CARTA ABERTA A LAÍLA E PAULO BARROS
Caros amigos, pois é assim que trato aqueles que comungam desta religião a qual pertenço chamada Samba.
Vim, por intermédio desta carta, relatar a vocês o que senti e sinto ao ver os acontecimentos consequentes da apuração dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro neste ano de 2011. Eu, como mangueirense, portanto, antítese dessas duas teses distintas que defendem, me considero à vontade para comentar sobre assunto tão delicado, até porque este foi feito publico, e também por não ter embutido em minhas palavras nenhuma afeição mais intensa a nenhuma das agremiações que os senhores fazem parte, a não ser a natural paixão pelas escolas de samba em sua essência, acima das bandeiras.
Começo falando ao mais novo, subvertendo um pouco o que seria a ordem natural, até porque subverter o que parece consolidado é uma das maiores qualidade deste, que hoje sim, já é ícone no panteão dos grandes artistas do carnaval carioca. Caro Paulo Barros, quero de antemão parabeniza-lo pelo desfile da sua Unidos da Tijuca, que mais uma vez apostou numa maneira pouco usual de fazer carnaval e, na minha mais modesta opinião, você e a Tijuca fazem parte de uma simbiose de sucesso, que muito dificilmente se repetirá em qualquer outro lugar.
Pois bem. Ao contrario de muitos, sou um dos entusiastas de seu estilo de desfile, até por considerar o desfile das escolas de samba espaço para diversos tipos de manifestações artísticas, principalmente no que tange à plástica, opinião esta que tem provas na própria historia dos desfiles. E mais, tenho pra mim que vários estilos podem ser usados pelas diversas escolas, cada qual à sua feição. Porém, certas coisas ainda me intrigam nesse formato inovador de se montar, conceber e executar seus desfiles.
Uma delas é o que diz respeito à evolução. Um quesito que tem relação com o chão, que eu me encantei demais com a própria Unidos da Tijuca dos anos de 2004 e 2005, onde a maior parte das alas estavam livres das cangalhas, que enchem os olhos dos carnavalescos, mas agridem os ombros dos componentes, e, afinal, poderiam evoluir livremente com alegria. Em uma recente entrevista, lhe ouvi dizer que seu interesse maior é mexer com o publico. E eu acho que parte de seu publico, e talvez o mais fiel deles, está em quem veste as fantasias. E que quer externar a felicidade de estar desfilando com uma fantasia da “grife” – no bom sentido – Unidos da Tijuca. Mas o excesso de coreografias no chão da escola, o anseio pela milimetria dos movimentos as alas não deixa. Parafraseando o belíssimo e profético samba do Império Serrano de 1982, me vem a mente, ao ver tamanho numero de coreografias desfilando pelo chão da Sapucai, o temor de estarmos escondendo muito mais que gente bamba, mas escondendo o que fez e faz o carnaval. Ser uma opera a ceu aberto, sem ensaios. Uma Opera espontânea, e maravilhosa por causa disso.
Quanto as alegorias, nenhuma objeção. Acho que é uma marca registrada, é um sopro de criatividade dentro do que já parecia consolidado. Houve quem assistisse desfiles para ver as peripercias de Fernando Pinto, os luxuosisimos devaneios de João Jorge Trinta, e até mesmo as explosões high-tech do contemporâneo Renato Lage. Hoje grande parte do publico consumidor de carnaval quer saber mesmo o que o Paulo Barros vai aprontar. Trata-se de um formato do qual ainda hão de critica-lo demais, que ainda hão de lhe acusarem de diversas formas, mas a consciência de que seu desfile é a vedete de todo um espetáculo, está tanto nos elogios quanto nas criticas. Mas há de se fazer o equilíbrio. O espetáculo e faz também com o povo. E o povo ainda é indomável.
Partirei agora ao mais velho, que tem a experiência de ter visto desfiles dos mais diversos estilos, das mais diversas origens, e que tomou um deles para si para tornar uma das escolas de maior sucesso, no que tange a conquistas no carnaval carioca.
