Na última segunda-feira, foi sorteada na Cidade do Samba a ordem de desfiles das escolas de samba no carnaval de 2014. Como sabemos, não se trata de um sorteio na acepção exata da palavra. É um sorteio dirigido: algumas posições são predeterminadas pelos resultados do ano anterior. Além disso, formam-se pares de escolas que sorteiam entre si o dia do desfile. E só depois, definidas as participantes de cada noite, se sorteia a ordem de apresentação.
Tudo em nome do espetáculo. Alega-se que se a sorte levasse para a mesma noite escolas "fortes", a outra noite teria menor apelo para o público e venderia menos ingresso.
Tudo em nome do espetáculo. Alega-se que se a sorte levasse para a mesma noite escolas "fortes", a outra noite teria menor apelo para o público e venderia menos ingresso.
Como muita gente, costumo assistir todo o desfile, logo não tenho em mente esta noção pragmática e comercial. Mas admito que seja importante ter desfiles mais equilibrados. Do ponto de vista das escolas, no entanto, faz uma tremenda diferença desfilar domingo ou segunda. Por mais que se diga o contrário, a noite de segunda é a tal, e ao domingo fica relegado o papel de preparação para algo que ainda vai acontecer.
Ora, o ponto de vista das escolas é o que me interessa. E ao pensar assim três reflexões me ocorrem sobre esse sorteio. Primeira: por que se cristalizou a ideia de que e escola que acaba de subir e mais a última colocada do ano anterior é que devem abrir o desfile? Não seriam justamente essas as que mais precisam da sorte para competir em pé de igualdade com as gigantes do grupo? Não, a sorte não é para elas. Seu destino já está traçado e fugir a ele fica cada vez mais difícil. Às vezes penso como seria saudável que o desfile já começassse "quente", com uma escola de grande torcida. As arquibancadas se encheriam desde cedo e o jurado teria um pouco mais de trabalho para mudar o esquema das notas ascendentes, em que a primeira a desfilar recebe invariavelmente uma nota baixa.
Além disso, quem vive os bastidores das escolas de samba sabe que não é indiferente a posição par ou a posição ímpar na ordem do desfile, porque esta determina o local da concentração, do lado do edifício Balança Mas não Cai ou do lado da sede dos Correios. Acho que a preferência pelo lado dos Correios é marcante, mas não uma unanimidade, e eis mas uma razão para o estresse do sorteio.
Penso se não seria mais interessante, mais vital, mais apaixonante que todas as escolas ficassem à mercê do destino. Creio que é o que acontece no futebol. Nos grandes torneios e copas, no sorteio das chaves, ninguém determina que tal time, por ser pequeno, não pode enfrentar em igualdade de condições o campeão, qualquer que seja o resultado. Essa é pelo menos minha visão de leiga, pois não acompanho futebol, limitando-me a torcer pelo meu time, o São Cristóvão, e pela seleção brasileira. E não me consta que lá sejam permitidas as trocas.
Ah, as trocas... Elas estão sempre a serviço da lei do mais forte, pois todos sabemos que em alguns casos rola até uma remuneração ou, com eufemismo, uma ajuda. Escola pobre que tem a sorte de tirar uma boa posição acha vantajoso negociá-la, no melhor modelo dos chamados partidos políticos de aluguel.
Ah, as trocas... Elas estão sempre a serviço da lei do mais forte, pois todos sabemos que em alguns casos rola até uma remuneração ou, com eufemismo, uma ajuda. Escola pobre que tem a sorte de tirar uma boa posição acha vantajoso negociá-la, no melhor modelo dos chamados partidos políticos de aluguel.
Diante de tudo isso, será que ainda se pode falar em sorte? Sorte é ter dinheiro, sorte é ser poderosa. Aquelas bolinhas com números têm significado apenas relativo. De qualquer forma, o domingo de carnaval no ano de 2014 promete fugir à regra, com escolas como Mangueira, renovada, e Beija-Flor, e entre elas o Salgueiro, que com seu bom enredo e carnavalesco do primeiro time, mas que terá de matar muitos leões para ter visibilidade entre as duas potências.
Na segunda, a campeã deste ano também não terá vida fácil, pois Portela e Unidos da Tijuca criam expectativas em todos, e por motivos diversos.
Na segunda, a campeã deste ano também não terá vida fácil, pois Portela e Unidos da Tijuca criam expectativas em todos, e por motivos diversos.
Se no Grupo Especial desfilar no primeiro dia é pior do que desfilar no segundo dia, no Grupo de Acesso a situação se inverte: a sexta-feira, um dia útil na cidade do Rio de Janeiro, é o pesadelo dos sambistas. Além do mais, nesse grupo, 24 horas fazem toda a diferença. Com recursos escassos e instalações precárias, a vida é difícil e os prazos são cruéis. Uma fantasia que não fica pronta, um elemento da decoração do carro que atrasa, tudo faz desse dia um caos para os dirigentes. Mas fazer o quê? Lá temos oito escolas que terão de encarar o desafoi. Torço para que a brava Em Cima da Hora esteja pronta para brilhar ao abrir este desfile. O resto fica por conta de São Jorge Guerreiro!
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