A furiosa bateria, com o tambor da Academia, arrepiou. Invadiu a alma, alucinou. Despertou a energia de milhares de corações vermelho e brancos ávidos por um título que não vinha há 16 anos. Mas ele veio. No canto, na dança, com um ritmo que encanta, envolve e levanta, o Salgueiro chegou lá. Fez o povo dançar e conquistou seu nono troféu, em 56 anos de história. O ano de 2009 foi especial para a nação salgueirense.
Quase dois anos depois, o SRZD-Carnavalesco apresenta a quinta matéria da série de reportagens especiais sobre os campeões da primeira década do século XXI. E a vez é da escola da Tijuca. Relembrando o desfile do "Tambor", impossível não pensar que esse enredo tinha tudo a ver com o Salgueiro. E foi logo ele que veio coroar a escola...
- Foi uma satisfação muito grande para mim, porque eu estava há muito pouco tempo à frente da escola, além do fato de ter sido o título com uma presidente mulher. Apesar de todas as dificuldades, sem patrocínio, sem patrono para ajudar, nós conseguimos. A união fez a diferença e o respeito foi fundamental. Foi uma sensação de dever cumprido, mostramos que não precisamos provar nada para ninguém. A comunidade precisava daquele título - lembra a presidente Regina Céli, em entrevista por telefone.
Seria mesmo impossível não pensar que o enredo tinha tudo a ver com o Salgueiro? Não para uma pessoa: o carnavalesco Renato Lage. "Não existe esse negócio de escola africana, não é bem assim. Não dá para estabelecer característica. O que importa é o trabalho ser bom, bem desenvolvido. É lógico que uma identificação ajuda, como por exemplo foi o Rio de Janeiro e como será esse ano também, um enredo de uma escola que tem a cara carioca. Mas cada enredo é um enredo", defende o artista.
Não importa. O que interessa é que o tão aguardado dia da nação salgueirense gritar novamente "é campeão" chegou. Para Renato Lage, "foi um momento em que tudo deu certo, as coisas se encaixaram e houve união na escola".
Enredo veio de um estalo
Um instrumento primário, universal e fundamental para uma escola de samba. Capaz de criar tanto uma atmosfera de festa e alegria, quanto de manifestação popular. Assim é o tambor. Apesar de toda a semântica que carrega, é simples. E foi da simplicidade que surgiu a ideia do enredo.
- O desafio foi justamente a procura de um tema que tivesse identificação com o Salgueiro. Mas o Tambor teve isso e veio de um estalo, foi uma coisa de repente, achei que era esse o caminho. Para mim, o que mais marcou foi a satisfação de resgatar a grandiosidade do Salgueiro, de conquistar um título 16 anos depois. Antes, chegar ao desfile das campeãs era comemorado quase como um título, e não é mais assim - lembra o carnavalesco.
Mas se o resultado foi a festa na quadra da Rua Silva Teles, no Andaraí, tudo isso aconteceu por conta de um belo desfile. Um show de qualidade em alegorias e fantasias que "deu um toque especial" à apresentação. E como nada disso funcionaria sem um samba empolgante, o compositor Moisés Santiago conta como foi o processo de elaboração da obra.
- A gente apostava muito na melodia e na facilidade de comunicação do samba. Quando o escrevemos, pensamos na capacidade de mexer com o ritmista, com o cara que toca, que dança. Aos poucos, o samba foi ganhando adeptos, tomando corpo e, quando chegou no desfile, arrebentou. Enquanto o Salgueiro passava na Avenida, eu chorava muito e via que poderia dar. Aquilo realmente foi um marco na minha vida, na minha carreira. Ver todo mundo cantando seu samba assim é emocionante - lembra o compositor, que começou escrevendo sambas na Tradição e chegou ao Salgueiro em 2004.
Mescla na bateria para uma batida firme
Responsável pela bateria - que tirou três notas 10 e um 9,8 - mestre Marcão conta o segredo para tanta vitalidade entre os ritmistas. Segundo ele, a mescla de jovens e experientes foi a receita do sucesso na bateria do Salgueiro.
- Foi uma satisfação muito grande, muito gratificante ganhar o primeiro título assim com quatro anos de escola. Apesar de não termos ganho os quatro 10, fizemos nosso trabalho para somar na escola. E foi legal porque desde que assumi, em 2005, comecei a puxar uma galera mais nova, foram 15 pessoas logo de cara, inclusive meu filho, Marquinho, que hoje é diretor da mirim. Fomos renovando, misturando antigos com novos e deu samba - conta o diretor, que chegou à escola em 1999.
Para 2011, a presidente promete. Segundo ela, é possível impressionar ainda mais do que em 2009.
- A gente vai vir ainda mais bonito do que foi Tambor. Um título no meu primeiro ano é inesquecível, mas podem esperar para ver do que o Salgueiro é capaz de novo - conclui.
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