segunda-feira, 23 de maio de 2011

O X do problema



Não foi por acaso que Rosa Magalhães e Renato Lage se esquivaram a opinar sobre o julgamento das escolas de samba no debate da semana passada no CCBB. Trata-se de uma questão espinhosa, já muito discutida e para a qual ainda não se encontrou solução satisfatória. Aliás, creio que estamos longe disso. Não que seja difícil atinar com soluções e a cada ano, quando se reacende o debate, não faltam sugestões para melhorar o sistema de julgamento. Mas as medidas tomadas até agora não serviram para aprimorar o julgamento e os questionamentos se repetem. 
Poderíamos citar inúmeros exemplos de resultados absurdamente distorcidos, mas não sei se isso levaria a algum lugar. Melhor reabrir mais uma vez a questão e esperar que dos apreciadores da festa venham ideias e sugestões. Na verdade, a discussão passa por (pelo menos) duas questões: a da escolha dos julgadores e a da forma de julgamento.
Sobre a primeira, sempre me pareceu inadequado escolher pessoas que, apesar de conhecidas e respeitadas em seus afazeres, não têm ligação direta com o fazer carnavalesco. Bailarinos e coreógrafos clássicos, por exemplo, têm parâmetros de qualidade bem diferentes daqueles que nossa arte popular exigiria. O mesmo vale para artistas plásticos e para maestros, às vezes incapazes sequer de entender o que se passa diante de seus olhos. E não creio também que seja boa prática manter anos a fio um julgador em determinado quesito - alguns deles lá estão há muito tempo mesmo -, impedindo que um olhar novo recaia de maneira  inesperada sobre o mesmo objeto.
Com relação à forma de julgamento, tudo muda e se moderniza no carnaval, menos ela. As dúvidas levantadas recentemente sobre a inviolabilidade dos envelopes, no julgamento da LESGA, poderiam ser facilmente evitadas com a utilização de sistema eletrônico de apuração  que permitiria total transparência e segurança. Ou, melhor ainda: poderiam ser facilmente evitadas se houvesse real interesse na transparência.
Outro problema sempre levantado é o da pontuação. O sistema atual permite que um julgador "plantado" para tirar uma agremiação da disputa lhe atribua uma nota que inviabilize sua recuperação e muito se discute se os décimos intermediários seriam um bem ou um mal.
O espetáculo oferecido pelas escolas de samba no carnaval vai bem, desperta interesse e reúne um público fabuloso. Mas ele se baseia, desde que surgiu, numa disputa. Se esta não é justa, se se torna meramente simbólica, está sendo minado o cerne da sua tradição: o descrédito e o conseqüente desinteresse pelo certame substituem as paixões. É hora de pensar neste que é no momento o principal problema do desfile das escolas de samba e tentar resolvê-lo antes que seja tarde. 
                                                            * * *
Sábado último, na Feijoada Imperial, na quadra do Império Serrano, fui efusivamente saudada por inúmeras pessoas que nunca antes se haviam dirigido a mim. São leitores do SRZD-Carnaval e se manifestaram com simpatia com relação aos textos que tenho publicado. Para mim, estreante na mídia eletrônica, foi surpresa a enorme repercussão do nosso trabalho junto ao público. Aumenta a responsabilidade e também a satisfação de participar.

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