A LAPA DE ADÃO E EVA
Ao tomar ciência de que a pedra do Pão de Açúcar foi considerada, em 1912, como uma das formações rochosas mais antigas da Terra, Joãosinho Trinta não teve dúvida: o Paraíso se localizava ali. Entre a divina trindade (formada pelo próprio Pão de Açúcar, o Corcovado e a Pedra da Gávea), viviam Adão, o primeiro malandro da Lapa, e Eva, a primeira garota de Ipanema. E neste paraíso de loucuras da Beija-Flor, também havia uma serpente: Madame Satã. O paralelo traçado por Joãosinho entre o Rio de Janeiro e as inscrições sagradas transformou a Praça Tiradentes em Sodoma e Gomorra. A cidade carioca virou uma grande Torre de Babel e no paraíso habitado por índios, o “Cacique de Ramos” lutou contra o "Bafo da Onça" e os fenícios (“Os Fenianos”) travaram batalhas contra os “Tenentes do Diabo”, numa alusão ao desfile dessas duas grandes sociedades do carnaval carioca.
Detalhes do abre-alas, com Jésus Henrique (O Criador)
A grande Torre de Babel, representada em alegoria giratória.
O Paraíso habitado por tribos carnavalescas
Com tanta imaginação, não seria difícil para a Beija-Flor encantar o público. Em 1985, a escola de Nilópolis foi a sexta a desfilar na segunda-feira. Havia preparado seu carnaval para a noite, mas por conta de atrasos de outras agremiações, acabou desfilando debaixo de sol forte e de muito calor. Isso, porém, não tirou o ânimo dos sambistas, que tinham consciência do enredo maravilhoso que Joãosinho Trinta havia preparado.
Do início ao fim de sua apresentação, a Beija-Flor desfilou com beleza e irreverência, fazendo, inclusive, críticas sociais e políticas. Ao invés do azul e do branco tradicionais, que tiveram destaque apenas no primeiro e último setores, a escola desfilou multicolorida e com muitos destaques alados sobre suas alegorias.
Praça da Apoteose - Carros do Pecado Original (à frente) e da Pedra da Gávea (ao fundo)
Ao samba, apesar de quase tão irreverente quanto o tema, faltou uma melodia melhor, mas isso parecia não importar para os componentes da escola, que cantaram os versos com bastante empolgação.
Elogiada pela crítica, a comissão de frente perdeu pontos preciosos do júri oficial.
Na apuração, dois quesitos foram fundamentais para que a Beija-Flor ficasse em segundo lugar, perdendo o título para a Mocidade, com o seu também fantástico “Ziriguidum 2001”: comissão de frente e, lamentavelmente, enredo. Parece que tamanha criatividade não sensibilizou os julgadores, que por falta de boa vontade ou desentendimento da proposta de Joãosinho, puniram a escola em três pontos (8 e 9). Lembrando do samba: “Que de braços abertos Redentor peça ao Pai que os perdoe!”
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