Muitas vezes apontado como sucessor de Joãosinho Trinta pela criatividade e ousadia que, assim como João, imprime em seus desfiles, o carnavalesco Paulo Barros, da Unidos da Tijuca, postou nesta segunda-feira, 19, em sua página no Facebook, um texto no qual recorda seus primeiros contatos com o artista que morreu no último sábado, 17, e que foi enterrado nesta segunda-feira, 19, em São Luís do Maranhão.
No texto intitulado “Ratos e urubus larguem minha fantasia”, nome de um dos enredos célebres de João pela Beija-Flor de Nilópolis, Paulo conta sobre o primeiro encontro que teve com o ídolo:
“Foi o ano de 1979. Na semana que antecedia ao desfile, estava eu no barracão da Beija-Flor ajudando no que podia para o término das alegorias. Foi a primeira vez que me deparei com o João: meus Deus!!! Estava eu diante daquele pequeno grande homem, meu ídolo… Sempre muito ocupado, corria de um lado para o outro. Tentei abordá-lo com uma pergunta, mas ele não me deu nenhuma atenção. Naquele dia, não entendi sua reação. Mas hoje… (risos). Alguns anos se passaram e eu permaneci no barracão. Continuei fazendo perguntas que, depois de tanta convivência, eram prontamente respondidas por ele. Agora eu integrava a equipe. Além de mim, Luciano Costa, Cid Carvalho, Cláudio Urbano, Valtinho, Miguel e vários outros”.
Barros também relata como se impressionava com as soluções artísticas que o mestre encontrava para carnavalizar a imensa criatividade que tinha:
“Os dias livres entre meus voos na Varig, passava dentro do barracão. Assistia e estava atento a tudo. Quantos finais de semana ficávamos sentados nos carros alegóricos ouvindo suas histórias? Seus ensinamentos…Não era uma pessoa muito fácil de lidar, porém era fascinante. Suas soluções me encantavam pela sua simplicidade de execução.”
O carnavalesco da Unidos da Tijuca lembra ainda que, depois que também passou a assinar desfiles, teve pouco contato com João, e ressalta que o mestre teve muitas vezes sua competência questionada.
“Quantas vezes ouvi dizer que ele nada fazia? Que nada inventava… Que não sabia desenhar! Quantos foram capazes de dizer que eram os donos de suas criações? E se apropriaram de suas ideias… Quantos não se aproveitaram de você por seu desprendimento dos valores materiais?”.
Assim Paulo Barros finaliza o texto:
“Vai, João! Liberte-se dos ratos e urubus que por toda a sua vida o sugaram… Vista sua fantasia em paz… E seja recebido por seu Cristo mendigo. Aquele que, por ser o mais verdadeiro, impediram que você revelasse na Avenida.Segue o seu caminho porque foi você quem o fez ao caminhar. Agora falta pouco para que a Avenida se encante de novo e traga toda a fantasia em que você sempre acreditou de volta. De lá, você nunca sairá. Cuide de cada um de seus discípulos para que eles também possam percorrer esse caminho. A Sapucaí te espera”.
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