quinta-feira, 28 de junho de 2012

Que passado nós queremos?

Uma das grandes características de todo sambista é contar e cantar a saudade dos carnavais de outrora. Que poder é esse que o passado exerce sobre nós que nos impede muitas vezes de enxergar o que é belo no carnaval dos dias de hoje? É inquestionável a qualidade dos bons sambas e desfiles que tivemos no passado. Porém, hoje, no presente, temos provas claras de que, apesar de tudo, o samba "agoniza, mas não morre". Os sambas de 2012 da Portela e da Unidos de Vila Isabel nos dão a certeza de que o samba ainda tem o poder de construir ainda bons capítulos em sua história.
A década de 80 foi riquíssima para a história das escolas de samba. O país passava por uma grande metamorfose: a abertura política deu asas para que vôos mais altos fossem alcançados. Foi uma época de enredos que fizeram história e de sambas que clamavam por transformações por um Brasil melhor. Foram tantas emoções que passaram na avenida que fica impossível relatar todos os desbundes que marcaram uma fase de ouro nos desfiles das escolas de samba.
Hoje lembramos com muito carinho dos carnavais da década de 80. Porém é interessante constatar a existência, na época, de muitas críticas a este carnaval que hoje recordamos com saudade. Quem não se lembra do grande enredo de 1990 da São Clemente - "E o samba sambou" - que cantava "a saudade dos grandes carnavais" e fazia uma grande crítica à comercialização que vinha ganhando espaço nas agremiações? Pensam que parou por aí? Não. A Unidos da Ponte em 1987 com o seu enredo "G.R.E.S SAUDADE" cantou a: "Saudade, lembrança e herança dos antigos carnavais." O passado que queremos hoje é esse que foi alvo de tantas críticas dos sambistas daquele tempo?
O tema fica mais interessante quando lemos nos jornais antigos que a saudade cantada na década de 80 já era alvo de críticas nas décadas de 60 e 70. As constantes inovações trazidas pelas escolas de samba foram sempre recebidas com muitas dúvidas pelos sambistas. O bicho papão chamado Beija Flor acalorou os debates na década de 70 sobre os rumos das escolas de samba. O crescimento do número de componentes nas agremiações e os sambas que vinham perdendo sua verdadeira essência também foram assuntos bastante comentados pelos analistas de carnaval.
Em 1982 o Império Serrano apresentou a crítica mais contundente com relação aos rumos do carnaval. Com um samba enredo histórico a escola da Serrinha foi implacável ao questionar as super escolas de samba S.A que com suas super alegorias escondiam cada vez mais muita gente bamba. O desfile da verde e branco foi um marco na história das escolas de samba. Inegavelmente fez muita gente começar a refletir sobre os novos caminhos que estavam sendo traçados pelas agremiações. Talvez hoje seja impensável fazermos qualquer crítica mais contundente aos desfiles dessa época. Porém é importante entendermos que não existe um modelo engessado na preparação de um desfile de escola de samba. As inovações estarão sempre sendo buscadas. O fato é que cada sambista vai ter seu modelo ideal de desfile. Por isso é tão difícil chegarmos a um consenso.
Há inúmeros exemplos na história do nosso carnaval de críticas contundentes aos novos modelos de desfiles adotados. As novidades nem sempre são bem recebidas pelos sambistas. Por isso que me pergunto: Que passado nós queremos? Talvez para um jovem de 30 anos a década de 80 seja a dos sonhos. Para um sambista de 50 anos a década de 70 é àquela da consagração e para os que já estão na velha guarda carnaval bom é àquele anterior aos anos 60. Cada um tem seu ideal de carnaval. Possivelmente daqui a 20 anos os adolescentes de hoje vão lembrar com muita saudade dos sambas da Vila e da Portela de 2012 e clamarão: "Carnaval bom é o do início do século. Não se faz mais sambas como antigamente" E a pergunta que fica é: Estarão eles errados?

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