sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Argumento...



Hoje é dois de dezembro, dia pra ser comemorado, cultuado, dia pra sambar, valorizar o ritmo e a dança tão importantes para todos nós brasileiros. Samba é instituição nacional, corre em nossas veias, às vezes sangra a herança das senzalas, por vezes clama liberdade de expressão. É pensando no samba que tantas provas de amor me deu que resolvi refletir. Por muito tempo me julguei livre de qualquer tipo de preconceito, talvez por inocência, quem sabe por pretensão, não sei, mas na semana passada no ensaio técnico da Renascer de Jacarepaguá não tive como resistir, fui preconceituoso, e mais, me vi radical neste propósito, era pra me sentir envergonhado, mas como se o que vinha a minha mente naquele momento era o extrato da canção do mestre Paulinho da Viola: Mas não me altere o samba tanto assim...

Eu sou de um tempo em que, por exemplo, a Portela tinha Rainha e Madrinha de bateria e víamos Nilce Fran e Edicléia das Neves competindo em pé de igualdade, perdoem o trocadilho, com o talento dos seus pés na arte de dançar o samba sem qualquer favor ou forçar a barra. Hoje em dia virou status ser rainha, existem vários fatores que interessam mais que o samba no pé na hora da escolha, pelo menos é o que parece ser. Tá legal eu aceito o argumento... Que é importante trazer para escola alguém que tenha mídia, beleza, carisma entre tantos outros requisitos, porém por que não colocar a celebridade, ou o projeto de... em cima de um carro alegórico encenando, ilustrando e trazendo beleza a festa

Tudo parece uma grande farra, uma bolsa de valores ou de apostas de quem será a próxima aquisição, e o samba onde fica, será que o samba, sambou? Como profetizou a São Clemente na folia de 1990. E continuam criando cargos de musas, destaques de chão, madrinha de tudo quanto é ala, mas, por favor, na ala de passistas não mexam, isso não! Pois daí vem o meu preconceito.

Semana passada estava eu no ensaio supracitado quando percebi que a responsável pela ala das passistas, a Rose, sambista de verdade, colocava algumas novatas para testes e isso acho ser bastante prudente para que haja um determinado critério nas escolhas. Pois bem me parece uma candidata a passista que não tinha qualquer intimidade com o bailar do samba, mesmo sendo muito bonita... Neste exato momento me veio a pergunta: Quem foi que disse que ela sabe sambar? Preconceito meu, e antes que me apedrejem assumo meu sentimento, não é necessário saber sambar para desfilar, lógico que não, eu mesmo não sei...  Gostaria de dizer agora sem preconceito ou mania de passado... Mas não posso, tomara que a beldade não leve a mal, mas tenho certeza que ela ficaria melhor em qualquer outro setor, olha que a rapaziada está sentindo a falta de um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim!

O argumento do mestre portelense me auxilia nesta confissão: passista deve saber sambar!  Isto é básico. Por fim não quero dizer que a magia dos pés sambando esteja condenada, claro que não!  Percebo que diversas escolas vêm fazendo grandes trabalhos, nesta área, de resgate e manutenção das alas de passistas e acho que o espaço e a importância destas devem ser sagrados.  Perdoem meu preconceito... Mas quando os pés deslizam e a cintura parece ser de mola é algo tão fascinante que me vejo radical em defesa da arte. Samba é democracia, como também continuidade, então vamos combinar: continuamos fortes no propósito de embalar os cordões por estas avenidas de todo Brasil e vamos admirar e preservar a quem não dança, levita sobre o chão... Salve o Samba nosso de cada dia, salve os passistas, sambistas, amantes de tão nobre arte popular, axé.

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