Em tempos de lançamento de CD e de discussão de sambas-enredo, em tempos de Zumbi e de consciência negra, nada mais oportuno que trazer ao debate o momento mais forte da temática da negritude no Carnaval, e um dos grandes momentos da história dos desfiles.
Refiro-me às comemorações do centenário da Lei Áurea, no Carnaval de 1988 quando algumas escolas aderiram ao tema proposto – 100 anos da abolição da escravatura.
A Vila Isabel daquele ano era presidida por uma mulher. Alta, loura, insinuante e de olhar soberano Maria Lúcia Caniné, a Ruça, era tudo que a escola precisava naquela hora. O enredo, concebido pela liderança maior da escola – Martinho da Vila –, encontrou um samba formidável, obra dos compositores Luiz Carlos da Vila, Jonas Rodrigues e Rodolfo de Sousa. Encantou a cidade e o país; era a Kizomba – a festa da Raça, desenvolvido pelos carnavalescos Ilvamar Magalhães, Milton Sequeira e Paulo César Cardoso. Gera puxou o samba. Um samba que ninguém mais esqueceu...
Muita gente grande por aí considera que aquele foi o maior desfile de todos os tempos. A escola “baixou” na avenida e o samba “pegou na veia”.
Vários motivos concorreram para isto, além do belo enredo e do belo samba. Era a “escola-américa”, a segunda escola de tanta gente. A escola do bairro de nascimento de Noel Rosa, a maior unanimidade nacional ; o bairro do jogo do bicho, dos bailes, das batalhas de confete do Boulevard e o mais carioca dos bairros, assim considerado por Sérgio Cabral, com toda sua autoridade. Uma escola sem patrono, sem patrocínio, sem sede, que ensaiava nas ruas do bairro e que nunca havia vencido um Carnaval no grupo especial.
E estava deslumbrante.
Zumbi foi louvado. O grito forte de Palmares se fez ouvir transformando a pista, os camarotes, as arquibancadas, o viaduto, o sector zero em inesquecível kizomba, de “... batuque, canto e dança, frevos e maracatus...”
Inúmeros e expressivos artistas e personalidades “da cor” acolheram à convocação.
Foi um desfile com tal impacto que a vitória da escola não foi contestada. Mais que reconhecido, foi um resultado desejado.
Era o quinto Carnaval da era Sambódromo. A pontuação não era quebrada em decimais, variava de ponto a ponto.A apuração foi das mais emocionantes, acompanhada envelope por envelope, só decidida no último. Beija-Flor em terceiro lugar com 222 pontos. Vila Isabel em primeiro com 224 pontos, um a mais que a Mangueira,a vantagem mínima. Uma outra Kizomba, que era a mesma, incendiou o Bouvelet.
HOJE NOSSA GRANDE HOMENAGEM FOI A VILA ISABEL UMA ESCOLA MUITO QUERIDA E QUE NOS MOSTROU ESSE GRANDE DESFILE.
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