quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O LONGO E BELO DESFILE DE 1989



Como acontece em todos os anos, o desfile de 89 foi aguardado com muita expectativa. O último carnaval da década prometia ser um dos mais equilibrados, já que a participação das escolas no lucro obtido com a boa vendagem dos discos e, também, com os direitos de transmissão, aumentavam de ano em ano.

Dentre as novidades do regulamento, destacava-se a nova forma de julgamento. A Liga e a RIOTUR decidiram diminuir o número de julgadores: de quarenta para trinta. Dessa vez, a pior nota seria eliminada e só teria valor para efeito de desempate. Outra novidade ficava por conta do número de escolas a serem rebaixadas: cinco.

O desfile aconteceu, como nos anos anteriores, no domingo e na segunda. Pela primeira vez, foi transmitido para todo o país em sistema de “pool” de imagens e as duas emissoras responsáveis pela exibição foram a Globo e a Manchete.

O desfile começou dentro do horário previsto e o tempo mínimo e máximo para cada agremiação continuou sendo o mesmo dos anos anteriores.


ARRANCO DO ENGENHO DE DENTRO – Com o enredo “Quem Vai Querer?”, dos carnavalescos Sérgio Faria e Milton Siqueira (responsável pelo desfile da Vila em 88 e que faleceu antes do carnaval de 89), a escola abriu o desfile com muita alegria. “Quem Vai Querer?” era o grito do pregoeiro, mas, nesse delírio carnavalesco, os “vendidos” tornavam-se os vendedores e os explorados, os exploradores. Cantando um samba bastante executado na fase pré-carnavalesca, a escola mostrou uma evolução vibrante e convincente e, se em alguns trechos a melodia pendia para marcha, a bateria corrigiu esse problema com uma atuação muito boa. Aliás, eu fiquei impressionado com a quantidade de tocadores de cuícas. Para uma escola sem muitos recursos, eu achei muito boas as soluções estéticas apresentadas pelos carnavalescos. Usaram e abusaram dos tecidos estampados em quase todos os setores, inclusive na decoração dos carros, o que deu uma boa unidade ao conjunto. O abre-alas (que teve dois “queijos” danificados) era uma caravela, na qual os índios seduziam os portugueses com espelhos e quinquilharias. A seguir, uma sucessão de alas multicoloridas e mais um carro, no qual flores vaidosas vendiam os homens cruéis por elas aprisionados. As baianas, apesar de um pouco emboladas, desfilaram suas belas fantasias com pássaros estilizados sobre os chapéus. Os tecidos estampados também marcaram presença em seus figurinos e esses tecidos, como em quase todas as outras fantasias, vinham encapando rolos de espuma, que adquiriam formas leves e novas. No belo carro denominado: “Gaiola Dourada”, as aves apareciam livres e os homens aprisionados. Na verdade, o enredo, além de alegre e brincalhão, era bastante crítico. Um dos setores mais bonitos, a meu ver, foi o do Bordel, que foi mostrado em vermelho, dourado e laranja. A escola encerrou sua apresentação com o sentimento de dever cumprido e com a sensação de que poderia permanecer no grupo. A única coisa lamentável foi o trágico acidente envolvendo a destaque Neuza Monteiro. Ela caiu do alto de um carro na dispersão e, em estado grave, foi levada ao hospital, onde viria a falecer dias depois.

Alegoria da Unidos do Cabuçu
UNIDOS DO CABUÇU – Homenagear pessoas vivas já havia virado uma constante para a escola desde o sucesso de 1984, quando homenageou a cantora Beth Carvalho. Para 89, a Cabuçu preparou o enredo: “Milton Nascimento, Sou do Mundo, Sou de Minas Gerais”. Brigado com a direção da escola, o carnavalesco Alexandre Louzada abandonou o barco, levando com ele alguns desenhos. Para o seu lugar foi chamado o carnavalesco Beto Sol. Por ser extremamente ligado aos movimentos ecológicos, um dos pedidos que Milton fez, ao ser convidado para ser o enredo, foi que a escola não usasse penas e plumas naturais em suas fantasias. A opção foi apelar para uma espécie de capim que, desfiado e tingido, fazia um efeito muito bom. O problema é que isso deixou as fantasias muito repetitivas, pois esse recurso foi utilizado em praticamente todos os figurinos, que eram bonitos, mas, em muitas vezes, não passavam o enredo com clareza. A comissão de frente e o abre-alas, assim como as primeiras alas, faziam referência ao barroco mineiro. O segundo carro, que não me agradou por apresentar formas e combinação de cores pouco elegantes, mostrava a “Travessia”. O nível das fantasias e dos carros melhorou bastante na segunda metade do desfile. Particularmente, eu gostei bastante do setor denominado: “Cio da Terra” e também dos carros “Missa no Quilombo” e “Maria, Maria”. A evolução da escola não foi tão empolgante quanto à do Arranco, talvez pelo fato do samba da Cabuçu ter sido cantado de forma equivocada e pela sua qualidade não muito boa. Foi um desfile correto, mas morno. Milton Nascimento desfilou no último carro: o “Planeta Blue”.

Mulheres com o corpo pintado também defenderam a ecologia na Unidos da Ponte
UNIDOS DA PONTE – Ao contrário das duas primeiras escolas, que desfilaram com cerca de 3500 componentes, a Unidos da Ponte levou para a Sapucaí um contingente de aproximadamente 2000 figurantes. Os carnavalescos Sancler Boiron e Cid Camilo foram os responsáveis pelo enredo “Vida que te Quero Viva”. Com um samba bem inferior a maioria dos seus belos hinos apresentados nos anos 80, a Ponte abriu seu desfile com uma comissão de frente tradicional, formada pelos componentes da velha-guarda. Atrás, vinha o abre-alas, que era formado por uma grande sirene azul, cercada por pombas da paz. Era o “S.O.S. Mãe Natureza”. Sem grandes recursos, a escola optou por trazer apenas seis alegorias e o mais bonito desses carros foi, sem dúvida, o que apresentou o mico-leão dourado. Sem a mesma beleza, mas também criativo, estava o carro que fazia referência ao sapato de jacaré. Nas fantasias, o destaque ficou por conta da ala das baianas, ainda no primeiro setor da escola. Os carnavalescos substituíram a renda típica das saias por papéis laminados prateados e verdes, que foram muito bem trabalhados, proporcionando um efeito fantástico, realçado pelas luzes do Sambódromo. O conjunto de fantasias, no entanto, foi bastante irregular, principalmente pela má combinação de materiais e, também, pela má distribuição de cores. A bateria esteve bem, mas, como o samba puxado pelo sempre competente Aroldo Melodia não era dos melhores, não teve o mesmo brilho de anos anteriores.

