- Foi uma situação muito delicada. Quando o Império Serrano decidiu reeditar uma obra tão famosa como "Aquarela Brasileira", tive um enorme receio. Era um risco muito grande levar para a avenida um samba consagrado quarenta anos antes. Ainda bem que tínhamos um diretor de bateria (Mestre Átila), que apesar de estar começando, compreendeu como poucos o que significava aquele momento. Se esse samba, que muita gente boa considera o melhor de todos os tempos, não "acontecesse" no desfile, poderia ter me prejudicado. Como as coisas deram certo e o resultado foi positivo, acabou alavancando minha carreira. Ali eu aprendi a encarar o desafio, pois este foi o maior de todos.
A chuva que caia naquela noite de carnaval bem que tentou, mas não conseguiu diminuir a empolgação do componente imperiano que pisou na avenida sabendo que estava fazendo história. O período de produção do carnaval havia sido muito conturbado, não apenas pelas dificuldades enfrentadas por todas as agremiações, mas pelo problema político que abateu a escola da Serrinha, com constantes trocas de presidente, que atrapalharam muito o desenvolvimento do desfile, principalmente a produção das fantasias e das alegorias. Essa troca de poder fez que o Império Serrano tivesse graves problemas para desenvolver sua parte plástica.
- O momento que mais me marcou foi quando a falecida "Cigana Guerreira" (Neide Coimbra, presidente da escola) me chamou em um canto na concentração e disse que todo o ano, todo o esforço, todo o desfile do Império Serrano dependia daquele trabalho de harmonia e daquele samba-enredo. Chovia muito e o clima era de apreensão. Sabíamos que a escola tinha um chão que poderia responder à altura do nosso esforço. Toda a responsabilidade estava em cima do samba da escola. O carnaval começa na concentração. Se a concentração não for bem feita, não tem jeito, a escola não chega forte na Apoteose. Mas se largarmos bem, com certeza chegamos melhor na segunda parte do desfile, por isso, fizemos um planejamento para que o samba explodisse ainda no primeiro recuo e felizmente fomos correspondidos.
Quando os versos do refrão eram entoados e os últimos componentes se aproximavam da dispersão, todos que estavam presentes tinham a certeza de que estavam assistindo a um momento mágico proporcionado por um desfile de escola de samba. Para alguns ficou a sensação de que o Mestre Silas de Oliveira estava na avenida, sambando feliz junto a sua escola de coração. A emoção que tomou conta de todos se materializou em manchetes de jornais e em prêmios, concedidos pelos mais diversos veículos de comunicação. O Império Serrano foi a quarta escola a desfilar naquela segunda-feira de carnaval e mesmo brigando com gigantes como a surpreendente Unidos da Tijuca, Mangueira e Beija-Flor, a verde e branco da Serrinha foi a grande campeã popular do carnaval.
- Foi muito gratificante quando abri o jornal na quarta-feira de cinzas e li a manchete "Império Serrano, campeã do povo’’. Fiquei muito emocionado. Naquele ano ganhamos cinco "Estandartes de Ouro", entre eles: samba-enredo, bateria, escola e intérprete. Foi sem dúvida um grande ano para mim como cantor de samba, como intérprete de carnaval, pois nosso trabalho foi reconhecido por todos que conhecem carnaval. Além do mais conquistamos as quatro notas dez em samba-enredo.
Cria da Beija-Flor de Nilópolis, onde começou ao lado do irmão Neguinho, com mais de trinta anos de carreira, Nêgo já passou por escolas como Unidos da Tijuca, Grande Rio, Salgueiro, Viradouro e atualmente defende o microfone principal da Mocidade Independente de Padre Miguel.
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