudando um coisa nova para o ano que vem. Não posso revelar para não perder a graça, mas tenho certeza de que todo mundo vai gostar - finaliza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário