 |
|

Nem Dante Alighieri, nas mais profundas divagações sobre o Inferno, imaginaria uma ala de baianas desfilando na sua Divina Comédia. Mas, para a grande magia do Carnaval, nada é impossível e nos primórdios das escolas de samba, a primeira delas, a Deixa Falar, desfilava com o enredo O Inferno de Dante.
Como o fundador da Escola, Ismael Silva, exigia a presença de
baianas, o jeito foi incluí-las — de saias rodadas, turbantes.
pulseiras e colares — entre caldeirões, tridentes e diabos na versão
carioca da obra do autor italiano.
A importância da Ala das Baianas nas escolas de samba pode ser medida
de imediato pelo valor da nota que lhes é atribuída nos desfiles. Com
no máximo trinta componentes, tem o mesmo peso da bateria, que muitas
vezes tem mais de quatrocentos integrantes. Carregada de simbologia, a
ala representa o elo histórico entre o samba e as antigas baianas.
Desde o primeiro momento, no Rio de Janeiro, quando chegou pelas mãos
dos migrantes baianos, o samba foi acalentado nos casarões das velhas
“tias”, que preservaram os costumes culinários, musicais e visuais (no
que diz respeito aos trajes) trazidos junto com suas mudanças.
O desenhista francês Debret, impressionado com as batas, as saias
presas na cintura e que não passavam do meio da canela, ornadas com
rendas; os colares de ouro ou coral; as pulseiras e os berloques de
prata; as pequenas chinelas que mal abrigavam os dedos, deixando livres
os calcanhares, fixou as baianas muitas vezes nas telas em que retratou
o Brasil.
Edison Carneiro, em seus estudos folcioristas, conta que o
aparecimento das baianas em trajes típicos remonta aos grupos africanos
que foram traficados para o Brasil. Segundo ele, o turbante é
muçulmano, os panos-da-costa e as saias rodadas, sudanesas, e os
colares é figas-de-guiné, o toque final ao conjunto. Tais aspectos dão
referências históricas à figura da baiana.
A ala tem a função de aludir, portanto, às origens afro-baianas do
samba, elo tradicional que ainda mantém as escolas de samba unidas a seu
cordão umbilical, mesmo com toda a pompa e circunstância que cercam
hoje seus luxuosos desfiles.
Não foi sem motivo que Ismael Silva exigiu uma ala de baianas, logo no
primeiro desfile de sua Escola de Samba Deixa Falar. A exigência foi
cumprida, transformando-se em tradição e parte intocável do regulamento
dos desfiles das escolas até hoje. Certamente uma homenagem às “tias”
baianas, pioneiras e protetoras do samba nos seus primórdios.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário