terça-feira, 24 de maio de 2011

'Como vou pedir pra alguém trabalhar sem receber?', diz Szaniecki



Foto: Reprodução de Internet
Atual carnavalesco da Porto da Pedra e da paulistana Império de Casa Verde, Roberto Szaniecki teve passagens por diversas agremiações, sendo algumas delas um tanto polêmicas. Roberto sempre foi acusado de deixar seu trabalho incompleto, com alegorias e fantasias inacabadas. Em conversa com o SRZD-Carnaval, Roberto alegou que seu problema eram fatores externos que acabavam prejudicando o andamento do trabalho, como falta de pagamento dos funcionários do barracão. Em relação a estes e outros casos, Roberto foi direto: "Não termino Carnaval mesmo não".
No último Carnaval, Roberto foi o responsável pelo desfile da Portela. Ele contou que adorou trabalhar na agremiação. "É uma escola maravilhosa, com uma energia fantástica." Ele também disse que sua relação com o presidente Nilo Figueiredo era boa. "Nilo é uma pessoa fantástica, nos entendíamos bem".
A Portela foi uma das escolas atingidas pelo incêndio na Cidade do Samba, cerca de um mês antes do Carnaval. Roberto acredita que conseguiu refazer o trabalho "na medida do possível", apesar das perdas materiais e de tempo que teve. "As esculturas, adereços e peças de fibra da Portela estavam todas no quarto andar, que pegou fogo. Além disso nossos carros alegóricos ficaram 11 dias sem ter onde ficar".
Portas abertas na Mangueira e otimismo com "dois tigres"
Em 2009 Roberto atuou na Mangueira, com o enredo sobre a formação do povo brasileiro. Ele também elogiou bastante a escola mas destacou que era outra agremiação passando por um momento conturbado. "Também é uma escola com uma energia fantástica. Estava em um momento difícil, de transição de gestões. Foi complicado, houve falta de apoio e de dinheiro."
Apesar das dificuldades, ele afirmou que saiu de forma amigável da escola e que voltaria a trabalhar lá. "Não gosto de brigas e tenho uma boa relação com a Mangueira. Todas as escolas são possíveis fontes de trabalho, não posso deixar as portas fechadas".
Atualmente, Roberto está a frente do Carnaval da Porto da Pedra, no Rio, e do Império de Casa Verde, em São Paulo. "Dois tigres", lembrou ele, referindo-se ao animal símbolo das duas escolas. Ambas não obtiveram colocações muito boas no último desfile e Roberto disse acreditar que pode ajudá-las a obter melhores resultados. "A Porto da Pedra está sendo uma grata surpresa pela vontade da escola de fazer Carnaval. Agora, com a Viradouro no Acesso, ela representa toda a região de São Gonçalo e Niterói. Vamos lutar para a escola ascender e conseguir a sonhada volta ao desfile das campeãs."
Foto: Reprodução de InternetSobre a agremiação paulistana, Roberto também foi otimista: "é a mesma coisa, já tenho currículo lá e vou fazer de tudo para que a escola retorne no desfile das campeãs". Em 2011 o Império ficou com a nona colocação.
Má administração prejudica o trabalho
Com relação às críticas ao seu trabalho, por muitas vezes aparentar estar inacabado, Roberto alegou que o problema está na falta de estrutura que muitas vezes encontrou nas escolas. "Sou muito respeitado por ter um dos melhores figurinistas, um dos melhores pesquisadores e sempre apresentar enredos de qualidade. Os problemas acontecem por questões administrativas."
Ele citou o exemplo do incêndio e seus agravantes na Portela este ano e da falta de apoio financeiro na Mangueira em 2009 para justificar a falta de uma melhor plástica em seu desfile. Além disso, segundo ele, há outros fatores que prejudicaram a concepção de alguns Carnavais. "A escola deve pagar salário aos funcionários mas muitas vezes não o faz. Como vou pedir pra alguém trabalhar sem receber? E apesar de já ter feito todas as funções dentro de um barracão, não vou exercer funções que não são minhas", disse o carnavalesco, lembrando que passou 15 anos trabalhando em barracões, aprendendo todas as fases da produção do desfile.
"As críticas que recebo são por não terminar Carnaval. Nestas condições, não termino Carnaval mesmo não."
Foto: reprodução InternetEle recordou outras escolas onde trabalhou e também enfrentou dificuldades para finalizar o desfile. "Na Grande Rio, em 1996, entrei no barracão 36 dias antes dos desfiles e os carros alegóricos estavam sem estrutura nenhuma, em péssimas condições. Tiveram que ser todos refeitos. Mas a escola teve uma vontade muito grande e acabou passando por cima disto."
"O Salgueiro, em 1995, estava sem quadra e sem apoio financeiro e mesmo assim voltou ao desfile das campeãs. Assumi a escola em 1994, depois do campeonato do ano anterior, e ela foi vice. Na União da Ilha, com o enredo sobre Pereira Passos, todos falavam que a escola ia descer. Mas ela se manteve, acima de mais cinco."
Carnavalesco acredita que jurados são experientes e coerentes
Apesar da apuração dos desfiles sempre gerar polêmica, ele disse crer que o julgamento é coerente. "Os jurados estão lá há muitos anos, tem experiência. A Liesa os mantém e eles se aprimoram." Para Roberto, as justificativas para as notas raramente são discrepantes, tendo os jurados uma visão crítica e construtiva.
"São 5 módulos de julgamento. Em cada um você vê uma escola diferente". Ele exemplificou sua afirmação com o quesito Comissão de Frente, em que o grupo pode se apresentar de forma perfeita em uma cabine e acabar cometendo erros na outra. Ele também lembrou um fato ocorrido com uma alegoria da Grande Rio.
"No enredo de 2006, sobre o Amazonas, havia uma escada em cima de um dos carros. Os jurados dos módulos 1 e 3, que ficavam do lado esquerdo, viram a escada e descontaram meio ponto. Os do módulo 2 e 4 não viram e deram nota 10."
Ele destacou os quesitos Samba-Enredo, Enredo, Fantasias e Alegorias e Adereços como primordiais, sendo contanstes em toda a apresentação da escola. Ressaltou que quesitos como Evolução e Conjunto acabam sendo mais penalizados nos últimos módulos, quando muitas vezes a escola precisa correr. E mesmo acreditando na coerência de julgamento, ele admitiu: "Dá para melhorar".

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