A Carro da Comunicação, no desfile da Mocidade


MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL – Primeira das grandes a entrar na pista, a Mocidade era aguardada com muita expectativa, pois além de apresentar um enredo em homenagem a Elis Regina, a escola vinha com novos carnavalescos e era impossível pensar na Mocidade Independente sem associá-la ao perfil inovador, criativo e debochado do carnavalesco Fernando Pinto. Com mais de 4500 componentes, divididos em 26 alas, a escola abriu seu carnaval com uma comissão de frente composta pelos amigos de Elis. Entre eles, estavam Luis Carlos Vinhas, Jair Rodrigues, Mieli, João Bosco, Wanderléia e Betinho. Apesar de vestidos com elegância, o comportamento deles não foi dos melhores, talvez por falta de ensaio. Desfilaram de forma descontraída e sem apresentar a escola convenientemente. Os carnavalescos responsáveis pelo desenvolvimento do enredo ”Elis, um Trem Chamado Emoção”, foram Ely Perón e Rogério Figueiredo. Eles preocuparam-se com os fatos mais importantes da vida da cantora e não ficaram presos a uma cronologia, o que seria mais óbvio e, a meu ver, tornaria o enredo mais consistente. O belo samba, de autoria de Paulinho Mocidade, Dico da Viola e Cadinho, impulsionou a escola a uma boa exibição. A bateria, como sempre, esteve impecável e empolgou o público, principalmente quando fazia a “paradinha” no refrão final do samba. Com uma evolução fluente e sem hesitações a escola passou sem abrir buracos e só não foi melhor porque o conjunto visual foi quebrado algumas vezes com a passagem de carros de um certo mau gosto, como o segundo, por exemplo, que veio com tochas olímpicas, para lembrar que Elis cantou nos Jogos Militares. Aliás, um dos carros, o de Paris, quebrou ainda na concentração e seus destaques acabaram desfilando no chão. Entre as boas alegorias, eu destaco o carro do Rio de Janeiro, com golfinhos, cascatas e um destaque representando a canção “Mestre Sala dos Mares” e, também, o último carro, que trouxe um trem azul todo feito em néon. As fantasias, que tiveram boa predominância das cores da escola, estavam superiores e eram de fácil leitura, embora também apresentassem alguma irregularidade. Algumas delas apelavam para o bom-humor, como na ala que representava microfones. Gostei bastante da enorme ala de baianas, que se apresentou com a representação de “Falso Brilhante”. A grande ala referente à canção “Águas de Março” também chamou a atenção com suas sombrinhas e celofanes que imitavam chuva. No geral, como já comentei, a escola fez um bom desfile, com momentos de emoção, mas esperava-se um pouco mais.

Xuxa, um dos destaques do desfile da Tradição
TRADIÇÃO – Injustiçada com o oitavo lugar em 1988, quando fez um dos melhores desfiles do ano, a Tradição preparou-se para brigar por uma boa posição. Foi saudada com uma grande queima de fogos e com um grito de guerra tão demorado que fez com que a escola só começasse a evoluir quando os cronômetros já apontavam seis minutos de desfile. O enredo ”Rio, Samba, Amor e Tradição” era de autoria do carnavalesco João Rosendo e o samba, como acontecia desde a fundação da escola, ficou sob a responsabilidade da maravilhosa dupla: João Nogueira e Paulo César Pinheiro que, mais uma vez, compuseram uma belíssima obra. A novidade ficou por conta da cantora Simone, que puxou o samba ao lado do competente Candanga. E se o samba era uma garantia de boa nota, a mesma expectativa valia para a apresentação de Vilma Nascimento e Paulo Roberto, que defenderam o pavilhão da Tradição com a mesma elegância do ano anterior. Com mais de 4700 componentes, divididos em 38 alas, a escola começou sua apresentação de uma forma diferente, com uma ala de passos marcados em frente ao abre-alas, que trazia o condor coroado todo espelhado, além de um letreiro em néon com o nome da escola. Só depois é que aparecia a comissão de frente, que fez uma exibição das melhores, pois além de vestidos com muita beleza, seus componentes apresentaram a escola com correção e elegância. Separando a comissão das primeiras alas apareceu um painel com o nome do enredo. Aliás, esses painéis (quase sempre giratórios e com dupla mensagem) foram uma constante no desfile e apresentaram com alguma correção o enredo, que foi muito pouco explorado nos carros alegóricos. A maior parte dos carros, excetuando-se os carros do Cristo Redentor e da Pedra da Gávea, não fazia nenhuma menção ao tema; eram apenas meros “condutores” de fantasias belíssimas, trajadas pelos destaques da Tradição. As fantasias de ala, nos mais diversos e sedutores tons de azul, estavam riquíssimas e de muito bom gosto. Elas eram trabalhadas com materiais nobres, tais como paetês, pérolas, strass, plumas de avestruz e penas de pavão, mas também não contavam bem o enredo. Durante o desfile, quando o abre-alas aproximou-se da Apoteose, aconteceu uma coisa que eu não me lembro de ter visto em outra oportunidade: uma nova queima de fogos, só que dessa vez atrás do Museu do Samba, preparou o público dos Setores 6 e 13 para receber a escola. No entanto, pirotecnia à parte, problemas começaram a ameaçar a harmonia e a evolução quando a bateria entrou no boxe. A escola, que vinha lenta e com coreografias que já prejudicavam o seu conjunto, começou a apressar o passo para preencher alguns claros e, mesmo conseguindo ocupar bem os espaços, acabou correndo até o final de sua apresentação. Infelizmente, com todos esses problemas, o desfile ficou muito prejudicado e a Tradição acabou fazendo um desfile aquém de suas boas exibições anteriores.

