O samba foi cantado a plenos pulmões pelos desfilantes, quase escafandristas de um grande aquário que se tornou a Sapucaí. A azul-e-branco da Baixada obteve 211 pontos e fez com que a escola ficasse com o vice-campeonato do grupo Especial. Um desfile delirante e (a)temporal para ficar na memória do Carnaval Carioca. Uma inundação de garra e samba pelas canelas. A chuva lavou a alma da comunidade de Nilópolis. A Beija-Flor sobrevoou a passarela debaixo d’água.
Naquela noite um temporal assolou a segunda escola a desfilar. Lembro-me da minha tia querendo ir embora. No alto da minha (in)significância de adolescente falei que não iríamos, teríamos que esperar a próxima escola a desfilar: a minha União da Ilha do Governador do irretocável Arlindo Rodrigues! E não é que só choveu (e como choveu!) durante o desfile da Beija-Flor?
Componentes misturaram à chuva o suor. Fantasias pesadas e encharcadas dificultaram o desfilante de sambar. A chuva tornou a peleja mais difícil, quase sem condição para uma boa atuação. O campo de jogo, de ensopado e alagado, tornou-se um reservatório de euforia e canto forte. Explosão de alegria. A água até a altura dos joelhos impulsionou a enxurrada de emoção e garra dos componentes nilopolitanos. Que beleza a Beija-Flor!
Era uma profusão de cores sensibilizando o visual dos torcedores e sacudindo a galera. As bandeiras tremularam nas arquibancadas. Um golaço de felicidade!
A chuva típica de verão parou completamente quando a terceira escola entrou na avenida. "Assombrações" era o enredo da Ilha. Seria coincidência? Sim, a Beija-Flor tinha que desfilar sob um dilúvio e assombrar a Sapucaí. Noé, na personificação do mundo do samba, aplaudiu de pé. Eis a invenção do futebol, um sonho triunfal do artista maranhense. J30, mais uma vez, deixava a sua marca nos desfiles das Escolas de Samba. Dez, nota dez!
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