O JCN manja essa história desde tempo que o bicho cinco era amarrado com lingüiça. Isso acontece a torto e direito desde que o samba é samba. Só que agora atingiu um patamar muito alto, realmente chegando às raias da desonestidade. Não pagar o funcionário, que trabalha de fio a fio, além de ser desonesto é uma maldade, levando-se em conta, que a maioria das agremiações fatura os "capetas" e certos presidentes só exibem carrões de luxo.
Faço coro com RS. Não pagou o trabalho, não termina! Já fui testemunha de vários episódios desse tipo. Quantos MS e PB, baianas e alas de crianças chegaram à avenida com suas fantasias (ou sem elas) incompletas e até sem os sapatos? Só que o grosso dos presidentes apresentam sempre uma tangente: "As fantasias não ficaram prontas ou estavam atrasadas". Quando na verdade, deveriam dizer a verdadeira verdade: "Eu não tive a dignidade de pagar. Por isso o profissional não entregou".
Quem mais sofre com esta situação de desonestidade são os pequenos e médios fornecedores (sapateiros, costureiras, bordadeiras e outros) dessa laboriosa mão de obra. Isto porque, os grandes fornecedores só trabalham com a verbinha na mão. Quando muito, aceitam receber cartas de crédito, desde que corra uns juruzinhos. Ou seja: um superfaturamentozinho não faz mal a ninguém. Isso é comum e todo mundo sabe disso.
A matéria é apenas para continuar aplaudindo de pé a coragem do carnavalesco Szaniecki em abrir o jogo de uma coisa que todos já participam. JCN conhece vários desses lances.
Senão vejamos: Carnaval de 1969. Unidos do Jacarezinho, na Rio Branco quase pronta para o seu desfile. Mas, eis que noto que a fantasia da Ala da Bateria estava incompleta. Faltava a parte de cima da roupa, justamente a parte que completava a fantasia "Dragões da Independência" no enredo "Vila Rica do Pilar".
Como Diretor de Carnaval, corro em cima, do então presidente, o saudoso Ney Gaspar Gonçalves e faço a indagação: Ney, o que aconteceu com o restante das fantasias da bateria?"
Dentro da maior sinceridade do mundo ele responde de pronto: "JCN, eu não tive dinheiro para pagar e o alfaiate não mandou a fantasia completa, só mandou as o que paguei". O JCN então pergunta: Qual o presidente de hoje que teria o desassombro do NGG em responder com tanta sinceridade? Minha resposta: "Nenhum deles". Resultado do desfile: Jacarezinho segundo lugar.
Outra história hilária dentro desse assunto. Aconteceu em 1974, no desfile da União da Ilha do Governador. O então, também saudoso, presidente Jucy Curvelo havia prometido pagar a soma de 800 cruzeiros (ainda era o cifrão da moeda nacional na época) para o seu casal de MS e PB, Periquitinho e Nadir. Só que o Jucy, temeroso dos escândalos que saudosa Nadir (irmã do compositor Jorge Lucas, do Império Serrano) costumava aprontar entregou a ela o seu dinheiro. Mas o carvão do Periquitinho ficou no ora veja.
Chega o momento do desfile. Procuro o Periquitinho e o encontro com uma bolsa da casa Sendas nas mãos e já calçado com as botas do desfile. Diz o JCN para ele: "Muda logo a fantasia que a escola já está andando" E ele me responde rapidinho "Só vou desfilar se o presidente Juci me pagar os 800 cruzeiros que prometeu".
Confesso que quase desabei, pois a escola só tinha um casal de MS e PB. Nesse momento surge um amigo salvador da pátria, o saudoso Édson da Cruz Lobo, o popular Edinho. O pai de Edinho, seu Edvaldo da Cruz Lobo, brilhante oficial da FAB, havia falecido de desastre de carro e o Edinho herdou dele um trabuco, sem mais tamanho, que mal cabia na sua cintura.
De imediato, o Edinho saca do trabuco, primeiro o enfiou goela dentro do Periquitinho dizendo: "Se você não desfilar, hoje, não vai desfilar nunca mais". Nem é preciso riscar que o Periquitinho procurou logo um abrigo qualquer na Rio Branco e vestiu rapidamente a sua fantasia e correu para o lado da Nadir. Durante o desfile, Edinho acompanhou Periquitinho o tempo todo do desfile, e sempre que podia mostrava para o pobre MS o seu bacamarte, que mal cabia na cintura, mas por sinal, muito bem "azeitado"
O bacamarte do Edinho foi fundamental. Periquitinho dançou, sambou como nunca e abiscoitou a nota Dez. Explica-se: a nota do quesito MS e PB era dada em separado para o casal. Se o Juci Curvelo depois pagou ao Periquitinho, só Deus sabe, mas a União da Ilha subiu então para o primeiro grupo.
No último carnaval sua Excelência, o nosso alcaide Eduardo Paes estava em visita à Cidade do Samba, quando de repente, em determinado barracão, foi cercado por um grupo de operários, ferreiros, carpinteiros e aderecistas etc.
Queriam aqueles profissionais a interferência do nosso EP para receber seus salários, que já estavam em atraso há vários dias. Sinceramente, não sei se o nosso alcaide teve êxito no pedido que fez para o presidente da referida escola. Sei apenas que no dia seguinte a maioria dos reclamantes foi demitida do barracão.
Existe ainda a história de um abalizado jornalista - escritor que por três anos a fio aparece sempre escrevendo enredos para determinada escola de samba. Só que até hoje, o seu rico dinheirinho jamais fez morada em sua algibeira. No outro dia, JCN testemunhou o próprio citado cercando, como se cerca frango, em plena quadra da escola tentando receber o seu capilé. Não me consta que tenha tido êxito.
Uma do arco da velha: O Carnaval estava em fase de finalização no antigo barracão da Portela, no Pavilhão de São Cristovão. O carnavalesco Geraldo Cavalcante avisou ao presidente, Carlos Teixeira Martins, que faltavam alguns metros de um bordado para completar sete das fantasias da Ala de Baianas. A resposta foi curta e grossa: "Arranque os enfeites das que já estão colocados nas outras 120 fantasias das baianas. Não vou comprar mais enfeite nenhum e também não vou pagar o que comprei. Aquele pilantra tinha cobrado muito caro". E ficou nisso. As baianas desfilaram sem a barra da fantasia e o fornecedor ficou sem a sua verbinha.
Existe ainda aquela história, recente por sinal, daquele conhecido e popular (tido como presepeiro, fanfarrão e brioqueiro), pipoqueiro ou vanzeiro (condutor de van) que sempre era contratado para conduzir os componentes de determinada escola de samba para shows e saídas. Pois bem. Um dia ele foi ao barracão da escola tentar receber o que tinha sido acordado. Resultado: Insuflados pelo presidente da escola, os brutamontes, tido como seguranças, enfiaram a porrada no dito. A surra foi forte, ele teve uma mãos quebradas a acabou por vários dias internado Souza Aguiar. Todavia, jamais recebeu sua verbinha, apesar de ter espalhado para o mundo todo que havia entrado com ações na Polícia e na Justiça.
O JCN apenas aproveitou as assertivas ditas pelo carnavalesco Roberto Szaniecki para contar algumas historinhas. A intenção não é ofender e tampouco mostrar alguns trambiqueiros do samba. Na questão, pagamento de gente que labuta nos barracões e mais, sapateiros, costureiras e outros entendo que tanto a LIESA, como LESGA e AESCRJ deveriam criar um mecanismo legal e oficial, em conjunto que viesse impedir os beiços que certos presidentes aplicam nesses pobres coitados.
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