A União da Ilha apresentou vários destaques no Carro do Rei Momo
UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR – Os caminhões da COMLURB estavam deixando a pista, após a costumeira limpeza que durava cerca de meia-hora, quando os primeiros componentes da Ilha começaram a preencher os espaços da armação. Desde então, o público do Setor 1 manteve-se de pé e entoando os versos de “Festa Profana”, a música de maior sucesso na fase pré-carnavalesca, que era cantada em todos os cantos do país, dos bailes do Scala até os mais humildes botequins. O problema do hino da tricolor, que fazia muitos críticos ficarem de cabelo em pé, era que sua melodia não era exatamente um samba e sim uma marcha. O enredo, de autoria do carnavalesco Ney Ayan, era mais uma versão da história do carnaval. A comissão de frente foi composta por reis momos, que vestiam bonitas fantasias, mas evoluíam sem chamar muita atenção. O carro abre-alas trazia o sol da Ilha e cavalos alados. Era uma belíssima alegoria, toda trabalhada nas cores: laranja, ouro e vermelho. Atrás do carro, vinham alas que representavam o próprio carnaval: piratas, colombinas, sultões, odaliscas, pierrôs, colombinas, etc. Em meio a essas alas destacava-se o carro do “Velho Galeão”, que era acoplado e fazia uma homenagem à própria escola. O enredo apresentou ainda as festas em homenagem à deusa Ísis; “passeou” pelas festas em homenagem ao deus Baco, sem se esquecer das festas em exaltação à primavera e da tradição das máscaras de Veneza. O carnavalesco não se propunha a dar nenhuma definição para a origem do carnaval; apenas lembrava as manifestações que podiam ter uma ligação como nossas festas carnavalescas. Nesse sentido, ele foi perfeito, pois suas fantasias e alegorias eram de fácil leitura e estavam bem adequadas aos seus setores. O conjunto de fantasias foi muito variado e de indubitável bom gosto. Ney Ayan optou pela leveza, o que permitiu aos componentes movimentos ágeis e vibrantes. As únicas falhas desse quesito ficaram por conta da bateria, que desfilou sem chapéu, e da ala das baianas, que veio com roupas medievais que não caíram muito bem. De resto, o trabalho de fantasias foi perfeito. Nem os 4000 componentes e nem o público tiveram nenhum problema em cantar a empolgante marcha da Ilha. Aliás, é importante frisar que a bateria tocou samba e manteve o ritmo com muita competência. Foi um desfile muito bonito, alegre e, certamente, o melhor até aquela altura. Um desfile com a “cara” da Ilha!


CAPRICHOSOS DE PILARES – “O que é Bom Todo Mundo Gosta”, de autoria dos carnavalescos Renato Lage e Lílian Rabello, foi o enredo da escola no carnaval de 89. A Caprichosos entrou na pista com o dia praticamente claro, as dez para as seis da manhã. O tema era crítico e protestava contra a exportação e a perda de nossas maiores riquezas. O abre-alas, muito criativo, representou um cais imaginário, do qual partiam nossa cultura, nossas riquezas naturais e tudo de bom que é produzido aqui. A escola optou por apresentar apenas seis carros alegóricos e alguns tripés, principalmente para dividir os setores do enredo. Os carros eram enormes e muito bonitos, com destaque para o carro das matas e para a alegoria denominada “Arte e Cultura”, que foi, aliás, um dos carros mais bonitos que eu já vi em desfile. Era lindo e muito bem decorado com belíssimas reproduções da cerâmica marajoara e de esculturas de mestre Vitalino. Apresentando-se com 4000 componentes, divididos em 26 alas, a Caprichosos fez um desfile correto, mas faltou um samba melhor e menos marcheado, que pudesse fazer sua gente evoluir mais. A bateria, que veio em tons de azul, misturados ao dourado e ao preto, desfilou com fantasias alusivas ao petróleo e teve uma boa atuação. Gostei bastante dos bonecos de Olinda e dos calhambeques do corso que passaram no último setor. Nos figurinos, houve uma boa distribuição de cores, além de um acabamento refinado. Destaque para a ala do ouro, com penas de pavão que causavam um efeito belíssimo, e para a ala que representava a Festa do Divino, toda em branco e prata.

O Salgueiro pintou o asfalto de vermelho
ACADÊMICOS DO SALGUEIRO – Com cerca de 5000 componentes, o Salgueiro pisou forte na Sapucaí para defender o enredo: “Templo Negro em Tempo de Consciência Negra”, do carnavalesco Luiz Fernando Reis, que havia se consagrado nos anos anteriores pelos temas críticos e inteligentes feitos para a Caprichosos de Pilares. Com o auxilio do figurinista Flávio Tavares, Luiz Fernando projetou para o Salgueiro um carnaval que nada lembrava o seu estilo leve e debochado. Como pedia o enredo, ele investiu no luxo e no tradicional, criando um espetáculo visual maravilhoso. Como se sabe, o enredo abordava todos os temas negros já contados pelo Salgueiro desde sua fundação, além de questionar a “abolição” da escravatura no quadro denominado: “Consciência Negra”. O samba salgueirense, na minha humilde opinião, era o melhor do ano e ainda tinha a seu favor a interpretação perfeita e emocionante de Rixxa. A comissão de frente foi formada pelos integrantes da velha-guarda, que vestiram uma bela fantasia africana e apresentaram com correção a escola. Atrás, vinha o abre-alas, que representava o “Templo Negro” e trazia, além de esculturas de panteras, o corpo escultural da cantora Watusi. Após uma sucessão de alas com a temática africana, apareceu o carro “Navio Negreiro”, que era muito bonito e apresentava destaques luxuosos. A seguir, o Salgueiro relembrou o desfile de 1960 e apresentou uma ala lindíssima, que desfilou com a fantasia “Nobreza de Palmares”. Com alegorias de mão de rara beleza, a ala abriu caminhos para o carro “Portais dos Palmares”, que teve o ator Antônio Pitanga interpretando Zumbi. Talvez a parte mais densa do desfile tenha sido dedicada ao enredo Chica da Silva, de 63. O minueto, feito pela coreógrafa Mercedes Batista e que tanta polêmica tinha causado na década de sessenta, foi revivido por dezenas de casais de adolescentes que, vestidos com veludo e cetim nas cores da escola, protagonizaram momentos de grande emoção. E a emoção continuaria com a passagem do carro “Os Jardins de Chica”, com destaque para Isabel Valença, que depois de 26 anos voltaria a estrelar o seu principal papel. A essa altura dos acontecimentos, a única preocupação que os salgueirenses tinham era com o gigantismo da escola. Encostados nas grades, ilustres torcedores pediam que os componentes apressassem o passo, mas os diretores não demonstravam preocupação. A bateria do mestre Louro só aproximou-se do boxe com mais de uma hora de desfile e, quando todos pensavam que ela seguiria direto, foi dada a ordem para o recuo, que foi rápido e fez com que a escola tivesse que correr um pouco para preencher os espaços. Antes da chegada da bateria, já haviam sido mostrados o carro de “Chico Rei” e uma bela ala de baianas prateadas, para ilustrar o enredo de 69: “Bahia de Todos os Deuses”. Aliás, nesse setor também foi apresentado um belíssimo carro, todo branco e prata, cheio de baianas e com a maravilhosa Paula, além do destaque luxuoso de Humberto Canalli. O Salgueiro voltou a desfilar compacto após o pequeno percalço no recuo da bateria, mas o andamento da escola ficou apressado, afinal faltavam menos de 25 minutos para o estouro do tempo e os últimos componentes ainda estavam na concentração. A preocupação com o tempo tomou conta de todos, mas isso não diminuía a emoção e a satisfação de poder ver os grandes desfiles da escola sendo contados com tanta beleza. Eu adorei a combinação de cores usada para relembrar os enredos: “Festa Para um Rei Negro” e “Valongo”. Aliás, o carro do Valongo era muito bonito e tinha Regina Hamlet como destaque. Os tripés que representaram os deuses africanos estavam de fácil compreensão e também chamavam a atenção pelo bom gosto. Gostei muito do setor dedicado a Oxalá, que foi representado por uma grande ala branca e por um tripé que trazia como destaque o cabeleireiro Wander vestindo uma fantasia belíssima, premiada em concurso. O carro “Consciência Negra” mostrou Anastácia libertando-se da mordaça, já no último setor do desfile, que foi encerrado por uma ala de baianas gigantesca. Com signos africanos, elas se apresentaram com fantasias de rara beleza, nas cores vermelho, amarelo, laranja, palha, branco e preto. Quando a bateria saiu do boxe, à frente delas, um visual belíssimo se formou, pois os chapéus dos ritmistas tinham os mesmos tons dos chapéus das baianas. Apesar da pressa, o desfile do Salgueiro foi emocionante e credenciou a escola a brigar com força pelo campeonato. A escola encerrou sua apresentação com pouco mais de um minuto para estourar o tempo.

