quarta-feira, 18 de maio de 2011

Rosa Magalhães e Renato Lage debatem Carnaval no CCBB



Foto: André Mariz - SRZDO estilo hi-tech e futurista é marca registrada de Renato Lage, quatro vezes campeão no Sambódromo. Já Rosa Magalhães, maior campeã do Carnaval, com cinco títulos. dá um tom mais luxuoso e detalhista aos seus enredos. Conceitos diferentes que deram certo e consagraram os dois carnavalescos. Na última terca-feira, dia 17 de maio, ambos estiveram presentes no Centro Cultural Banco do Brasil para discutir a estética do Carnaval atual. O SRZD-Carnaval participou do evento, primeira parte do seminário "Carnaval, que festa é essa?", promovido pelo jornalista Aydano André Motta, que irá reunir várias estrelas do Carnaval para falar sobre diversas vertentes da maior festa do planeta.

O primeiro debate, intitulado "Com que roupa?", propôs uma análise sobre o fator visual dos desfiles, as mudanças da plástica ao longo dos anos e o que esperar no futuro. Rosa Magalhães, carnavalesca da Vila Isabel, e Renato Lage, carnavalesco do Salgueiro, expuseram suas visões e opiniões sobre o espetáculo para a plateia que lotou o Auditório I do CCBB. O debate teve mediação do pesquisador e escritor Felipe Ferreira e contou com um show de abertura do Grupo Coisa & Tal, que cantou diversos sambas conhecidos e sucessos da MPB. Estiveram presentes diversas personalidades do Carnaval, como a ex-carnavalesca Maria Augusta, o comentarista da Rede Globo Luis Roberto e o presidente da Liesa Jorge Castanheira.

O primeiro tema debatido foi o próprio trabalho do carnavalesco e sua relação com a escola. Tanto Rosa quanto Renato já passaram longos períodos em algumas agremiações e essa extensa associação entre o carnavalesco e a escola foi questionada. Rosa disse que uma parceria duradoura é benéfica. "É legal porque você pega o jeito e se sente confortável para trabalhar", disse ela. Renato seguiu a mesma linha de pensamento: "É bom porque você se sente mais à vontade e pode dar continuidade à sua linha de trabalho". Os dois também disseram não acreditar que o trabalho possa ficar repetitivo, pois o Carnaval é feito de momentos, baseado no "agora". Bem humorada, Rosa contou que quando lhe perguntam o que há de novo em seu barracão ela responde que "tudo é novo, a tinta, os pneus o isopor são todos novos".

Cidade do Samba proporciona mais estrutura e menos privacidade

Foto: André MarizA Cidade do Samba também entrou em pauta e os dois carnavalescos se mostraram satisfeitos com a estrutura do local, mas fizeram algumas ressalvas. Renato elogiou o espaço mas criticou a proximidade entre os barracões, pois todas as escolas podem ver o que as outras estão fazendo: "Perde a graça". Rosa ressaltou que pelo menos dessa forma as escolas podem se ajudar mais facilmente, já que frequentemente há troca de materiais entre elas. Também mostrou-se feliz com a maior gama de recursos à disposição. "Os barracões são maiores e mais equipados. Estou equipadíssima!"

A passarela que circunda a Cidade do Samba e proporciona aos visitantes uma vista panorâmica interna dos barracões também incomoda. Renato alegou que "a passarela foi feita pros turistas mas nunca vejo turistas lá", sendo o espaço apenas acessado por integrantes de outras escolas e que divulgam previamente o que está sendo preparado. Mas tanto Rosa quanto Renato afirmaram que essa interferência não afeta o desenvolvimento do trabalho.

Hoje em dia com cada vez mais frequencia são formadas comissões de Carnaval para o planejamento dos desfiles, algo divergente de Renato e Rosa, que possuem estilo e identidade próprios e bem demarcados. Indagada sobre a questão, Rosa afirmou que "nada é impossível, apesar de ser complicado". Renato também não disse ser contra a ideia mas ressaltou que "é preciso cuidado para não perder a mão", e que gosta de tar o tom do trabalho. Ambos concordaram que antigamente era mais simples exercer a função devido ao amadorismo da festa, que possibilitava uma resolução mais fácil e prática para o desenvolvimento dos segmentos do desfile.

