segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Cabelo de telhado

Na semana passada, na comemoração do centenário de nascimento de meu tio Francisco Teixeira, na ABI, reencontrei velhos amigos, dentre eles o político e jornalista Milton Temer, que conheço há muitos anos e me saudou com um comentário sobre o meu cabelo, que, segundo ele, nunca mudou, ao longo dos tempos. Na mesma hora me lembrei de um fato ocorrido no Império Serrano há uns dez anos, cujo protagonista, um intérprete de apoio, já não freqüenta mais a escola.


Estávamos em 2001 ou 2002, creio, e eu, como ritmista, ia aos ensaios técnicos às quartas, ao samba de sábado à noite e aos ensaios de rua de domingo. Este cantor, Jorginho da Flor, descobriu que eu morava na Zona Sul e passou a pegar carona comigo. Ele morava no início de Copacabana e eu levava em casa minhas caronas oficiais Marília e Conceição, amigas e companheiras nos chocalhos, que também eram de Copacabana. Vínhamos sempre falando muito, contando nossas histórias de sambista, em grande confraternização.

Três anos depois, quando eu já era vice-presidente da escola, meu querido amigo Joacyr, também ritmista, estava um dia tomando seu guaraná numa barraquinha do lado de fora da quadra, antes do começo de um ensaio, quando Jorginho da Flor chegou ao lado para tomar alguma bebida e puxou conversa. Quis saber se o Joacyr saía no Império. Joacyr respondeu amável que sim, que era ritmista. E aí Jorginho respondeu que quase não conhecia ninguém na bateria, só uma mulher que lhe dava carona no tempo em que ele não tinha carro, mas não lembrava o nome dela. "Mas você sabe quem é: é uma que tem um cabelo assim, de telhado" e mostrava com as mãos ao lado da cabeça como seria o tal penteado.

Joacyr contou esse diálogo a mim, furioso com o fato de ele ter escolhido justamente esse traço, e não tantos outros que me identificariam, para me descrever. Durante muito tempo todo o nosso círculo de amigos deu boas risadas com o "cabelo de telhado".

Depois Jorginho da Flor sumiu do Império, nem sei dizer exatamente quando. Parece que a causa foi um desentendimento com o Jorginho do Império, justamente quem o tinha levado para lá. E passou a só ser lembrado quando alguém me perguntava a origem da expressão "cabelo de telhado". Lembrei-me dele quando o Milton Temer falou da permanência desse penteado (se é que se pode chamar assim...), mas nada disse, porque, embora Milton goste de samba, estávamos totalmente fora de contexto.

Hoje, no Grito de Carnaval do Império Serrano, na quadra do Arrastão de Cascadura (a nossa entrou em obras), com a primeira apresentação dos 36 sambas concorrentes para o carnaval de 2012, tornei a ver Jorginho da Flor, que se preparava para defender um dos sambas. Por coincidência o Joacyr estava na mesma mesa que eu e tivemos que recordar o episódio e rir de novo. Não falei com o Jorginho da Flor e acho que ele nunca ficou sabendo que lhe sou devedora dessa simpática e precisa definição.

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