sábado, 29 de junho de 2013

Diogo Jesus: menino de ouro da Portela


O renovo da Portela foi cantado em prosa e verso, em todas as esquinas e editorias, redutos do samba e de outros assuntos, com a eleição e sua nova diretoria. Não só pela promessa de uma gestão com olhos para a transparência e para a volta das mentes originais que construíram o pavilhão glorioso que essa escola tem, mas sobretudo pela visão profissional de uma concepção de carnaval. Saindo daquela mentalidade ultrapassada de tentar vencer pelos brios e pela fama, agora apostando na briga dos quesitos e na pontuação técnica, a Portela começa a reconstruir seu caminho de volta ao patamar das campeãs.
Não posso deixar de falar, dentre tantas mudanças e renovações que a escola vem fazendo, no menino iluminado que agora assumirá o pavilhão da escola. Diogo Jesus. Abençoado até no nome!
Tenho por esse virtuoso mestre-sala menino uma grande admiração. Vi, na história dele, um pouco do que eu também já vivi. Frequento a quadra da Portela desde a morte de Clara Nunes, em 1983. Eu era ainda menino quando ali pisei pela primeira vez, justo num dos dias mais tristes de sua história. Sei, por história própria e pessoal, o quanto a Majestade do Samba é capaz de encantar e conquistar o coração de um menino com seu azul sem par. E, após um período em que estive distante da escola, voltei a frequentar o Portelão, vi naquele menino valente, ousado, malabarista da dança um pouco da minha história, embora por caminhos diferentes.
Diogo Jesus. Foto: SRZD
Diogo é essência de Portela. Tem história, lastro, caminhada. Aprendeu com Tia Dulcinéia, sua avó, o que é chão de escola. Quando esse menino olha para a bandeira da Portela, parece deslumbrar-se ante a visão mais simbólica de sua escola de coração. Diogo tem poesia na dança. Eu o via caminhar na escola como alguém que fora feito na Portela, cria da Portela, desde a Filhos da Águia até a avenida principal. Porque ele é exatamente isso: um "filho da Águia" legítimo. Via nas pessoas da escola um carinho, um zelo especial por ele. A escola zela por Diogo Jesus como uma águia zela por seus filhotes em seu ninho. Diogo revelou-se tão precioso e importante como um craque desses do futebol, paparicado (no bom sentido) e protegido pelos clubes para que seu talento não se perca.
Caminhando com Diogo como um pretenso amigo nesses últimos anos, surpreendi-me. É de uma inestimável simpatia, de uma capacidade de reflexão sobre a vida, sobre a escola que defende, sobre o carnaval e sobre vários outros assuntos, que impressiona. Tem convicções, é seguro e conciso nas opiniões. Passa na quadra tomando a bênção e cumprimentando todo mundo. Um lorde negro do samba, uma tradução extemporânea do legado de Paulo da Portela: elegante no trato e na aparência. Além de se constituir legitimamente em um dos melhores mestres-sala do carnaval carioca hoje, Diogo carrega uma característica fundamental para o exercício de sua dança: a singeleza do chamado "samba de malandro". Toda a cortesia e a ginga que ele demonstra em suas performances é proveniente de uma atuação pregressa como passista. Ele incorpora, com rara habilidade, os trejeitos do malandro na evolução contínua e mais acelerada da dança de mestre-sala. Ao mesclar de forma tão perfeita a graciosidade e a leveza do mestre-sala à cadência exemplar do samba de malandro passista, Diogo construiu um repertório de passos para sua evolução que o qualifica e torna ainda mais sublime a sua habilidade artística.
Eu poderia passar o resto destas laudas elogiando a índole, o caráter, a elegância, o talento e a simpatia desse menino. Na verdade, um homem. Afeito e talhado ao desafio de ser primeiro mestre-sala de uma escola do tamanho da Portela.
E, assim como o homem que hoje sou também passou pela experiência de ser um menino que um dia apaixonou-se pela Portela, posso dizer que não haverá nenhum percalço nessa caminhada de Diogo Jesus como primeiro mestre-sala da escola.
Porque a escola é grande; todo mundo sabe. Mas, com toda a sua grandeza, cabe inteirinha no coração desse garoto sambista.

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