Carnavalescos defendem fantasias mais leves, que valorizam o componente

Foto: André Mariz - SRZDAs fantasias foram o assunto seguinte, um elemento importante, que vale nota e influencia outros quesitos, como evolução e conjunto, já que o bom desempenho do componente depende de uma fantasia confortável. Apesar do crescimento das fantasias em comparação aos desfiles do passado, Rosa disse acreditar que "elas tem diminuído de novo. O componente tem que se divertir". Renato também defendeu a ideia do desfilante mais solto. "É preciso valorizar o componente que está brincando e evoluindo. Às vezes as roupas dos destaques das alegorias são tão grandes que tapam parte dos carros." Ele também destacou que a leitura das fantasias tem que ser facilitada.

As baianas, cuja passagem é um dos momentos mais marcante dos desfiles, apresentam fantasias cada vez menos caracterizadas como baiana e mais elaboradas e pesadas. "Hoje em dia é preciso colocar a fantasia da baiana dentro do tema. A única coisa que restou da baiana original foi a saia", disse Renato. Ambos mostraram-se preocupados com a questão, embora não encontrem soluções definitivas. "São senhoras, é preciso respeito. A fantasia não pode ser pesada, mas há o enredo, a necessidade do espetáculo. É complexo", afirmou Rosa. Renato contou que todo ano as baianas reclamam do peso. "Desenhamos a fantasia para ser o mais leve possível mas na hora da confecção acaba saindo diferente", completou.

"Já teve alegoria humana antes do Paulo", disse Rosa Magalhães

Foto: André MarizCom relação às alegorias, os dois carnavalescos atribuem ao maior espaço do qual dispõem o motivo para o gradativo crescimento dos carros. "A porta é muito melhor, agora sai tudo", contou Rosa, referindo-se à saída da Cidade do Samba, que possibilita a movimentação de grandes alegorias. Renato concordou que o espaço é favorável mas destacou que é preciso infraestrutura. Ele lembrou dos problemas enfrentados pelo Salgueiro no último desfile, quando a maioria dos carros da escola teve dificuldade para passar na Sapucaí devido ao seu tamanho. "Contratamos 40 pessoas para auxiliar na desmontagem dos carros na dispersão. No dia do desfile havia apenas 15." No entanto, ambos concordaram que o crescimento exagerado é prejudicial e citaram como exemplo o Carnaval de São Paulo, que ficou feio em função do gigantismo das alegorias.

As alegorias humanas, típicas do carnavalesco Paulo Barros, não são vistas como revolucionárias nem por Renato nem por Rosa. A carnavalesca da Vila Isabel contou que "já teve algoria humana antes do Paulo, assim como também já foi proibido haver gente nas alegorias". Segundo ela, a questão "é elástica", variando com o passar do tempo. Renato disse não saber se o estilo de Paulo Barros irá perdurar e citou Joaosinho Trinta como grande revolucionário dos desfiles.

Renato elogia interação do debate e Rosa avisa: "Ano que vem vou ganhar!"

Foto: André Mariz - SRZDAo final do evento, o mediador Felipe Ferreira pede para que um carnavalesco comente o trabalho do outro. Rosa elogiou o colega e afirmou que " Renato podia dar uma piorada", para dar chance aos demais. O carnavalesco do Salgueiro também teceu diversos elogios: "O trabalho da Rosa é reconhecido e respeitado."

Em suas considerações finais, ambos destacaram a importância do evento e do interesse do público pela festa. O auditório do CCBB não comportou todos os presentes, sendo necessário um telão do lado de fora para que aqueles que não conseguiram entrar pudessem acompanhar. Renato disse ser "muito bom estar entre pessoas que gostam de carnaval. É uma troca de relação, de consideração". Rosa falou da importância do espetáculo e fez previsões sobre o resultado do próximo desfile. "Espero que continuem gostando de Carnaval mesmo que façamos bobagem, porque a festa está acima de nós. E se divirtam ano que vem quando eu vou ganhar!"

O próximo debate será no dia 21 de junho e contará com a presença de Monarco, ilustre integrante da Velha Guarda da Portela, e do compositor André Diniz, 12 vezes vencedor da disputa de samba-enredo da Vila Isabel, para discutir sobre a evolução do samba-enredo e as mudanças que a trilha sonora dos desfiles sofreu com o passar dos anos.

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