A bateria foi um dos pontos altos do desfile da Mangueira
ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA – Quando a escola começou a ocupar os espaços da armação uma chuva fina passou a marcar presença na Sapucaí, o que não chegou a tirar o animo dos foliões. Com pouco mais de 4000 componentes, divididos em 32 alas, a Mangueira nem de longe lembrou seus bons carnavais dos anos anteriores. O enredo “Trinca de Reis”, do carnavalesco Júlio Matos, era uma homenagem a noite carioca, feita através das figuras de Walter Pinto, Carlos Machado e Chico Recarey. A comissão de frente representou vedetes e teve uma atuação mais para teatro de revista do que para desfile de escola de samba. Não gostei! Após a passagem de um carro abre-alas de extremo mau gosto, apareceram alas vestidas de espantalhos, índios e piratas, personagens presentes nas “revistas” de Walter Pinto, o primeiro dos homenageados, que desfilou ao lado da grande vedete Virginia Lane. O carro seguia a concepção do abre-alas. Aliás, em matéria de alegorias, o desfile da Mangueira foi um fiasco. As formas eram retas, duras e grosseiras, além de repetitivas. As fantasias estavam superiores, embora algumas apresentassem falha de acabamento, talvez pela chuva. O segundo setor dedicou-se a mostrar as obras da Carlos Machado, que desfilou sobre o carro “Cassino da Urca”. Nesse setor, destacou-se o carro que lembrava o espetáculo “Carrossel”, uma das poucas alegorias que fugiam um pouco da concepção à qual eu já me referi. Uma bonita ala de espanholas iniciou o setor referente a Chico Recarey que, segundo as más línguas, teria “comprado” uma vaga no enredo. Com um samba de letra fraca e melodia marcheada, a Mangueira acabou fazendo um dos seus piores desfiles. Salvaram-se a bateria e a empolgação de seus componentes, além de algumas fantasias que ilustraram com correção e beleza um enredo que poderia ter sido mais bem desenvolvido. O desfile terminou por volta das dez horas da manhã.

O Egito foi um dos países visitados pelo enredo da Unidos do Jacarezinho
UNIDOS DO JACAREZINHO - “Mitologia, Astrologia, Horóscopo, uma Benção para o Carnaval Brasileiro”, do carnavalesco Lucas Pinto, foi o enredo da simpática escola que abriu o desfile de segunda. O tema propunha um passeio pelas “mitologias” e falava da influência dos astros. Confesso que não entendi muita coisa, pois foram muitos os elementos utilizados para ilustrar o enredo, que começou na Babilônia, passou pelo Egito, Grécia, Roma, China, África e acabou desembarcando no nosso carnaval. A comissão de frente chegou atrasada e teve que ser substituída pelos componentes da velha-guarda, que estavam bem vestidos e se apresentaram com alegria. No abre-alas, o símbolo da escola apareceu com turbante e ladeado por doze destaques de composição, que traziam a simbologia dos signos. O samba do Jacarezinho era fraco e nem mesmo a boa bateria conseguiu empolgar. O visual apresentado foi dos mais confusos: era carro atrás de carro e um festival de cores que não favoreciam um conjunto visual harmônico. Nas fantasias, o destaque ficou por conta do bonito figurino da bateria, com suas penas azuis. Entre as alegorias, eu destaco o carro da África, com representação do jogo de búzios, e o belo carro de Zeus, que além de uma biga, apresentava um sol muito bonito. Apesar desses bons momentos, tudo se perdeu, principalmente pelo excesso de cores e de alegorias. O rosa e o branco tradicionais (combinação tão bonita para escola de samba) apareceram apenas em raríssimos momentos. A sensação que eu tive é que a escola quis ser algo que não era. Se tivesse optado pela simplicidade e pelos bons enredos dos anos anteriores teria conseguido um êxito bem maior. Foi, na minha opinião, o pior desfile de 89.

O luxo da Imperatriz Leopoldinense
IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE – No ano do centenário da Proclamação da República, coube à Imperatriz a responsabilidade de apresentar um enredo em sua exaltação. Com “Liberdade, Liberdade, Abre as Asas sobre Nós”, do carnavalesco Max Lopes, a escola tinha também a missão de apagar a péssima imagem deixada no ano anterior. O samba escolhido, de autoria de Niltinho Tristeza, Preto Jóia, Vicentinho e Jurandir, era muito bonito e foi muito bem aceito pela crítica na fase pré-carnavalesca. A escola entrou na avenida chamando muita atenção, graças a uma comissão de frente de muito bom gosto e aos tripés que mostravam as “Asas da Liberdade”, que compunham muito bem com a coroa espelhada mostrada no abre-alas. No entanto, um problema afligia os diretores da escola: vários componentes não tinham recebido seus sapatos. Inclusive a ala do minueto, liderada por Mercedes Batista, acabou desfilando com vários componentes descalços. Outra coisa que me causou estranheza foi a certa indecisão para a entrada da bateria, que só começou a tocar depois que o samba já havia sido cantado três vezes. Isso aumentava a ansiedade dos espectadores, pois a impressão que se tinha, desde o inicio, é que a escola estava se preparando para um grande desfile, haja vista a beleza da “cabeça” da escola. Apesar dessas incertezas, quando a bateria finalmente entrou, a Imperatriz seguiu firme em suas evoluções, passando sempre de forma fluente, sem hesitações e quebras de conjunto. O primeiro setor, além dos tripés e do abre-alas, apresentou uma ala em branco e prata e o carro “O Grande Baile da Corte”, que trazia destaques ricamente fantasiados. Em seguida, a Imperatriz passou a mostrar cenas típicas do Império, inspiradas em Debret. Eu adorei esse setor, principalmente pelas liteiras e pelos tons usados na confecção das fantasias: um belo jogo de nuances de amarelo, laranja e ouro, que foram as cores que predominaram também na roupa das baianas, que representaram damas da corte. O carro em homenagem ao Duque de Caxias era belíssimo e só conseguiu entrar na pista após manobras ousadas para “vencer” os fios de alta tensão, tamanha era a sua altura. O setor que abordava a imigração italiana também estava interessante, com carroças muito bem realizadas, fantasias bonitas e de fácil leitura. A segunda ala de baianas desfilou com a representação de mucamas. Estavam bonitas, mas sem muito impacto. Elas precederam o belo carro da “Carta Magna”. O samba, a bateria e o belo visual conquistaram o público. A Imperatriz Leopoldinense protagonizou um dos mais belos momentos do desfile de 1989 e, certamente, até aquela altura dos acontecimentos, era a melhor escola ao lado do Salgueiro, com a vantagem de não ter corrido.

