quinta-feira, 9 de junho de 2011

Pergunte ao Criador...



Foto: DivulgaçãoAconteceu na semana passada, a conversa na roda animada, o presidente de uma querida escola não se conteve e "mandou": eu não aguento mais enredos de origem africana, eu não, ninguém mais aguenta... Meu amigo perdoe refutar a sua idéia, mas o debate será sempre salutar e, por isso, recorro aos números e à estatística para salvaguardar o pensamento.
É Impossível precisar, mas é ponto de convergência entre a maioria dos africanistas que entre 10 a 12 milhões de africanos foram trazidos para o Brasil, cerca de 280 etnias aportaram em terras tupiniquins: Haussas, Ashantis, Fons, Fulanis, Mandingas, Cambindas, Yorubás são algumas das nações que viram seus homens e mulheres, tratados como animais e controlados pelo chicote e os grilhões, e que trouxeram em seus corpos as suas memórias, em cada cicatriz, a grandeza de suas culturas, seus dialetos e tudo mais que um oceano de lamentos e um mar de sangue não conseguiram afogar.
Os órfãos da negra mãe navegaram com Xangô clamando por justiça, bateram o seu tambor pra não esquecer seus ideais, sofreram com Oxalá e lutaram com Zumbi, brincaram nos cucumbis, comeram o vatapá. A Diáspora Africana criou o candomblé, jogou a capoeira e desfilou o Ijexá. Sambou com a Mãe Quelé, compôs com Silas de Oliveira e resiste na história de vida de Luis Gama, Tia Ciata, Chico da Matilde, Solano Trindade... Permanece incólume na luta silente de resgate aos bravos que a historia oficial não viu, não escreveu e não levou para escola.
Qualquer lista de 10 melhores sambas que fizermos terá no mínimo quatro sambas de motivo Afro descendente: todos nós cantamos a Kizomba da Vila, o Chico Rei do Salgueiro, as Áfricas da Beija Flor e o Mar Baiano de Lucas. Os Heróis da Liberdade "...De Lamento em lamento, de agonia em agonia..." à espera do Sublime Pergaminho... E quando Obatalá mandou chamar seus filhos, juro não conhecia meus irmãos Agudás. Pois bem, estamos cansados de ver alegorias ornadas com materiais que lembram "Marfim e pele de Zebra", ouvir as cansadas rimas axé e fé pra chegar ao samba no pé, e a velha bossa de bateria em ritmo de afoxé, cansamos, sim, das repetições e não das grandes histórias esquecidas na poeira da memória.
Numa época em que as cotas universitárias estão vencendo as resistências Foto: Reprodução de Internetsociais e o ensino da Historia da África e dos Afro descendentes, por força da lei, risca a lousa, o Samba não pode esquecer as suas raízes.
Obs: Meu presidente, caso permaneça qualquer dúvida, após essa breve e simples defesa: "... Pergunte ao criador quem pintou essa aquarela..."
Nota: Faça você também a sua lista dos cinco melhores sambas de temática "Afro", eu fiz a minha e juro que não foi nada fácil, com certeza devo ter cometido alguma injustiça, são eles aleatoriamente:
• Sublime Pergaminho;
• Kizomba, A festa da Raça;
• Heróis da Liberdade;
• 100 anos de Liberdade: Realidade ou Ilusão e
• Agudás.

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