
- Todo mundo na Beija-Flor pensou em abandonar, porque fazíamos carnavais fantásticos e não levávamos nunca. Araxá (1999), por exemplo, foi lindo demais. Claro que deu vontade de desistir, todo mundo pensava em parar, diziam "não vamos ganhar nunca". A comissão de carnaval pensou em se desfazer, achavam que estavam prejudicando a escola, sempre perdendo por meio ponto, e isso ficava muito na nossa cabeça - revela o homem forte da escola da Baixada, Laíla.
"Nasce então
Poderosa guerreira
E desenvolve seu trabalho social"

Avante com a tribo Beija-Flor
A conquista era tudo o que a Beija-Flor precisava para embalar nos anos seguintes. Vinha 2004, ano de algumas transformações no conceito do carnaval. Primeiro porque um gênio surgia para o mundo: na Unidos da Tijuca, Paulo Barros impressionava o público com o carro do DNA. Segundo que a Liga passava a permitir a reedição de sambas, e com isso algumas escolas se aproveitariam de grandes obras, como foi o caso do Império Serrano, com "Aquarela Brasileira". Mas era o momento de provar que uma nova Beija-Flor tentava se posicionar de vez. E com um desfile empolgante sobre a Amazônia, no enredo "Manoa, Manaus, Amazonas - Alimenta o corpo, equilibra a alma e transmite a paz", a comunidade de Nilópolis explodia em festa rumo ao bicampeonato.

"Clareou...
Anunciando um novo dia
Clareou...
Abençoada Estrela Guia"
Não podemos dizer que o tricampeonato, em 2005, representava um novo dia na história da Beija-Flor - em 1978, a escola já havia conquistado sua primeira sequência de três títulos, vencendo também em 76 e 77. Mas não deixa de ser um momento histórico da década. Era a segunda vez que uma escola levava o tri nesses dez anos - a Imperatriz comemorou o feito em 2001, após vencer em 99 e 2000 - no entanto, as três taças da Beija vinham na mesma década.

- O título que me marcou mais foi o de 2005, que foi o ano que a minha mãe (Dona Jacira, 52 anos, vítima de um AVC) faleceu. Ela entrou em coma no domingo de carnaval, desfilei com a mesma força e comprometimento e recebi a notícia da morte dela na quarta-feira. Junto com as ligações de alegria do título vieram as de pêsames. Tive que ter frieza como um ator no palco, foi muita superação, mas que não pude comemorar. Foi um ano que eu torci para que acabasse logo - lembra a emblemática figura da Beija-Flor.

O enredo do ano seguinte, "Poços de Caldas derrama sobre a Terra suas águas milagrosas: do caos inicial à explosão da vida, a nave mãe da existência", não foi suficiente para manter a escola no topo. Vila Isabel, que se sagraria campeã, e Grande Rio, pela primeira vez vice, entraram rasgando a Avenida e tentando provar que o domínio não era total de Nilópolis. Mas assim como Poços de Caldas no enredo, a Beija Flor era a referência no carnaval. A quinta colocação faria com que a escola voltasse em 2007 disposta a retomar o apelido de Rolo Compressor.
"Áfricas, do berço real à corte brasiliana" apresentava-se como um enredo rico, com as características que marcaram os carnavais da Beija-Flor. A disputa não seria fácil. E nem as provocações que viriam a seguir. O título do carnaval de 2007 foi bastante contestado, muitos se sentiram insatisfeitos com o resultado. Mas para a escola, aquilo era apenas a volta da campeã. Tanto é que em 2008, com "Macapaba - Equinócio Solar. Viagens fantásticas ao meio do mundo", a Beija repetiu a dose, com um resultado mais apertado, é verdade, mas o suficiente para levantar o caneco e gritas de novo "bicampeão".

A Deusa da Passarela
Essa série de vitórias - cinco em seis anos - comprovou a tese de que a Beija-Flor é a Deusa da Passarela. Mais que isso, a escola tornava-se em 2008 a dona da década. Mas para Laíla, não é de palavras que se faz uma escola de samba.
- Eu não entro nesse "endeusamento". Não adianta pensar em ser Deus e não ter brilhantismo, não ter um grande samba, não fazer um grande carnaval. Desfile tem obrigação de ser bonito, de ser um espetáculo para o povo. Para mim, não é a Deusa, é só a Beija-Flor de Nilópolis - avalia.
E a humildade de Laíla se baseia também num jejum - se é que assim podemos chamar - de títulos da escola. Para ele, a disputa no carnaval está cada vez mais acirrada, e por isso está na hora de a agremiação levantar outra taça de campeão.
- Não sou perdedor, não que eu não saiba valorizar a vitória dos outros, mas não gosto de perder, sinto obrigação em ganhar. Todo mundo está achando seus caminhos, sabe-se que a concorrência é muito grande e a gente sabe também que está tudo mais difícil. Já está começando a incomodar não ganhar há dois anos - assume Laíla.
Mais do que uma escola, a Beija-Flor passou a ser um centro de cidadania na Baixada Fluminense. Não seria exagero, portanto, dizer que não é Nilópolis que tem a Beija-Flor, e sim a Beija-Flor que tem uma cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário