Abro com um assunto de interesse geral do samba. É o TERREIRÃO DO SAMBA. Tenho passado quase todos os dias por aquele local e lá observo uma placa enorme: OBRAS DE AMPLIAÇÃO E REMODELAÇÃO DO TERREIRÃO DO SAMBA. Até o PALCO JOÃO DA BAIANA já botaram abaixo.
O fato de ampliar e remodelar aquele local são legais. Perfeitamente do direito e dever da RIOTUR E DA PREFEITURA da Cidade do Rio de Janeiro.
Estão anunciando que será construída uma praça de eventos com dois palcos de dois andares, com 24 camarotes, nove bares e duas casas de samba. Mas a preferência será para shows com atrações de artistas internacionais.
A bebericação será na base do bom uísque, da esnobe champanhota e a geladíssima vodka. Nada da boa cachacinha e uma boa cerva. A alimentação só será servida pelos bares, botequins e restaurantes mais famosos da cidade.
Nada tenho contra certas decisões de sua EXCELÊNCIA, o alcaide Eduardo Paes. Só que grande parte do pessoal do samba já começa perguntar: "E os sambistas como vão fazer para entrar no TERREIRÃO DO SAMBA"?
"Antigamente entrávamos apenas de fantasia. Comíamos farofa, sardinha frita e até feijoada, ovos cozidos, franguinhos, macarrão e bebericamos nossa cerva. Agora, pelo visto, nem pela porta vamos poder passar. Até porque, o preço do ingresso será só para os bacanas e turistas".
Para complicar ainda mais a situação o prazo para a finalização das obras no TERRREIRÃO DO SAMBA deverá se alongar até abril de 2012. Ou seja, 300 dias após serem iniciadas. A EMOP diz que não. Garante a empresa de obras do município que já no Carnaval o TERREIRÃO estará funcionando a pleno vapor com tudo sertanejo. Vamos acreditar
O fato mais complicado dessa situação é que desde março de 1991 funciona dentro do TERREIRÃO DO SAMBA, legalmente e com apoio oficial da RIOTUR, a entidade ASSSOCIAÇÃO CULTURAL DOS BARRAQUEIROS DO TERRREIRÃO DO SAMBA E ADJACÊNCIAS.
Essa bendita associação consta no seu quadro de associados com mais de 50 fieis barraqueiros, que na época no Carnaval contribuem com a soma no valor do montante de um salário mínimo que a RIOTUR embolsa sob alegação ser uma contribuição para o pagamento dos artistas. Até a utilização e a instalação do gás que CEG fornece ACBTSA paga em separado.
Durante todos esses anos a ACBTSA trabalhou com afinco e pagou seus deveres junto a RIOTUR e servindo suas comidinhas e bebedinhas bem ao gosto folião sambista carioca. Agora, pelo visto, vai ficar fora do novo TERREIRÃO DO SAMBA, pois apenas nove barraqueiros terão o direito de ocupar o espaço.
Houve época, não sei se ainda é assim, que o barraqueiro só podia comprar a bebida de acordo com o preço que a RIOTUR combinasse com o depósito que fornecia as bebidas. O ideal seria que RIOTUR criasse um esquema de trabalho que pudesse aproveitar os demais barraqueiros que vão ficar de fora da lista dos nove aproveitados.
Afinal, têm barraqueiros no TERREIRÃO DO SAMBA desde tempos do saudoso BARRACÃO SAMBA DO VELHO CAZUZA DA MANGUEIRA. É certo também que temos alguns desses barraqueiros costumam pisar bola e até as barracas alugam ou mesmo vendem. Nem por isso, os honestos, merecem uma troca por um desses bares sofisticados anunciados.
O TERREIRÃO DO SAMBA, em sua fase inicial e experimental servia, principalmente, como uma espécie de apoio ao grande desfile da Sapucaí, Todos os encontros entre os vários sambistas eram marcados ali ou no seu entorno.
Ainda, seus banheiros serviam para muito desfilantes trocarem suas fantasias antes ou depois da jiboia ser esticada na avenida. Depois tudo mudou, pois até mesmo o sambista fantasiado era obrigado a morrer na bilheteria.
Não se trata aqui de comprar o barulho dos barraqueiros. Trata-se apenas de lembrar que a meta social do governo é um dos carros-chefes do alcaide Eduardo Paes. Basta conferir a série de obras e melhoramentos que estão realizados pela cidade afora.
O TERREIRÃO DO SAMBA deveria ser mantido como local de concentração popular de sambista e não sofisticá-lo a ponto de afastar quem o criou e lhe deu vida. Ali é local do sambista, de fato e direito. Afastar o sambista do TERREIRÃO DO SAMBA não é uma medida correta. E sua EXCELÊNCIA Eduardo Paes sabe muito bem disso.
Como morador no bairro de Irajá há 25 anos tenho a obrigação de vir de público tratar de um assunto que diz respeito ao folguedo popular da minha localidade.
Dentro do varandão de realizações que o nosso alcaide está realizando em favor do samba uma agremiação continua esquecida: o BLOCO CARNAVALESCO BOÊMIOS DE IRAJÁ.
Fundado em fevereiro de 1967, e agora com uma nova diretoria, o BOÊMIOS DE IRAJÁ jamais teve atenção do PODER PUBLICO e há anos luta para voltar empolgar nos desfile da cidade como já o fez ao lado de CACIQUE DE RAMOS BAFO DA ONÇA.
O BOÊMIOS DE IRAJÁ ocupa um espaço (sua quadra) em Irajá, talvez superior em espaço ao CACIQUE DE RAMOS. No entanto, em RAMOS foi construída uma obra faraônica, e em Irajá nada foi feito ou mesmo planejado.
Nada contra a construção da quadra do CACIQUE DE RAMOS. Muito pelo contrário. Alguém precisava fazer algo em torno da movimentação cultural do bairro de RAMOS.
Esperava-se agora com esse vendaval de obras que a prefeitura anda se mobilizando e realizando nas quadras de samba, o BOÊMIOS DE IRAJÁ também fosse aquinhoado. Nada disso foi falado até agora pela EMOP.
Não seria o caso de haver uma mobilização geral por parte dos políticos do bairro? Talvez com uma pressão de vereadores e deputados, que são aliados do alcaide Eduardo Paes, quem sabe, sairia alguma coisa.
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