segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Portela faz desfile à altura de sua história e levanta a Sapucaí





A Portela precisava de um desfile como esse. O Carnaval carioca necessitava de uma apresentação tão emocionante como essa. Tecnicamente, talvez não tenha sido um show. Houve erros, sim, como falhas na iluminação e alegorias de desenvolvimento somente regular a partir do terceiro carro. Mas isso ficou em segundo plano se comparado com a euforia que o animado samba-enredo causou em todo o Sambódromo e a comoção dos componentes e torcedores após a lavagem que a Azul e Branco promoveu na MarqUês de Sapucaí.



O portelense está de alma lavada, literalmente. A Águia de Oswaldo Cruz e Madureira voou rasante pela Sapucaí neste domingo de Carnaval. Abordando o enredo "Bahia: é o povo na rua cantando... É feito uma reza, um ritual", a Portela levantou a Sapucaí desde o setor com seus três refrões - especialmente o principal, onde Madureira sobe o pelô para se render à batida do tambor e ao toque do Olodum.



A bateria do mestre Nilo Sérgio fez com que toda a empolgação fosse multiplicada. Com bossas criativas e dando um toque afro à apresentação, os ritmistas portelenses arrancaram aplausos em suas apresentações próximas às cabines dos jurados - tanto dos mesmos como também do público. Com isso, a evolução da escola não poderia deixar de ser perfeita. O sorriso e o canto forte dos componentes foram a principal marca do desfile - exemplificada pela última ala, com integrantes da torcida Guerreiros da Águia, pioneira no Sambódromo.

Visualmente, a Portela chamou a atenção especialmente na primeira metade da apresentação. Com um tripé que trazia Paulinho da Portela e Marisa Monte, além de sua imponente águia dourada se movimentava e soltava o seu tradicional ruído, a escola apresentou um abre-alas iluminado, com tons de branco e dourado e comandado por baianas que distribuíam fitinhas do Senhor do Bonfim para os espectadores. O segundo carro foi uma homenagem à "Deusa das Águas" e, além de muito bonito, se destacou por trazer a água para a Avenida e dar um banho em quem se encontrava por perto.

Posteriormente, vieram as alegorias "a casa do raio e do vento", "o canto da cidade" e "tudo é divino maravilhoso", que não repetiram o impacto. O sexto carro, em homenagem à festa de São João, apesar de bonito, teve problemas de iluminação. E o último, que trazia baluartes da escola sendo abençoados pelos orixás e Vanessa da Mata como destaque, também não brilhou muito. As fantasias foram de bom gosto, algumas luxuosas, outras simples, porém todas corretas.



Confira a análise do desfile cabine por cabine:

Cabine 1 - A comissão de frente empolgou o público. Ela consistia em um grupo de baianas caracterizadas, interagindo com um tripé que representava uma espécie de templo. Elas entravam neste elemento cenógrafico e saíam totalmente transformadas em guerreiras africanas, que usavam roupas coloridas e faziam movimentos fortes e imponentes. O ator Milton Gonçalves, babalorixá, foi um dos comandantes do "ritual" que abriu caminho para a escola passar.

Depois da comissão, vieram Rogerinho e Lucinha Nobre, que dispensam apresentações. A dupla deu um verdadeiro show em frente aos jurados. Desenvoltura, elegância, sutileza, irreverência, uma bela fantasia, coreografia bem desenvolvida e até mesmo um ou outro passinho de capoeira marcaram a performance da dupla, também muito aplaudida por torcedores e jurados.

Entre as alegorias, a que mais chamou a atenção foi o carro dois, com efeitos aquáticos. As baianas que passavam ao lado do Carro Abre-Alas, jogando fitinhas do Bonfim, também levantaram a plateia.

A bateria fez bossas e coreografias em frente à cabine, fazendo com que jurados e público aplaudissem o espetáculo de pé. A evolução foi tranquila e o samba-enredo cantado a plenos pulmões. Um início arrebatador.


Cabine 2 - A comissão de frente fez uma bonita apresentação para os jurados do setor. O ator Milton Gonçalves participou da apresentação, mas de forma bem discreta.

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira tiveram uma performance impecável. A coreografia foi tão bem executada que o julgador do quesito se levantou para aplaudir os inúmeros giros de Lucinha e a bela dança de Rogerinho.

As alegorias, apesar da fácil leitura, tinha problemas com a iluminação em três delas, que passaram totalmente apagadas. Problemas também puderam ser vistos em algumas fantasias, que deixaram pedaços no chão em sua passagem diante da cabine.

A bateria do mestre Nilo Sérgio não parou em frente ao módulo, mas executou, muito bem, uma de suas bossas.

A evolução da escola começou muito bem diante da segunda cabine. No entanto, na segunda metade do desfile, o ritmo da passagem se alterou. Na harmonia, um canto muito forte, principalmente na primeira metade da escola, caindo de produção no fim, onde a maioria dos componentes só cantavam mesmo o refrão do samba.



Cabine 3 - Um "intruso" apareceu na apresentação da comissão de frente. No momento em que os dançarinos chegaram diante da cabine, o prefeito Eduardo Paes foi no meio da apresentação apenas para reverenciar o ator Milton Gonçalves. No entanto, a coreografia foi bem executada e a manobra de troca de roupas usando uma pequena alegoria foi bastante interessante.

Assim como no setor anterior, Lucinha Nobre e Rogerinho deram um show. Além da dança tradicional, o casal apresentou uma bela coreografia teatralizada.

No abre-alas, destaque para os componentes que distribuíam fitinhas do Senhor do Bonfim para o público das frisas. A alegria e emoção estava estambada nos componentes da escola. Alguns, inclusive, passavam pela cabine chorando de emoção.

Nas alegorias, problemas no quarto carro, onde vinha a cantora Daniela Mercury, que tinha uma escultura inclinada pra esquerda, e no sexto, que passou no módulo totalmente apagado. Quanto às fantasias, erros no acabamento dos esplendores da ala que vinha à frente da quinta alegoria e na segunda ala seguinte ao mesmo carro, que teve pedaços se soltando.

A bateria da escola parou diante da cabine e executou uma bossa que levou o público de arquibancadas e frisas próximas ao delírio. Outra observação: a ala atrás da bateria, que tinha outro nome, possuía fantasia idêntica a dos ritmistas.

Uma boa evolução pode ser vista. Sem buracos e em um bom ritmo na passagem pelo módulo, os componentes da escola passaram cantando bastante o samba.

Cabine 4 - Se o começo da escola foi empolgante, o fim teve sabor de "quero mais". Mesmo com o tempo de desfile se esgotando, os componentes mantiveram a alegria, o sorriso no rosto e o canto forte.

A bateria, novamente, deu show em frente à cabine de jurados e fez com que os torcedores fossem ao delírio.

Rogerinho e Lucinha, novamente, fizeram apresentação perfeita e a julgadora sorriu, aplaudiu de pé e comentou "Muito bom, muito bom".

Mas as alegorias acabaram deixando a desejar. O quarto e o quinto carros tiveram problemas em suas iluminações. O sexto veio totalmente apagado - além de trazer uma escultura com falhas de acabamento. Apesar disso, ficou a certeza do portelense de que a escola fez um bom desfile, não cometeu deslizes vistos em carnavais recentes e fez jus à tradição que tem no carnaval carioca.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PESQUISAR