A linda e afinada bateria da Unidos da Tijuca
UNIDOS DA TIJUCA – Depois de bons desfiles apresentados nos dois anos anteriores, a Tijuca parecia querer consolidar seu lugar entre as grandes e, para isso, preparou um enredo bastante interessante: “De Portugal à Bienal no País do Carnaval”, do carnavalesco Mário Monteiro. O tema foi dividido em quatro partes: a chegada de D. João VI, a Missão Francesa, a Semana de Arte Moderna e a Bienal de São Paulo. A comissão de frente foi formada, mais uma vez, pelo grupo oriundo da Imperatriz Leopoldinense, que era composto por homens altos e elegantes que se apresentavam de forma tradicional, sempre muito bem vestidos. Em 89, cada fantasia tinha uma cor diferente, embora houvesse uniformidade no desenho. Gostei muito da comissão e ainda mais do abre-alas, que apresentou vários pavões em tons de azul, para representar as glórias da escola nos grupos inferiores, e um pavão dourado, representando o título conquistado em 1936 entre as grandes escolas. Cada capítulo do enredo em homenagem às artes plásticas brasileiras era aberto por um quadro emoldurado, que trazia o nome dos principais artistas de cada período. No setor referente à Missão Francesa, destacou-se o carro “Floresta de Debret”. Aliás, o Mário foi muito feliz ao transformar quadros famosos em esculturas e adereços. Gostei bastante da parte dedicada a Tarsila do Amaral e a Di Cavalcanti, já no terceiro setor do desfile. As baianas evoluíram lindamente e vestiram-se com muita beleza, com saias trabalhadas nas cores da escola e enormes gamelas na cabeça. Só achei estranho o grande número de homens que desfilou na ala. Os três primeiros quadros foram mostrados com bastante correção, mas, a partir do momento em que a escola começou a mostrar as obras da Bienal, começou a haver um certo desnível na concepção de roupas e alegorias. Não sei se pelo gosto duvidoso de algumas das obras, mas, certamente, pela considerável quantidade de componentes sem chapéu, o desfile foi prejudicado nesse setor. Felizmente, o nível voltou a melhorar com a passagem de um carro africano e de alas belíssimas que homenageavam Caribé, Chico Santana e Hélio Oiticica. Fechando o desfile apareceu o carro “Favela dos Meus Amores”, inspirado no quadro de Heitor dos Prazeres. O carro, que teve na sua fase de confecção a colaboração do carnavalesco Paulino Espírito Santo, foi uma das representações de favela mais bonitas que já passaram na avenida em todos os tempos. A bateria, vestida lindamente com a mesma paleta de cores da comissão de frente, mas representando o cubismo, foi dirigida pela última vez por Mestre Marçal. O som dos agogôs chamou a atenção e o ritmo esteve firme sempre. Com um samba apenas mediano, a Unidos da Tijuca acabou sendo um pouco prejudicada, mas foi um desfile bonito.

Monique Evans na São Clemente
SÃO CLEMENTE – Com aproximadamente 5000 componentes, divididos em 32 alas, a escola apresentou o enredo: “Made in Brazil, Yes Nós Temos Banana”, do carnavalesco Carlinhos de Andrade. A temática seguia a mesma linha do enredo da Caprichosos, que tinha feito um bom desfile no dia anterior. Eu gostei muito da brasileiríssima comissão de frente, composta por homens de fraque e cartola com bananas descascadas. O carro abre-alas exibia vários caixotes que formavam o Pão-de-Açúcar sobre o mapa do Brasil. A São Clemente, como se sabe, tem as cores preta e amarela, o que torna o trabalho dos carnavalescos bastante difícil. Apesar de alguns pequenos deslizes, principalmente quando houve o uso do cinza e do laranja, achei que a divisão das cores foi bem feita. A escola evoluiu com correção e nem quando o carro da caravela quebrou, já na altura do Setor 5, houve muita indecisão. Os diretores da escola rapidamente encostaram o carro na grade e fizeram com que os componentes seguissem em frente e, por sorte, a alegoria que vinha em seguida (que mostrava o ouro de Serra Pelada indo para o “espaço”) conseguiu passar ao lado, em uma manobra muito bem feita. O problema é que o carro quebrado só conseguiu seguir no desfile quando já estava totalmente fora do seu setor. Isso, evidentemente, prejudicou o quesito enredo. Na minha opinião, a parte mais bonita do desfile foi a dedicada ao Pantanal, com destaque para uma bela ala com folhagens no chapéu. Também gostei da roupa das baianas, que trouxe um cesto de flores na cabeça. Os tripés tropicalistas, já no final do desfile, também estavam leves e de bom gosto. O samba não era dos melhores e prejudicou a empatia com o público. Também notei uma certa pressa no terço final da escola, o que atrapalhou a evolução e a harmonia. Foi um desfile simpático, mas, em comparação com a apresentação da Caprichosos, que abordou a mesma temática, as vantagens foram todas para a escola de Pilares.