Pois bem, senhor Laila, que tem de mim profundo respeito por ser um multifaces do carnaval, ou como se diz popularmente, jogar nas onze, e por todas as conquistas que já angariou dentro do universo das escolas de samba. Mas... Me surpreendeu o comentário de que uma coirmã, porque sejamos claros, mesmo sem citar nomes, era escancarada a intenção, não fazia escola de samba e sua Beija-Flor sim. Se tomarmos como parâmetro o carnaval de 35 anos atrás, quem não fazia carnaval para a grande critica carnavalesca era a... Beija-Flor! Ousada, se pautando em fantasias de puro luxo e, para muitos, pouco samba no pé. Me lembra muito a critica que fora feita por você quanto ao formato de carnaval da Unidos da Tijuca.
Claro, isso caberá uma discussão que poderá perdurar anos. Até porque a Beija-Flor, mais brandamente, é verdade, sofre até hoje por isso, por subverter o tradicional, por dar dinamismo e importância sem igual ao visual da escola, em detrimento ao samba e às tradições (o que se constituiu em uma falácia, principalmente nesse atual período, pós-1998, quando a Beija adotou postura muito tradicional em vários aspectos de seus carnavais). E ver agora, uma pessoa como o senhor, que acompanhou com muita atenção a todas as mudanças ocorridas no mundo do carnaval, inclusive promovendo mais uma dentro da sua escola, ao retirar os costeiros, dando mais leveza as fantasias, um fato raro para a agremiação nilopolitana. Será que só há espaço para o estilo da Beija-Flor? Será que só esse formato que tem uma consolidação forjada em 35 anos é a melhor para todas as bandeiras? As respostas variam, depende ate mesmo do gosto pessoal de quem vê, ou quem participa.
Por exemplo. Eu não acho que um desfile com componentes marchando na avenida seja um desfile de escolas de samba. Eu não acho também que é a estética que faz uma agremiação. Não acho que os ensaios com direito a varetadas, pitos e expulsões da quadra sejam compatíveis com a alegria do carnaval.
Mas negar que tanto Beija-Flor quanto a Unidos da Tijuca sejam, e se dediquem como escolas de samba seria heresia das profundas. A despeito do que façam o deixem de fazer os senhores, hoje personagens principais desta carta, não vai alterar a condição das escolas as quais pertencem. Mesmo negando, Laila faz tanto espetáculo quanto Paulo Barros, cada qual à sua maneira, como julgam correto, e que as escolas acatam. Mas o nome “Escola de Samba” não pode ser pautado á pequenez de um estilo, mas sim à riqueza de uma essência.
E, claro, como bons sambistas que são, sambem muito!
Vim, por intermédio desta carta, relatar a vocês o que senti e sinto ao ver os acontecimentos consequentes da apuração dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro neste ano de 2011. Eu, como mangueirense, portanto, antítese dessas duas teses distintas que defendem, me considero à vontade para comentar sobre assunto tão delicado, até porque este foi feito publico, e também por não ter embutido em minhas palavras nenhuma afeição mais intensa a nenhuma das agremiações que os senhores fazem parte, a não ser a natural paixão pelas escolas de samba em sua essência, acima das bandeiras.
Começo falando ao mais novo, subvertendo um pouco o que seria a ordem natural, até porque subverter o que parece consolidado é uma das maiores qualidade deste, que hoje sim, já é ícone no panteão dos grandes artistas do carnaval carioca. Caro Paulo Barros, quero de antemão parabeniza-lo pelo desfile da sua Unidos da Tijuca, que mais uma vez apostou numa maneira pouco usual de fazer carnaval e, na minha mais modesta opinião, você e a Tijuca fazem parte de uma simbiose de sucesso, que muito dificilmente se repetirá em qualquer outro lugar.
Pois bem. Ao contrario de muitos, sou um dos entusiastas de seu estilo de desfile, até por considerar o desfile das escolas de samba espaço para diversos tipos de manifestações artísticas, principalmente no que tange à plástica, opinião esta que tem provas na própria historia dos desfiles. E mais, tenho pra mim que vários estilos podem ser usados pelas diversas escolas, cada qual à sua feição. Porém, certas coisas ainda me intrigam nesse formato inovador de se montar, conceber e executar seus desfiles.
