Com uma boa ajuda - leia-se financeira - da estatal venezuelana PDVSA, a escola desenvolveu o enredo "Soy loco por ti America - A Vila canta a latinidade" de "cara nova". Carros grandes e fantasias luxuosas com a assinatura do carnavalesco Alexandre Louzada contrastaram com aquela Vila pobre, mas sempre aguerrida, dos tempos de "Kizomba". No enredo campeão de 2006, a Vila mostrou a cultura latina antes mesmo da chegada dos colonizadores europeus até o resultado da miscigenação entre os povos. O diretor de barracão da escola Junior Schall relembra uma história engraçada envolvendo o presidente da Venezuela, Hugo Chávez que bancou o enredo da Vila através da PDVSA.
- Quando nós acabamos o desfile das campeãs, parte da escola foi para Cidade do Samba onde uma equipe de filmagem da Venezuela nos aguardava. Fizemos um show na madrugada mesmo. Eu sei que o Hugo Chávez queria muito levar a escultura do Simón Bolívar para Venezuela. A escultura tinha 12,75m e passava a 20cm da Torre de TV. Mas não havia condições de transportar por avião nem por mar. A escultura não foi projetada para isso - disse Junior Schall que junto com Ricardo Fernandes e o próprio Louzada foram contratados pela Vila após participaram do desfile da Porto da Pedra no ano anterior. "Sangue caliente" corre na veia
É noite no Império do Sol
A Vila Isabel semeia
Sua poesia em 'portunhol'"
É possível que a grandiosidade da Vila daquele ano não seria possível sem a inauguração da Cidade do Samba. As escolas ganharam mais espaço e infra-estrutura para realizar seus carnavais. Na nova fábrica dos sonhos, Junior ainda lembra que teve ao lado do carnavalesco Alexandre Louzada dias antes do desfile oficial.
- Estávamos numa indecisão sobre a cor do chão do quinto carro. No desenho original, seria amarelo canário, mas o Alexandre quis deixar isso por último. Na última semana, resolvemos subir aquela varanda da Cidade do Samba, mas o Alexandre não queria. Nós nunca tínhamos ido lá. Parece uma bobagem, mas era a primeira vez que quem trabalhava nos barracões teria uma visão daquela, com todos os carros prontos, organizados. Era o medo que nós tínhamos de ver o conjunto todo pronto. "'Soy loco por tí, América'
Louco por teus sabores
Fartura que impera, mestiça mãe terra
Da integração das cores"
E Alexandre Louzada consagraria seu nome após o campeonato daquele ano. Vencedor em 1998 na Mangueira com o enredo sobre Chico Buarque, o carnavalesco foi contratado pela Vila após a excelente reedição do enredo "Festa Profana" na Porto da Pedra. Louzada acabou substituindo Joãosinho Trinta na escola de Noel, após o maior campeão do carnaval carioca sofrer um infarto.
- Fiquei feliz por conseguir um título que a Vila não conquistava há tantos anos. Foi a primeira vez que eu fui para a concentração armar a escola e só lá me dei conta do impacto que poderíamos causar, das possibilidades de título que tínhamos. Fui ouvindo os comentários das pessoas, todo mundo passando pela concentração para ver os carros da Vila e aquilo me deixou muito feliz. Recebi os parabéns até mesmo do Seu Anízio, quando eu nem sonhava em trabalhar na Beija-Flor - conta Louzada que depois seria campeão mais duas vezes com a agremiação de Nilópolis em 2007 e 2008."Arriba, Vila !!!
Forte e unida
Feito o sonho do libertador
A essência latina é a luz de Bolívar
Que brilha num mosáico multicor"
Nos bastidores da preparação para o desfile, Martinho da Vila teria se desentendido com a diretoria e preferiu não desfilar. Acabou não vendo sua escola de coração ganhar um título que não conquistava há 18 anos. O motivo da briga foi o concurso de samba-enredo. O cantor foi convidado a participar da disputa, mas teve seu samba eliminado. Magoado, Martinho preferiu não desfilar à frente da agremiação. Já o samba-enredo, bastante criticado na época, teve uma grande performance durante a passagem da Vila na Avenida e foi determinante na conquista do título. A escola terminou empatada com a Grande Rio e o quesito de desempate foi justamente o samba-enredo.
- Eu lembro que na Apuração ficou aquela indefinição de quem seria a campeão. Nem nós sabíamos. Alguns integrantes da Grande Rio até comemoraram, mas me recordo que uma pessoa da Liesa apontou para nossa mesa dizendo que tínhamos vencido. Não esqueço daquilo - diz Junior. Nenhum torcedor da Vila poderia esquecer aquele dia. Quem diria que seis anos depois do rebaixamento, a escola renasceria e seria campeã quebrando um longo jejum. Nos carnavais seguintes, a agremiação brigou sempre pelo título com alguns tropeços. No seu último desfile, era, sem dúvida, a escola mais aguardada, mas não passou de um quarto lugar. Será que o feitiço que transformou a Vila de Gata Borralheira para Cinderela se esgotou? Difícil, até porque de feitiço, a Vila entende, não é?
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