Detalhes do abre-alas da Estácio de Sá
ESTÁCIO DE SÁ – Os desfiles de 1987 e 1988 deram a Estácio a certeza de estar em um caminho que a levaria a conquistas. Na minha opinião, a principal razão para esse sucesso era o talento da carnavalesca Rosa Magalhães, mas, infelizmente, os diretores da escola viam com bons olhos os seus recentes sambas leves, mas marcheados, e tentavam com isso repetir o sucesso alcançado com “O Tititi do Sapoti”. E o grande problema do desfile de 89 foi exatamente o samba, ou melhor, a marcha-enredo que a escola apresentou. Outro problema, a meu ver, foi que o enredo “Um, Dois, Feijão com Arroz” não foi tão bem desenvolvido pela Rosa quanto os seus temas anteriores. Os figurinos e os carros estavam muito bonitos, mas os elementos visuais, exceto em alguns setores, caberiam em qualquer enredo que se propusesse a fazer um passeio pelo mundo. Gostei bastante do abre-alas, que apresentou o leão da escola ladeado por mulatas sobre pagodes chineses. Aliás, o primeiro setor era todo dedicado à China, com boa predominância do amarelo e do vermelho. Em seguida apareceram alas referentes aos árabes e o enredo chegou ao Brasil para contar o episódio em que Nilo Peçanha engana os ingleses, apontando para um capinzal e dizendo que era plantação de arroz. Esse fato foi bem descrito no “samba” e lindamente mostrado em uma ala toda verde, que representava o “arrozal”. Os ritmistas da Estácio vestiram saias para compor a belíssima fantasia africana. Aliás, gostei muito do setor africano, que apresentou figurinos com o mesmo recurso utilizado pela Cabuçu: capim desfiado e colorizado à guisa de penas. Voltando à bateria, não entendi por que seus diretores, assim como em 87 e 88, insistiram em não entrar no boxe. Preferiram seguir em frente e colocar os ritmistas no canto da pista, lá na Praça da Apoteose. A evolução da escola foi prejudicada por isso e, também, pela lentidão da passagem das alas do meio para o final do desfile, em contrário do que aconteceu no início. O enredo foi bem passado no setor final, quando apareceram os carros do casamento, do Japão (belíssimo!) e a última alegoria, com a qual a Rosa fez uma brincadeira referente à mistura do feijão com o arroz e enalteceu a mulata. Foi um desfile de figurinos e carros muito bonitos, de acabamento impecável, mas não gostei muito do enredo e muito menos do samba.

Conjunto visual da Vila
UNIDOS DE VILA ISABEL – Passava das quatro da madrugada quando a campeã de 88 começou a sua apresentação. O enredo “Direito é Direito” comemorava os quarenta anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Aliás, todos eles foram lidos antes do grito de guerra da escola, que começou seu desfile com muita garra e com a expectativa de empolgar e emocionar o público, já que seu samba era um dos melhores do ano. O carnavalesco Ilvamar Magalhães abriu mão do luxo e organizou um desfile com o propósito de apresentar com clareza o enredo. Nisso ele foi prefeito, mas, no geral, o visual teve altos e baixos. A comissão de frente apresentou mulheres grávidas para representar o primeiro direito: o direito à vida. O carro “Liberdade de Pensamento e Expressão”, todo montado em bonitos tons de verde, mostrou cobras e lagartos saindo das esculturas. Esse foi um dos setores que eu mais gostei. Gostei também do setor que fazia referência a liberdade de credo, do setor que abordava o direito à alimentação e do setor que fechou o desfile, que clamou pela paz. Alguns problemas, como a quebra do Carro da Liberdade (ainda na armação) e a passagem dos Carros da Saúde e da Alimentação completamente fora de suas posições no desfile, prejudicaram o desenvolvimento do enredo. Apesar desses percalços, a empolgação dos sambistas era algo que chamava a atenção de todos. A bateria, com a fantasia de juízes togados, voltou a ter um ótimo desempenho. E o samba, dos melhores do ano, funcionou muito bem no desfile, como já era esperado. No último setor da Vila, o destaque ficou por conta de uma bonita ala de baianas, toda em branco. O carro da Paz Universal fechou o desfile com a participação de Clóvis Bornay. Apesar dos problemas estéticos, a Vila mostrou samba no pé e emocionou!

A Portela esbanjou luxo e beleza
PORTELA – “Achado não é Roubado”, do carnavalesco Silvio Cunha, foi o enredo da escola que entrou na Sapucaí pouco antes das cinco e trinta, com o dia começando a amanhecer. O enredo questionava a história oficial do descobrimento do Brasil e fazia uma bonita homenagem aos verdadeiros “donos da terra”. A águia, pela primeira vez, foi montada sobre uma grua, o que possibilitou um movimento completamente novo e de bom efeito. À frente dela, como sempre, estavam os componentes da velha-guarda, marcando presença na tradicional comissão de frente. Os mais de 4000 componentes vieram divididos em 23 alas. Confesso que eu não faço parte do time que torce o nariz para o samba de Neném, Mauro Silva e Carlinhos Madureira. Não estava no mesmo nível dos sambas de 87 e 88, mas era um samba de verdade, que contava relativamente bem o enredo. Aliás, eu achei excelente a cadência adotada pela bateria; deu ao samba um balanço especial, principalmente pelos ousados “desenhos” feitos pelos tamborins. A primeira parte do enredo foi dedicada ao quadro: “Portela, 65 Anos”. Uma enorme ala vestida de águia e o bonito carro do Candelabro, no qual desfilou a destaque Wanda Batista, compuseram esse setor. Em seguida, a escola mergulhou no enredo e apresentou várias embarcações de possíveis “visitantes” anteriores a Cabral. O setor egípcio era de uma beleza indescritível, com uma ala com penas de pavão alaranjadas, que compunha um cenário dos mais ricos. Passaram os assírios, fenícios, chineses e vikkings, todos muito bem representados em alegorias e fantasias. Antes do enredo abordar a versão oficial do descobrimento, apareceu um setor dedicado ao mar, com um carro em homenagem à Netuno. Os piratas e os invasores também foram lembrados pela Portela. No entanto, nada foi mais bonito que a sucessão de alas vestidas de índios, que formaram o quadro: “Os Donos da Terra”, já na parte final do desfile. Essas alas eram grandes, luxuosíssimas e de um bom gosto inquestionável. Poucas vezes eu vi índios tão bem vestidos na avenida. O desfile foi encerrado com uma das mais belas alas de baianas do ano, com flores sobre o torço e bonitos bordados nas saias. O desfile só não foi melhor porque o peso excessivo de algumas fantasias fez com que muitos componentes tivessem que desfilar segurando os chapéus. Uma pena!