Uma delas é o que diz respeito à evolução. Um quesito que tem relação com o chão, que eu me encantei demais com a própria Unidos da Tijuca dos anos de 2004 e 2005, onde a maior parte das alas estavam livres das cangalhas, que enchem os olhos dos carnavalescos, mas agridem os ombros dos componentes, e, afinal, poderiam evoluir livremente com alegria. Em uma recente entrevista, lhe ouvi dizer que seu interesse maior é mexer com o publico. E eu acho que parte de seu publico, e talvez o mais fiel deles, está em quem veste as fantasias. E que quer externar a felicidade de estar desfilando com uma fantasia da “grife” – no bom sentido – Unidos da Tijuca. Mas o excesso de coreografias no chão da escola, o anseio pela milimetria dos movimentos as alas não deixa. Parafraseando o belíssimo e profético samba do Império Serrano de 1982, me vem a mente, ao ver tamanho numero de coreografias desfilando pelo chão da Sapucai, o temor de estarmos escondendo muito mais que gente bamba, mas escondendo o que fez e faz o carnaval. Ser uma opera a ceu aberto, sem ensaios. Uma Opera espontânea, e maravilhosa por causa disso.
Quanto as alegorias, nenhuma objeção. Acho que é uma marca registrada, é um sopro de criatividade dentro do que já parecia consolidado. Houve quem assistisse desfiles para ver as peripercias de Fernando Pinto, os luxuosisimos devaneios de João Jorge Trinta, e até mesmo as explosões high-tech do contemporâneo Renato Lage. Hoje grande parte do publico consumidor de carnaval quer saber mesmo o que o Paulo Barros vai aprontar. Trata-se de um formato do qual ainda hão de critica-lo demais, que ainda hão de lhe acusarem de diversas formas, mas a consciência de que seu desfile é a vedete de todo um espetáculo, está tanto nos elogios quanto nas criticas. Mas há de se fazer o equilíbrio. O espetáculo e faz também com o povo. E o povo ainda é indomável.
Partirei agora ao mais velho, que tem a experiência de ter visto desfiles dos mais diversos estilos, das mais diversas origens, e que tomou um deles para si para tornar uma das escolas de maior sucesso, no que tange a conquistas no carnaval carioca.
Pois bem, senhor Laila, que tem de mim profundo respeito por ser um multifaces do carnaval, ou como se diz popularmente, jogar nas onze, e por todas as conquistas que já angariou dentro do universo das escolas de samba. Mas... Me surpreendeu o comentário de que uma coirmã, porque sejamos claros, mesmo sem citar nomes, era escancarada a intenção, não fazia escola de samba e sua Beija-Flor sim. Se tomarmos como parâmetro o carnaval de 35 anos atrás, quem não fazia carnaval para a grande critica carnavalesca era a... Beija-Flor! Ousada, se pautando em fantasias de puro luxo e, para muitos, pouco samba no pé. Me lembra muito a critica que fora feita por você quanto ao formato de carnaval da Unidos da Tijuca.
Claro, isso caberá uma discussão que poderá perdurar anos. Até porque a Beija-Flor, mais brandamente, é verdade, sofre até hoje por isso, por subverter o tradicional, por dar dinamismo e importância sem igual ao visual da escola, em detrimento ao samba e às tradições (o que se constituiu em uma falácia, principalmente nesse atual período, pós-1998, quando a Beija adotou postura muito tradicional em vários aspectos de seus carnavais). E ver agora, uma pessoa como o senhor, que acompanhou com muita atenção a todas as mudanças ocorridas no mundo do carnaval, inclusive promovendo mais uma dentro da sua escola, ao retirar os costeiros, dando mais leveza as fantasias, um fato raro para a agremiação nilopolitana. Será que só há espaço para o estilo da Beija-Flor? Será que só esse formato que tem uma consolidação forjada em 35 anos é a melhor para todas as bandeiras? As respostas variam, depende ate mesmo do gosto pessoal de quem vê, ou quem participa.
Por exemplo. Eu não acho que um desfile com componentes marchando na avenida seja um desfile de escolas de samba. Eu não acho também que é a estética que faz uma agremiação. Não acho que os ensaios com direito a varetadas, pitos e expulsões da quadra sejam compatíveis com a alegria do carnaval.
Mas negar que tanto Beija-Flor quanto a Unidos da Tijuca sejam, e se dediquem como escolas de samba seria heresia das profundas. A despeito do que façam o deixem de fazer os senhores, hoje personagens principais desta carta, não vai alterar a condição das escolas as quais pertencem. Mesmo negando, Laila faz tanto espetáculo quanto Paulo Barros, cada qual à sua maneira, como julgam correto, e que as escolas acatam. Mas o nome “Escola de Samba” não pode ser pautado á pequenez de um estilo, mas sim à riqueza de uma essência.
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