domingo, 27 de fevereiro de 2011

Carnavais do século XXI: o 'doce' sabor do Tri da Imperatriz

Foto: Reprodução de vídeoNuma corrida de Fórmula I, a Imperatriz teria feito a pole position e vencido a corrida de ponta a ponta. Em 2001, na quarta-feira de Cinzas, para vencer a escola de Ramos alguém teria que ser tão perfeito quanto ela. Ganhando todos os dez possíveis dos jurados da Liesa, a Imperatriz conquistou o tricampeonato no primeiro desfile do século XXI e consagrou a artista plástica e carnavalesca Rosa Magalhães como a maior vencedora da Era do Sambódromo, com cinco títulos. O desfile contou a história da produção de cana de açúcar pelo mundo até chegar ao Brasil e apresentou no final uma homenagem a um dos fundadores da Mangueira, Carlos Cachaça. O enredo tinha um longo título: Cana-Caiana, Cana Roxa, Cana Fita, Cana Preta, Amarela, Pernambuco ... Quero vê Descê o Suco, na Pancada do Ganzá".


Quarta escola a se apresentar na segunda noite de desfiles, a Imperatriz defendia o campeonato com uma equipe forte em vários quesitos. Na comissão de frente, Fabio de Mello, na direção de harmonia Ricardo Fernandes e Chiquinho e Maria Helena como primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. De acordo com o presidente da escola na época e atual diretor de carnaval, Wagner Araújo, o enredo receberia patrocínio, mas até hoje a escola não recebeu nada, quer dizer, não recebeu dinheiro.

"Apesar dos cruzados plantarem,
A cana na Europa não vingou"

- Eu fui procurado pelo pessoal de uma associação de cachaceiros que realmente eu não lembro mesmo o nome correto. Eles sugeriram uma ajuda. Conversamos e resolvemos fazer o enredo. O dinheiro não apareceu, mas recebemos muita cachaça de brinde - brinca Wagner.

Já a carnavalesca Rosa Magalhães discorda do ex-chefe. Segundo a artista, o "brinde" não era tão grande assim.

- O copinho que a gente recebeu era primo do dedal. Muito pequeno - se diverte Rosa, atualmente responsável pelo desfile da Vila Isabel.

Durante entrevista ao SRZD-Carnavalesco, Wagner Araújo distribuiu muitos elogios à artista, dispensada da Imperatriz ano passado, após um longo casamento de 18 anos com a escola. - Rosa usando sua genialidade desenvolveu um enredo sobre a cachaça, mas de uma maneira interessante. Não falando só de alambiques, mas também sobre a história do cultivo da cana de açúcar, com os mouros, depois os cruzados trazendo o plantio para a Europa. Não queríamos fazer uma propaganda para as pessoas consumirem cachaça.

E Rosa fez o que melhor sabe fazer: contar uma bela história. O desfile da Imperatriz começou com os cruzados e os mouros. Estes foram os primeiros a praticar o cultivo de cana. Por conta do clima mais frio, as plantações não tiveram sucesso na Europa. Veneza acabou despontando como o principal local de refino e o açúcar em pouco tempo se transformou em uma especiaria.

- O açúcar era muito valorizado e acabou se banalizando com as plantações de monocultura no Caribe e no litoral do Brasil, quando o plantio é trazido pelos europeus - conta Rosa.

"Mas conta a história que em Veneza
O açúcar foi pra mesa da nobreza"

A cana de açúcar se transformou no primeiro ciclo econômico no país ainda colônia. Movimentou o tráfico de escravos e possibilitou o surgimento de uma nova estrutura de moradia que seguiria por muitos anos no Brasil, a Casa Grande e a senzala.

- Eu não gostava de cachaça. Nunca gostei dessas cachaças industrializadas. Elas têm um gosto muito forte e esquisito. Agora eu fui para Minas no ano passado para produzir um seriado sobre o Ziraldo na TV Brasil e eu comprei monte de cachaças artesanais para dar de presente. Não voltou nenhuma. Aprendi a beber cachaça depois de muito tempo. Era uma maravilha. À noite, era um frio danado e toma de cachaça - conta Rosa Magalhães.

Vaias no desfile das campeãs

O desfile da Imperatriz não conseguiu empolgar o público presente na Marquês de Sapucaí mesmo com a bonita homenagem da escola a Carlos Cachaça, um dos fundadores da Mangueira. O último setor da Imperatriz se vestiu todo de verde e rosa. O curioso foi que logo depois da escola de Ramos, a agremiação seguinte era a própria Mangueira.

- Provocou muita controvérsia. A gente usou bastante a figura do Carlos Cachaça e o final acabou tendo uma confusão até por algumas pessoas da escola. Mas era uma homenagem, afinal de contas a gente estava falando de carnaval - explica Wagner.

No dia da apuração, todas as atenções estavam entre as duas escolas que protagonizaram uma das melhores rivalidades dos últimos anos, Beija-Flor e Imperatriz. O título estava mais inclinado para as bandas de Nilópolis, após o excelente desfile sobre a história Agotime. Na época, a Beija-Flor foi descontada em meio ponto no quesito Alegorias e Adereços enquanto a Imperatriz conquistou todas as notas máximas. O título de Ramos acabou sendo contestado por alguns dirigentes de outras escolas e pelo público, que vaiou a passagem da Imperatriz durante o desfile das campeãs.

- Eram torcidas que vieram para lá apenas no intuito de vaiar. Não nos incomodou. Houve até muitas críticas de escolas co-irmãs até porque o presidente da Liga [Liesa] era o Luisinho [atual presidente da Imperatriz].

"Quero vê descê o suco até melá
Na pancada doce do ganzá"

Depois de 18 carnavais pela escola de Ramos, Rosa Magalhães não guarda mágoa de sua saída após o desfile de 2009. Perguntada sobre o que deixou na memória durante sua passagem pela Imperatriz, a artista mantém a economia no uso das palavras, mas responde com franqueza e escolhe o título de 1994 como o seu preferido durante sua trajetória na escola.

- A alegria dos campeonatos. Mas o primeiro título a gente sempre recorda mais. Parece que foi mais difícil chegar lá. Gostei muito também de realizar o carnaval de 2000. Li muita coisa que não sabia sobre o Descobrimento do Brasil e me encantei com a história.

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