O desfile compacto, colorido e revolucionário da Beija-Flor
BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS - Mais uma vez a polêmica do ano girou em torno de Joãozinho Trinta. Dias antes do desfile, a Igreja Católica entrou com uma ação na Justiça que pedia a proibição da imagem do Cristo Redentor no abre-alas da escola, que apresentaria o enredo: “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”. Esse enredo, além de fazer uma critica social das mais sérias, era uma resposta do carnavalesco aos que o acusaram de introduzir o luxo no carnaval e, ao mesmo tempo, uma resposta àqueles que o acusavam de não saber trabalhar com pouco dinheiro. Seria, segundo a sinopse, o “luxo do lixo, o lixo do luxo”. Com a proibição da imagem confirmada, todos queriam saber qual seria a solução que Joãozinho encontraria para que o desfile não fosse prejudicado. Antes da Beija-Flor entrar na Sapucaí, o carnavalesco desabafou: “Proibiram o povo de ver o Cristo. Ele vai desfilar encoberto, mas com a frase que talvez seja mais forte do que a própria imagem (Mesmo proibido olhai por nós!)”. Eu não conseguiria expressar em palavras o sentimento que eu tive na entrada da Beija-Flor, mas eu fiquei estupefato com os mendigos das primeiras alas e com os dois primeiros carros. Eu jamais imaginara ver um dia a grande escola de Nilópolis abrir um desfile com farrapos e sucatas. Foi um choque, mas tudo estava absolutamente dentro da proposta do enredo, que só ganhou cores vivas a partir do terceiro carro, que trazia Jésus Henrique como destaque principal. As fantasias que vieram em seguida formaram um belo conjunto, embora fossem feitas de estopa e trapos. Eu gostei bastante do setor da Igreja, que teve a predominância do “pink”, misturado ao preto e ao dourado. O Carro dos Loucos mostrou o “Lixo da Guerra”, com a representação dos quatro cavaleiros do apocalipse. Em seguida, o enredo apresentou o “Lixo do Sexo”, através de alas e de um carro com ambientação que remetia a Roma Pagã. Passaram os setores críticos à imprensa, todo em preto e branco, e à política, que foi o que eu menos gostei. No Carro dos Brinquedos, que teve Xuxa como destaque, as armas e os super-heróis vinham escondidos na parte de baixo, dando lugar aos brinquedos inocentes. No Carro da Xepa, a carruagem de Cinderela já tinha se transformado em abóbora. Aliás, nesse belo setor, as baianas da escola rodopiaram suas saias. O carro “Banquete dos Mendigos” teve a presença de Pinah, que desfilou pela última vez como destaque. No meio do desfile aconteceu uma coisa interessante: os portões foram abertos e o povo que se aglomerava no viaduto ao lado da Sapucaí pôde entrar e ocupar os espaços vazios deixados na arquibancada. Como bem lembrou Fernando Pamplona: “era o luxo virando lixo”. E o público acompanhou com entusiasmo a passagem das alas, que vibraram bastante com o samba da escola, que não era dos melhores, mas tinha um balanço contagiante. Achei muito interessante a apresentação dos oito casais de mestres-salas e porta-bandeiras. Logo após a exibição de Marco Aurélio e Rosária (primeiro casal), eles faziam uma coreografia especial e inédita. O desfile encerrou-se de forma apoteótica, com aplausos e gritos de: “é campeã”. Joãozinho Trinta e o figurinista Viriato Ferreira, assim como os outros 4000 componentes da escola, tinham conseguido passar a mensagem com competência e realizar um desfile histórico.

As tradicionais baianas do Império
IMPÉRIO SERRANO – O Império entrou na pista pouco depois das oito da manhã, sob um sol tímido, que insistia em se esconder entre as nuvens. O enredo “Jorge Amado, Axé Brasil”, do carnavalesco Oswaldo Jardim, era muito interessante: fazia uma exaltação ao escritor baiano através de seus principais personagens, que eram os grandes convidados para a comemoração em homenagem ao escritor. Com a difícil tarefa de manter o publico empolgado, depois da revolução estética causada pela Beija-Flor, a escola pisou firme na avenida e fez um desfile dos mais agradáveis. O carnavalesco optou pela leveza e criou figurinos coloridos, embora houvesse um bom predomínio das cores da escola. A comissão de frente representou os “Ministros de Oxalá” e ainda na primeira parte do desfile apareceu um bonito carro referente às deliciosas batidas baianas. Adorei as alas de Oxossi e Ogum, assim como todo setor referente ao mar. Aliás, o carro de Iemanjá, com conchas e cavalos marinhos, estava bem bonito. Também gostei do setor dedicado ao romance “Gabriela, Cravo e Canela”, que foi mostrado com alas representando pimenta, tomate, cebola e com o carro do fogão, cheio de bonecos de espuma em forma de caldeirão, panela e tempero. O desfile foi muito criativo. Percebia-se que a proposta era jovial e divertida, mas alguns senões prejudicaram a escola. Entre eles, eu destaco o considerável número de componentes sem chapéu e o grande número de alas com poucos componentes, o que atrapalhou um pouco o conjunto visual, a harmonia e a evolução, já que houve mistura de alas. Jorge Amado desfilou no último carro, ao lado de vários amigos e artistas. A bateria acompanhou muito bem o samba de Beto Sem Braço, Aluízio Machado, Bicalho e Arlindo Cruz. O Império fez um desfile digno de sua história e encerrou com beleza o longo e agradável desfile de 1989.

O carnaval de 89 apresentou, sem dúvidas, uma enorme variedade de estilos. Houve desfiles para todos os gostos. Desde a divertida apresentação do Arranco até a emoção do desfile da Vila Isabel. Da alegria e beleza da Ilha ao extremo luxo da Portela. Do clássico desfile da Imperatriz ao revolucionário espetáculo criado por Joãozinho Trinta. E se a maioria dos sambas já não tinha a mesma categoria apresentada até a metade da década, pelo menos as baterias insistiam em manter uma boa cadência.

Quatro escolas foram apontadas como favoritas ao titulo: Salgueiro, Imperatriz, Vila Isabel e Beija-Flor, que era a principal candidata segundo os especialistas e o público em geral. Na minha opinião, poderíamos dividir as candidatas em dois grupos: Salgueiro, Imperatriz e Beija-Flor (principais candidatas) e União da Ilha, Vila Isabel e Portela (com algumas chances). As outras escolas brigariam, no máximo, por boas colocações.

