sexta-feira, 10 de junho de 2011

Verdades do Szaniecki e do JCN também deve ser ditas



Foto: DivulgaçãoO vitorioso carnavalesco Roberto Szaniecki abriu o bico: "Não termino mesmo".  Uma declaração simples, porém que já está causando grande repercussão no miolo do samba. Falou ele do não pagamento, por parte de muitas escolas, que deixam de efetuar, aos operários que empurram alegorias, ferreiros, funcionários, MS e PB e pequenos e médios fornecedores dos barracões. Só verdades, disse o RS. Merece louvores.

O JCN manja essa história desde tempo que o bicho cinco era amarrado com lingüiça. Isso acontece a torto e direito desde que o samba é samba. Só que agora atingiu um patamar muito alto, realmente chegando às raias da desonestidade. Não pagar o funcionário, que trabalha de fio a fio, além de ser desonesto é uma maldade, levando-se em conta, que a maioria das agremiações fatura os "capetas" e  certos presidentes só exibem carrões de luxo.

Faço coro com RS. Não pagou o trabalho, não termina! Já fui testemunha de vários episódios desse tipo. Quantos MS e PB, baianas e alas de crianças chegaram à avenida com suas fantasias (ou sem elas) incompletas e até sem os sapatos? Só que o grosso dos presidentes apresentam sempre uma tangente: "As fantasias não ficaram prontas ou estavam atrasadas". Quando na verdade, deveriam dizer a verdadeira verdade: "Eu não tive a dignidade de pagar. Por isso o profissional não entregou".

Quem mais sofre com esta situação de desonestidade são os pequenos e médios fornecedores (sapateiros, costureiras, bordadeiras e outros) dessa laboriosa mão de obra. Isto porque, os grandes fornecedores só trabalham com a verbinha na mão. Quando muito, aceitam receber cartas de crédito, desde que corra uns juruzinhos. Ou seja: um superfaturamentozinho não faz mal a ninguém. Isso é comum e todo mundo sabe disso.

A matéria é apenas para continuar aplaudindo de pé a coragem do carnavalesco Szaniecki em abrir o jogo de uma coisa que todos já participam. JCN conhece  vários desses lances.

Senão vejamos: Carnaval de 1969. Unidos do Jacarezinho, na Rio Branco quase pronta para o seu desfile. Mas, eis que noto que a fantasia da Ala da Bateria estava incompleta. Faltava a parte de cima da roupa, justamente a parte que completava a fantasia "Dragões da Independência" no enredo "Vila Rica do Pilar".

Como Diretor de Carnaval, corro em cima, do então presidente, o saudoso Ney Gaspar Gonçalves e faço a indagação: Ney, o que aconteceu com o restante das fantasias da bateria?"

Dentro da maior sinceridade do mundo ele responde de pronto: "JCN, eu não tive dinheiro para pagar e o alfaiate não mandou a fantasia completa, só mandou as o que paguei". O JCN então pergunta: Qual o presidente de hoje que teria o desassombro do NGG em responder com tanta sinceridade? Minha resposta: "Nenhum deles".  Resultado do desfile: Jacarezinho segundo lugar.

Outra história hilária dentro desse assunto.  Aconteceu em 1974, no desfile da União da Ilha do Governador. O então, também saudoso, presidente Jucy Curvelo havia prometido pagar a soma de 800 cruzeiros (ainda era o cifrão da moeda nacional na época) para o seu casal de MS e PB, Periquitinho e Nadir.  Só que o Jucy, temeroso dos escândalos que saudosa Nadir (irmã do compositor Jorge Lucas, do Império Serrano) costumava aprontar entregou a ela o seu dinheiro.  Mas o carvão do Periquitinho ficou no ora veja.

Chega o momento do desfile. Procuro o Periquitinho e o encontro com uma bolsa da casa Sendas nas mãos e já calçado com as botas do desfile. Diz o JCN para ele: "Muda logo a fantasia que a escola já está andando" E ele me responde rapidinho "Só vou desfilar se o presidente Juci me pagar os 800 cruzeiros que prometeu".

