O grande líder de Palmares provocou uma mudança na galeria dos enredos em louvor a figuras de nossa história, esse quilombo tem magia... Sergio Cabral salienta na obra "As Escola de Samba do Rio de Janeiro" que o Salgueiro em 1955 já havia fugido dos padrões comuns ao Carnaval, quando homenageou o prefeito Pedro Ernesto, que era considerado pelo regime da época como subversivo. Pois bem, esse Salgueiro de vanguarda e de abordagem crítica, Salgueiro de resistência cultural ao trazer acadêmicos para seus quadros e recuperar passagens históricas esquecidas dos livros didáticos, é a mesma Academia que há alguns anos retoma o seu destino e nos brinda com enredos dignos de suas origens.
E por falar em origens, o cordel, fiel errante da literatura popular, é mais um exemplo da resistência da manifestação da gente mais humilde, seus causos e seus heróis ganham a eternidade das letras desde a França dos doze pares até nossos dias, passando por personagens qual Pedro Malazarte, lendas como a do Pavão misterioso e as andanças de Lampião e seu bando pelo sertão. Sobram motivos, faltam adjetivos para se emocionar com o prenuncio de um casamento perfeito quando a cultura do cordel cair no samba do Salgueiro.
Confesso que não sou nenhum admirador de sinopses versadas, posto que leva muitos ao velho copiou/colou de frases feitas em seus sambas, como também impede um pouco a criação ou a procura de versos e rimas pertinentes ao enredo, mas posso dizer que esta vem por demais fazer jus ao cordel, é simples, poética, leve e inteligente, sem nada demais ou algo de menos.
Neste processo de reencontro da escola com a sua essência, deve se salientar o papel de destaque de dois setores que parecem trabalhar em perene comunhão: o departamento cultural que sem esquecer a modernidade, além do seu tempo, que a escola carrega há muito, procura soluções de enredos peculiares, atuais e que aliam conteúdo com o gosto popular; e o gênio da dupla de carnavalescos Renato e Márcia Lage, artistas na acepção da palavra. Confesso que poderia fazer vários textos em relação aos enredos e as inovações que os dois já apresentaram ao grande público carnavalesco, acho que tudo que for falado a respeito é muito pouco em virtude de tamanho talento.
É oportuno também entender que, desde 2007 com Candaces, a escola vem esforçando-se muito para fazer a desmistificação da síndrome do "explode coração na maior felicidade..." que consumiu anos e anos da poesia salgueirense. Esperamos muito a publicação deste Cordel Branco e Encarnado no Carnaval de 2012, que com a devida licença poética poderia chamar-se: A LUTA DE RESISTÊNCIA ALVO VERMELHA CONTRA O MONSTRO ENCARDIDO DA ANTICULTURA. Parabéns a toda escola pelo momento mágico e as possibilidades que se apresentam em trovas e versos.
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