sábado, 13 de julho de 2013

Ricardo Barbieri: 'ecos do sorteio'


O samba, aquele que surgiu no morro, veio pra cidade, se enfeitou todo e virou “o maior espetáculo da terra” anda meio besta, ficou difícil, está “tirando onda”... A começar pelo sorteio das escolas que irão desfilar na Sapucaí.

Põem lá um globo com bolinhas numeradas. Até aí tudo bem. Fácil de entender. É só rodar o globo e soltar a bolinha. Depois é que a coisa complica. Antigamente era uma bolinha que decidia: dia, posição e pronto. São doze escolas? Então põe doze bolinhas e as seis primeiras desfilam no primeiro dia e as outras no dia seguinte.  Na ordem das bolinhas.

Mas, o legal, o bacana no carnaval hoje em dia, é complicar. Então, resolvem dar mais emoção. Põem um pouco de austeridade, até para convencer que existe algum senso de justiça, que todos têm oportunidades iguais e tal.

Daí, vem uma dupla de representantes de escolas (previamente pareadas) e tiram a sorte para ver quem vai poder escolher o dia que quer desfilar. O pareamento merece uma nota especial:  poderia ser baseado em estatística clássica, aquela que abrange estatísticas de jogos de azar. Mas não. Simplificar pra que? Tem que ser baseado em estatística bayesiana ou, quem sabe, experimentalista. Coisa de cientista... Entende? E não para por aí...

Escolher o dia que prefere desfilar não é fácil. É uma decisão importante. Tipo decisão de presidente americano (que gosta de fuçar o Facebook dos outros).  Ainda tem que considerar se é melhor desfilar no primeiro ou no segundo dia, se é melhor concentrar do lado dos Correios ou do Balança, se é melhor ser a quarta ou a última, se convém trocar para agradar um amigo ou se a troca resulta de uma minuciosa análise de dados, estudados por uma equipe de expertises.

No dia do desfile, ir para a avenida é outro inferno que funde a cuca dos sambistas. Qual será o dia do comboio para a avenida? Qual o horário do comboio? O tamanho da equipe que vai acompanhar? Quantas ruas fechar? Como se o Rio de Janeiro já não tivesse ruas fechadas o suficiente.

Tanta complexidade que o sambista comum que pensava que carnaval era só cantar o samba, se requebrar e dizer no pé, não consegue entender.

E o samba? O samba-enredo deve ser “funcional”. O carnavalesco recomenda que os poetas da escola devem ter liberdade para criar, e se divertir com o enredo.  Mas, brincar com o enredo não é como parece.  “simples” como fazer poesia.

Tem que “alcançar” a intelectualidade do carnavalesco. Se não conseguir, basta comparecer às reuniões agendadas que ele e Freud explicam. 

Pensa que acabou? Que nada.

Na apuração, tem que ter planilha do Excell com hyperlinks, fórmulas que eliminem a menor nota, algumas vezes a maior, que efetue a soma automaticamente, atualize a classificação e quem conseguir terminar primeiro grita: “campeã”, antes de todo mundo, inclusive da comissão de apuração que vai levar umas duas horas para proferir o resultado oficial e mais um mês para divulgar as justificativas.

É de levar para o hospício ou não é? Saudades do tempo da vovó quando as pessoas saíam pra “brincar o carnaval”.  Já era, amigo ! Carnaval não é brinquedo não...  Carnaval é para intelectual.

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