A MAGIA DOS DESFILES MATINAIS
Mangueira 1967 - O Mundo Encantado de Monteiro Lobato
Amigo sambista
O que tem em comum os antológicos desfiles da Mangueira 1967 (Monteiro Lobato) e Mocidade 1976 (Mãe Menininha)??? Assim como muitos, esses dois exemplos de apresentações foram banhados pela luz do dia.
Confesso que sou fã declarado dos desfiles matinais. Tem carnavalesco que gosta (a luz é uma benção!!! nada mais é que um desafio!!!)... já outros têm pavor (nossa... como vão ficar as alegorias sem o efeito do neon??). Mas à bem da verdade, carnaval que é carnaval tem que ter ao menos uma apresentação diurna - estou referindo-me ao Grupo Especial.
E graças ao desfile matutino que eu descobri o carnaval, os desfiles das escolas de samba. Tinha uns 5 pra 6 anos, me lembro como se fosse hoje. Assim que acordei, pedi para minha mãe ligar a TV para que pudesse assistir ao extinto programa do palhaço Bozo. Quando ela ligou a Telefunken preta e branca, ouvia-se primeiramente um barulho de batucada - sabe como é, né? TV do tempo do ronca é assim mesmo!!! A imagem demorava uns 8 segundos para aparecer. De repente, aquele muvuê fazendo o maior fuzuê, a rapaziada toda cantando, passistas fazendo malabarismo com seus pandeiros, mulheres rebolando frente as câmeras, e para meu desespero minha mãe trocando de canal... "MÃE, EU QUERO VER AQUILO!!!" E ela acatou o pedido para minha felicidade. Nossa, foi paixão à primeira vista. Como era uma criança e tinha que dormir cedo, só dava para ver os desfiles pela manhã. Aquilo me marcou, como deve ter marcado muitas "crianças" naquela manhã de carnaval, em meados dos anos 80.
Mística? Essência? Magia? Não sei explicar exatamente. Mas quando assisto uma agremiação desfilar sob esse efeito, o espetáculo fica mais gostoso de se ver. Os próprios componentes ficam mais soltos, desinibidos, energizados... como se a luz fosse uma fonte de alimento em detrimento ao cansaço da espera da concentração.
Desfilar pela manhã é uma verdadeira TRADIÇÃO, que vem desde a época em que se amarrava "cachorro com linguiça". Lá pelos longínquos anos 30 e 40 - quando não havia grupos de acessos - as agremiações desfilavam inicialmente na tarde-noite de domingo de carnaval e só terminavam as festividades na tarde de segunda-feira. Tudo isso devido ao número excessivo de escolas (em 1948 foram 35 agremiações num único dia) e ao tempo ilimitado (chegavam a desfilar por duas ou três horas ininterruptas). Cansativo??? Não para quem ama desfilar.
E foi a partir dos anos 60 que iniciou-se uma série de desfiles matinais memoráveis. Em 1963, o Salgueiro fez uma apresentação épica conquistando o campeonato com o dia aparecendo, com destaque para o Minueto de “Chica da Silva”. O Salgueiro novamente, em pleno sol forte das 11 horas, brindou o público na Presidente Vargas com o “Bahia de Todos os Deuses”. No mesmo ano, o Império Serrano levou um dos melhores sambas-enredos de toda história, “Heróis de Liberdade”.
Mocidade 1976 - Mãe Menininha do Gantois
Nos anos 70 e 80, muitas agremiações levaram o campeonato com a luz do dia. A Portela apresentou e conquistou o campeonato de 1970 com o enredo “Lendas e Mistérios da Amazônia”. No ano seguinte, com o enredo “Festa do Ganzê”, o Salgueiro mais uma vez conquistava um título sobre um sol escaldante. E não é que o Salgueirão tem sorte em desfiles matinais? Em 1975, arrematou mais um caneco, dessa vez com o enredo sobre “As Minas do Rei Salomão”. A Beija-Flor, que até então era uma agremiação emergente, venceu os três carnavais seguintes todos pela manhã. A própria escola desfilou por cinco anos consecutivos (entre 1975 a 1979) sob o clarão do dia. De 1980 a 1985, todas as campeãs conquistaram o campeonato desfilando com o sol iluminando a Passarela. A Imperatriz foi bicampeã em 1980 e 81, o Império Serrano em 1982, a Beija-Flor em 1983, Portela e Mangueira em 1984 e a Mocidade em 1985. No carnaval de 1987, a Mangueira conquistou o bicampeonato, mas a Mocidade, com o enredo “Tupinicópolis”, para muitos merecia o campeonato. Em 89, a Beija-Flor e seu “Ratos e Urubus” fez um desfile apoteótico, mas ficou com o vice.
Nos anos 90, só a Mocidade conquistara o campeonato (o de 1996) sob a luz do dia. A Portela fez uma apresentação inesquecível em 1995 com o tema “Gosto que me Enrosco” mas acabou perdendo o título para a Imperatriz por meio ponto. Em 1996, a Unidos da Ponte fez, na minha visão, um dos piores desfiles da história do Sambódromo ao falar sobre o guarda-chuva, numa Sapucaí esvaziada.
Na primeira década do novo milênio, os desfiles matinais se limitavam em apenas duas escolas, uma pra cada dia de apresentação. Em 2001 mais uma vez a Beija-Flor apresentou um desfile fantástico, mas acabou ficando com o vice-campeonato, perdendo o campeonato para a Imperatriz. A própria Beija-Flor foi a última agremiação a conquistar o título desfilando na manhã de sol, em 2005.
Espero que, nos próximos anos, as autoridades que dominam o carnaval carioca tenham um pouco de bom senso e motivem o retorno de pelo menos uma agremiação aos desfiles com o dia claro, tanto que sou a favor do Grupo Especial ter 14 agremiações.
No próximo artigo, irei apresentar, em ordem cronológica, os 10 melhores desfiles matinais da história da Sapucaí. Aguardem!!!
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