Os envelopes, como de costume, foram abertos na quarta-feira de cinzas no Maracanazinho. A primeira surpresa aconteceu logo na leitura das notas do primeiro quesito, quando o julgador Cláudio Luiz Matheus (bateria) deu nota nove para a União da Ilha. É bom lembrar que as notas variavam entre cinco e dez, sem permissão para notas fracionadas em meio ponto. No Quesito Samba-Enredo, mais surpresas: o julgador Hilton Prado preferiu várias marchinhas ao belo samba da Tradição, para o qual ele atribuiu nota oito. E o que dizer do jornalista João Máximo, que deu oito para a Tradição e nove para o belíssimo samba do Salgueiro? Aliás, as notas de João Máximo começaram a definir o campeonato, pois a Beija-Flor, que liderava a apuração ao lado da Imperatriz e da Vila, foi “agraciada” com a sua primeira nota nove. No Quesito Harmonia não existiram grandes surpresas. Tradição e Salgueiro, que tiveram problemas, foram punidas. No Quesito Evolução a Beija-Flor perdeu mais um pontinho, mas é bom lembrar que esses pontos perdidos só teriam importância em caso de empate, pois a nota mais baixa era eliminada. A Beija-Flor também perdeu um ponto em Conjunto. Aliás, as únicas escolas que receberam dez dos três jurados de Conjunto foram: União da Ilha, Salgueiro, Imperatriz, Portela e, para minha surpresa, o Império Serrano. No Quesito Fantasias algumas notas também são dignas de serem registradas. O julgador Paulo Coelho só deu nota dez para Beija-Flor, Imperatriz, Ilha e, pasmem, Unidos da Ponte, que estava muito ruim em termos de figurinos. Sua nota mais baixa foi para a Tradição, que parecia ser a perseguida do júri: sete. Para a Unidos do Jacarezinho, que também não veio nada bem no quesito, deu uma boa nota nove, a mesma atribuída para a Portela, Estácio e Salgueiro, que estavam infinitamente superiores. Já o julgador Marcelo Silva mostrou toda a sua incompetência ao dar nota dez para todas as escolas, exceto para a Unidos do Cabuçu e Tradição, que receberam nota nove. As notas do Quesito Comissão de Frente deixaram clara a intenção do júri (ou de sabe-se lá quem) em rebaixar a escola de samba Tradição, que recebeu nota cinco dos três julgadores. Muitos críticos atribuíram isso ao fato da escola ter colocado uma ala de passos marcados à frente do abre-alas e da própria comissão. Ora, nesse caso, muitas escolas teriam que ter sido punidas, inclusive a Imperatriz, que trouxe Max Lopes à frente da comissão com um enorme estandarte. As últimas notas a serem lidas foram dos julgadores de Alegorias e Adereços. Eu acho interessante destacar algumas notas do publicitário Lula Vieira, que preferiu o fraco conjunto de alegorias da Mocidade, da Vila e da São Clemente às boas alegorias da União da Ilha, que foi “agraciada” com a nota oito, mesma nota dada às horrendas alegorias da Mangueira. Vai entender...

A Beija-Flor e a Imperatriz terminaram empatadas em número de pontos, mas, como se sabe, o critério de desempate foi aplicado e a Beija-Flor, que tinha eliminado três notas nove, acabou ficando em segundo lugar. O curioso é que os dirigentes das duas agremiações não tinham conhecimento do regulamento e os componentes das duas escolas comemoraram o empate em primeiro lugar. Anízio e Luizinho quase se beijaram de tanta felicidade, mas, depois de alguns minutos, a verdade veio à tona e Nilópolis chorou um amargo vice-campeonato.

A vitória da Imperatriz foi merecida (era uma das favoritas), mas é muito estranho que o júri tenha observado somente os defeitos das outras escolas e nunca as falhas da Imperatriz, que recebeu notas máximas de todos os julgadores. Se o empate tivesse sido confirmado o resultado teria sido muito mais justo e menos polêmico.

Eis o resultado geral:

1º Imperatriz Leopoldinense – 210 pontos
2º Beija-Flor de Nilópolis – 210
3º União da Ilha – 209
4º Unidos de Vila Isabel – 207
5º Acadêmicos do Salgueiro – 207
6º Portela – 206
7º Mocidade Independente de Padre Miguel – 203
8º Unidos da Tijuca – 201
9º Estácio de Sá – 200
10º Império Serrano – 199
11º Estação Primeira de Mangueira – 197
12º Caprichosos de Pilares – 194
13º São Clemente – 185
14º Unidos do Cabuçu – 184
15º Unidos da Ponte – 179
16º Tradição – 172
17º Arranco do Engenho de Dentro – 172
18º Unidos do Jacarezinho – 169

Ao contrário do que previa o regulamento, somente as quatro escolas piores colocadas é que caíram de grupo: Jacarezinho, Arranco, Tradição e Ponte. A Cabuçu foi salva porque a Lins Imperial, segunda colocada no desfile do Grupo 2, entrou com uma ação na Justiça e ganhou o direito de desfilar no Grupo 1 em 1990. Assim sendo, a Liga achou por bem manter a Cabuçu no Grupo 1.

No Desfile das Campeãs, participaram seis escolas: Santa Cruz (campeã do Grupo 2) e as cinco primeiras colocadas do Grupo 1. É interessante observar que durante o desfile da Beija-Flor mais mendigos foram incorporados à abertura e o auge da apresentação se deu quando os componentes do abre-alas tiraram por conta própria a lona que cobria o Cristo, para os aplausos do grande público.
NOTAS DE 1989
 
 

Tendo em vista que vi o desfile pelo vídeo, não vou analisar os quesitos EVOLUÇÃO, HARMONIA E BATERIA. Os quesitos MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA e COMISSÃO DE FRENTE somente vou julgar a fantasia e o seu contexto com o enredo. O quesito SAMBA-ENREDO será julgado pela gravação do LP. O quesito ENREDO será julgado pela representatividade no desfile.

1º) ARRANCO
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 8
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 9
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 8
ENREDO: 9

2º) UNIDOS DO CABUÇU
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 8
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 9
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 8
ENREDO: 8

3º) UNIDOS DA PONTE
SAMBA-ENREDO: 7
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 7
FANTASIA: 7
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 9
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 7
ENREDO: 8

4º) MOCIDADE
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 9
ENREDO: 9

5º) TRADIÇÃO
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 8
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 8
ENREDO: 8

6º) UNIÃO DA ILHA
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 10
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 10
ENREDO: 10

7º) CAPRICHOSOS
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 9
COMISSAO DE FRENTE: 10
CONJUNTO: 9
ENREDO: 9

8º) SALGUEIRO
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 9
ENREDO: 10

9º) MANGUEIRA
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 7
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 8
ENREDO: 7

10º) JACAREZINHO
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 7
FANTASIA: 7
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 8
COMISSÃO DE FRENTE: 8
CONJUNTO: 7
ENREDO: 8

11º) IMPERATRIZ
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 10
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 10
CONJUNTO: 10
ENREDO: 10

12º) UNIDOS DA TIJUCA
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 9
ENREDO: 9

13º) SÃO CLEMENTE
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 8
FANTASIA: 8
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 8
ENREDO: 9

14º) ESTÁCIO
SAMBA-ENREDO: 8
ALEGORIA E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 9
ENREDO: 8

15º) VILA ISABEL
SAMBA-ENREDO: 10
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 10
CONJUNTO: 9
ENREDO: 10

16º) PORTELA
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 10
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 9
ENREDO: 9

17º) BEIJA-FLOR
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 10
FANTASIA: 10
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 10
CONJUNTO: 10
ENREDO: 10

18º) IMPÉRIO SERRANO
SAMBA-ENREDO: 9
ALEGORIAS E ADEREÇOS: 9
FANTASIA: 9
MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA: 10
COMISSÃO DE FRENTE: 9
CONJUNTO: 9
ENREDO: 9

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