Este ano para mim foi bem mais complicado, em razão da enorme dificuldade que tive para me refazer do resultado do Grupo de Acesso A. E não me refiro apenas à vitória da campeã, que até as pedras do calçamento já sabiam de antemão quem seria, mas sobretudo ao não cumprimento, pela Liesga, do regulamento estabelecido, patenteando a arbitrariedade e os casuísmos que ponteiam nosso carnaval.
Não fui a única a me espantar com isso: na minha revolta tive ilustres companhias, inclusiva a do prefeito da cidade, que se manifestou publicamente contra a entidade de classe do Grupo de Acesso, desqualificando-a para prosseguir a parceria com a prefeitura no tocante à organização do desfile. E aí...
Todo mundo conhece a história do marido que, ao encontrar a esposa traindo-o com seu maior amigo no sofá da sala, perdoa a esposa e mantém o amigo, mas manda queimar o sofá... Eis o que me veio à cabeça quando soube que o presidente da Lesga, por mera coincidência também presidente da escola campeã, renunciou ao cargo e para a diretoria foram os dois presidentes das escolas não rebaixadas, as beneficiárias do "tapetão". E, para colaborar um pouco mais para a queima do sofá, a Lesga não mais existe, aparecendo em seu lugar a Lierj.
Ah bom! Então está tudo resolvido... Reginaldo Gomes não é mais o presidente? Lesga não há mais? Então está tudo resolvido. As justificativas dos julgadores, ainda hoje, que eu saiba, não divulgadas, nem interessam mais... Ninguém fala mais no assunto. E a gente vai ficando um pouquinho mais triste, um pouquinho mais descrente dos rumos do carnaval.
Sinceramente, não consigo partilhar da crença de que se deve dar um crédito de confiança a quem está assumindo agora. Porque não consigo mais ser tão pura e ingênua a ponto de confiar em quem se beneficia de casuísmos desse tipo. As coisas já começam muito mal e tenho o direito de achar que ainda vão piorar.
Paralelamente o anúncio dos primeiros enredos para 2013 não ajudou a me reanimar. Tomara que eu esteja sendo injustificadamente pessimista, mas acho que o que está anunciado por aí representa um grande retrocesso em relação aos dois últimos carnavais. E, quando a gente imaginava que as escolas de samba estavam se conscientizando da importância de escolher enredos com que os componentes e o público pudessem se identificar, vem esse balde de água fria que são os enredos do próximo carnaval. Balde não: jato de lavadora de alta pressão.
Não consigo entender por que o carnaval do Rio é adepto da prática do tiro no pé! Os dirigentes parecem empenhados única e exclusivamente em levá-lo ao impasse e o pretexto para isso é a necessidade de patrocínios, de mais e mais dinheiro. Já ficou provado que só dinheiro não ganha carnaval. Portanto, não vamos esquecer que sem emoção, sem participação e empenho, sem alegria, não há dinheiro que salve o carnaval.
Tomara que eu esteja sendo saudosista e que tudo vá às mil maravilhas. Às vezes tenho mesmo a sensação de que esta é questão. Por exemplo, ao entrar na linda quadra reformada do Império Serrano, dotada de todos os confortos de que as co-irmãs dispõem, me senti dividida: ao orgulho e à alegria se misturou um incômodo sentimento de nostalgia de um tempo em que não havia paredes de vidro separando o público do samba, pois quem ia a uma quadra de escola de samba queria ouvir muito bem a bateria, os intérpretes e o povão cantando na quadra e nem se importava de suar um pouquinho. Ninguém pensava em se proteger do incômodo, porque a alegria e a emoção valiam a pena. Mas deixa pra lá: as coisas mudaram mesmo e deve ser melhor hoje do que outrora. Eu é que não estou conseguindo enxergar.
De qualquer maneira, estou voltando com muita satisfação a este espaço e prometo não falhar mais. É um privilégio dispor deste espaço ao lado de colegas tão ilustres e poder dialogar com gente que, como eu, põe o samba num lugar muito especial em sua vida.
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