A principal delas, sem dúvida, é a questão da segurança. À tragédia do ano passado têm-se sucedido inúmeros incidentes de menor monta, todos relacionados à precariedade de condições de segurança contra incêndios. Para quem, como eu, já "habitou" um dos barracões da Cidade, tais ocorrências foram uma desagradável surpresa, porque creio que as escolas têm o compromisso de contratar empresas de segurança contra incêndios, submeter-se a vistorias periódicas dos bombeiros e manter em regime de plantão brigadistas treinados.
Para uma escola que sobrevive e faz seu carnaval apenas com a subvenção, tal despesa é considerável, pesa muito no orçamento. Mas sempre a encaramos como um investimento fundamental, mormente porque no ano de 2008, no Grupo de Acesso, em barracão emprestado, quase vimos nossos sonhos serem devorados pelas chamas na véspera do desfile: o carro que representava Carmen Miranda escapou, graças ao heroísmo dos trabalhadores do barracão, de virar cinzas em segundos.
Por isso sempre acreditamos que os gastos com segurança contra incêndio eram sagrados. Hoje se constata com surpresa que eles não são capazes de evitar catástrofes como as do início deste ano. E se em nossos antigos barracões as instalações elétricas eram precárias, com "gatos" e gambiarras, hoje um quadro melhor não é ainda totalmente tranquilizador.
A Cidade do Samba tem outros problemas, menos graves, como a falta de privacidade e a impossibilidade de contar com o fator surpresa no desfile, o que desmerece um pouco o trabalho dos carnavalescos. Mas, na minha opinião, mais grave do que isso é ela já ter começado garantindo a alguns privilégios de localização e até de planta. Os barracões não são iguais, não foram feitos iguais. Longe disso. As escolas, que deveriam ser iguais em direitos e deveres perante seu órgão representativo, também não o são. A gente foi aprendendo a duras penas a lição de que "umas são mais iguais que as outras", e o próprio ranking que é usado como parâmetro obedece a critérios definidos bem a propósito e às vezes casuísticos.
Outra crítica frequente é com relação à sua frieza, que leva os sambistas a se reunirem em seu entorno para poder beber, comer algo mais a seu gosto, conversar, cantar samba e até batucar. Porque dentro de seus muros o acesso é complicado e o comportamento esperado é bem outro. Nos moldes atuais, aliás, nem interessa tanto assim a quem gosta de informalidade e alegria estar lá dentro.
Bem outro era o nosso sonho, o ideal de um lugar de convivência. Porque não há samba sem convivência, sem troca, sem conversa, sem cerveja. E acho que até o turista ficaria um pouco mais feliz se pudesse encontrar algo menos esterilizado, menos arrumado, mais real. Apesar de tudo isso, é a nossa Cidade e querermos que ela seja melhor, mais acessível e calorosa, não quer dizer que não a amemos e não nos orgulhemos dela.
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