Tinha o JCN um texto comum saudando a nossa querida Portela pela passagem do seu aniversário ocorrido no dia 11 de abril do mês passado. A Águia de Osvaldo Cruz emplacou á última tigre (88 anos para quem não sabe, é do jogo do jaburu). Guardei essa matéria e a publico agora mesmo em meio uma crise em sua diretoria. Afinal, a Portela é uma das rainhas do samba brasileiro.
A Portela foi tão forte, altaneira, quase imbatível, que se dava ao luxo de abiscoitar títulos em cima de títulos. Na década de 40 ganhou, já sem o saudoso Paulo da Portela, conquistou sete campeonatos seguidos sem dar qualquer tipo de chance para as rivais da época, inclusive a já poderosa Mangueira.
Talentos brotavam a cada instante em sua quadra e a escola mantinha uma tradição de conquistas a valer. Esse apogeu portelense só sofreu um pequeno abalo com a fundação em 23 de março de 1947 da gloriosa Império Serrano. Realmente a Serrinha sacudiu o mundo do samba e acabou dando um susto na Portela e nas demais.
Já nessa época um homem se impunha no comando da Portela. Era cidadão Natalino José do Nascimento ou simplesmente Natal da Portela. Sem jamais ter tocado qualquer tipo de instrumento ou feito ou cantado um samba, Natal era a alma viva da Portela. Nada se fazia na escola, sem que o Velho Maneta desse a opinião definitiva.
Um dos que sofria constantemente com as implicâncias do seu Natal era o hoje, velhote oitentão Valdir de Souza, o popular Valdir 59, na época notável Diretor de Conjunto e Harmonia da Portela. Pois veio o Carnaval de 1960 e a Portela iria apresentar o enredo "Rio, Capital Eterna", numa alusão á mudança da capital que logo depois se daria para Brasília.
Pois bem o Valdir 59 querendo ficar numa boa com o Natal insistia sempre para ele fosse participar da apuração desfile daquele ano. "Natal vai lá. E o último carnaval do Rio como capital da República e eles estão doidos para roubar a nossa, escola", bradava dizia o 59 a todo instante. De tanto insistir, Natal acabou concordando ir à apuração. Mas, foi logo avisando: "Se sentir que vai haver sacanagem contra a Portela melo tudo e não deixo a apuração acabar".
E lá se foi o Velho Maneta cercado por sua patota portelense. O local da apuração era na Rua do México. Onde funcionava o Departamento de Certames, órgão encarregado de organizar os desfiles. A RIOTUR da época.
O ambiente estava mais do carregado do que nunca, porque era tido como certo que o Salgueiro, com o enredo "Quilombo do Palmares,", uma grande inovação na época, em termos de fantasias e adereços e alegorias, seria o campeão. De fato isso aconteceu. Só que na contagem dos impedimentos do regulamento, a escola tijucana perdeu vários pontos.
Foi o bastante para tempo fechar no local. Nélson de Andrade, dirigente do Salgueiro, ameaçava céu e terra: "Se o Salgueiro não for declarado campeão, entro na Justiça e vou anular o carnaval". O fato que ninguém desejava era uma anulação do Carnaval, o último do Rio como capital.
O bafafá continua mais caliente do que nunca. Foi que surgiu o então diretor Miécimo Tati, se não estou desclareado da memória, com a solução mágica: as escolas de samba colocadas até a quinta colocação seriam declaradas campeãs e no domingo seguinte desfilariam para o público em Madureira
Até o seu Natal da Portela, antes muito querelante, de pronto concordou. Foi uma surpresa geral. Seu Natal ficar quietinho e nada mais reclamar. Os próprios portelenses cobraram uma atitude mais enérgica do seu grande comandante - em - chefe. Mas, seu Natal permanecia sem se manifestar.
Feitos e assinados os acordos e acertos foram declaradas campeãs do Carnaval de 1960, o último do Rio de Janeiro como Capital Federal, as seguintes escolas: Unidos da Capela (Produtos e Costumes do Brasil), Império Serrano (Movimentos Revolucionários e a Inconfidência do Brasil), Mangueira (Glória ao Samba), Portela (Rio, Capital Eterna e Salgueiro (Quilombo dos Palmares).
Como tudo acabou em paz, todos saíram em grandes comemorações. Foi ai que alguém provocou o Seu Natal da Portela: "Como é Natal você não comemora o titulo". A resposta veio ao pé da letra: "Os otários estão comemorando um título. Vou para Madureira sim, comemorar mais um tetra campeonato da Portela. Ou esqueceram que ganhamos 57, 58, 59?
De fato, a Portela havia conquistado o tri campeonato em tais anos, graças, segundo, se dizia na época, com a substancial ajuda do então deputado Pedro Faria, um ferrenho portelense e morador no bom subúrbio de Osvaldo Cruz,
O Seu Natal esperou pacientemente para tirar um grande sarro com as demais escolas de samba. Para a Portela ser tetra ele foi até capaz de ficar em silêncio por várias horas.
Nunca existiu um dirigente no samba com o seu quilate.
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