Confesso que quase desabei, pois a escola só tinha um casal de MS e PB.  Nesse momento surge um amigo salvador da pátria, o saudoso Édson da Cruz Lobo, o popular Edinho. O pai de Edinho, seu Edvaldo da Cruz Lobo, brilhante oficial da FAB, havia falecido de desastre de carro e o Edinho herdou dele um trabuco, sem mais tamanho, que mal cabia na sua cintura.

De imediato, o Edinho saca do trabuco, primeiro o enfiou goela dentro do Periquitinho dizendo: "Se você não desfilar, hoje, não vai desfilar nunca mais".  Nem é preciso riscar que o Periquitinho procurou logo um abrigo qualquer na Rio Branco e vestiu rapidamente a sua fantasia e correu para o lado da Nadir. Durante o desfile, Edinho acompanhou Periquitinho o tempo todo do desfile, e sempre que podia mostrava para o pobre MS o seu bacamarte, que mal cabia na cintura, mas por sinal, muito bem "azeitado"   

O bacamarte do Edinho foi fundamental.  Periquitinho dançou, sambou como nunca e abiscoitou a nota Dez. Explica-se: a nota do quesito MS e PB era dada em separado para o casal. Se o Juci Curvelo depois pagou ao Periquitinho, só Deus sabe, mas a União da Ilha subiu então para o primeiro grupo.

No último carnaval sua Excelência, o nosso alcaide Eduardo Paes estava em visita à Cidade do Samba, quando de repente, em determinado barracão, foi cercado por um grupo de operários, ferreiros, carpinteiros e aderecistas etc.   

Queriam aqueles profissionais a interferência do nosso EP para receber seus salários, que já estavam em atraso há vários dias. Sinceramente, não sei se o nosso alcaide teve êxito no pedido que fez para o presidente da referida escola. Sei apenas que no dia seguinte a maioria dos reclamantes foi demitida do barracão.

Existe ainda a história de um abalizado jornalista - escritor que por três anos a fio aparece sempre escrevendo enredos para determinada escola de samba. Só que até hoje, o seu rico dinheirinho jamais fez morada em sua algibeira. No outro dia, JCN testemunhou o próprio citado cercando, como se cerca frango, em plena quadra da escola tentando receber o seu capilé. Não me consta que tenha tido êxito.

Uma do arco da velha: O Carnaval estava em fase de finalização no antigo barracão da Portela, no Pavilhão de São Cristovão. O carnavalesco Geraldo Cavalcante avisou ao presidente, Carlos Teixeira Martins, que faltavam alguns metros de um bordado para completar sete das fantasias da Ala de Baianas. A resposta foi curta e grossa: "Arranque os enfeites das que já estão colocados nas outras 120 fantasias das baianas. Não vou comprar mais enfeite nenhum e também não vou pagar o que comprei. Aquele pilantra tinha cobrado muito caro". E ficou nisso. As baianas desfilaram sem a barra da fantasia e o fornecedor ficou sem a sua verbinha.

Existe ainda aquela história, recente por sinal, daquele conhecido e popular (tido como presepeiro, fanfarrão e brioqueiro), pipoqueiro ou vanzeiro (condutor de van) que sempre era contratado para conduzir os componentes de determinada escola de samba para shows e saídas. Pois bem. Um dia ele foi ao barracão da escola tentar receber o que tinha sido acordado. Resultado: Insuflados pelo presidente da escola, os brutamontes, tido como seguranças, enfiaram a porrada no dito. A surra foi forte, ele teve uma mãos quebradas a acabou por vários dias internado Souza Aguiar. Todavia, jamais recebeu sua verbinha, apesar de ter espalhado para o mundo todo que havia entrado com ações na Polícia e na Justiça.

O JCN apenas aproveitou as assertivas ditas pelo carnavalesco Roberto Szaniecki  para contar algumas historinhas. A intenção não é ofender e tampouco mostrar alguns trambiqueiros do samba. Na questão, pagamento de gente que labuta nos barracões e mais, sapateiros, costureiras e outros entendo que tanto a LIESA, como LESGA e AESCRJ deveriam criar um mecanismo legal e oficial, em conjunto que viesse impedir os beiços que certos presidentes aplicam nesses pobres coitados.

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