GRANDES "PERÁCIOS" DA FOLIA
Bom de bola bom de samba, paixão
Com Perácio aprendi a sambar de pé no chão
Com Perácio aprendi a sambar de pé no chão
Quando a Acadêmicos do Grande Rio definiu que o samba para o enredo de 2007 "Caxias - O caminho do progresso, um retrato do Brasil", seria de autoria de Marcio das Camisas, Professor Elisio, Mariano Araújo e Robson, muita gente desconhecia a figura que, ao lado do consagrado bamba Zeca Pagodinho, protagonizava o refrão da obra escolhida. Afinal, quem seria Perácio, aquele que ensinou a escola de Duque de Caxias a "sambar de pé no chão"? O sr. Milton Abreu do Nascimento, conhecido como Milton Perácio, foi um dos fundadores da Grande Rio e seu primeiro presidente. Junto com Jaider Soares ajudou a agremiação a ter a estrutura que dispõe, o que possibilitou a escola a desfilar há 14 anos ininterruptamente no Grupo Especial. Hoje, Milton Perácio é o diretor de carnaval da escola.
Baseado neste caso, o Top 10 Sambario resolveu listar os Grandes Perácios da Folia. Um "perácio" seria mais ou menos aquelas pessoas que, são importantes para a história de determinadas escolas ou comunidades, mas para o grande público são ilustres desconhecidos..
10º lugar: Ney Roriz, homenageado pela Unidos de Cosmos, em 2004.
O carnavalesco Ney Roriz não fez história com nenhuma escola do Grupo Especial, mas sua trajetória se destaca por belos trabalhos nos grupos de acesso, com enredos criativos e inusitados. O artista começou trabalhando na Em Cima da Hora, no final dos anos 60. Ajudou a escola de Cavalcante a subir para a elite do carnaval em 1968. No início da década de 80, foi autor de uma bela trilogia desenvolvida pela ECDH, com títulos estranhos e recheados de crítica e irreverência: "Boi bumbá com abóbora" (81), "Bubú, babá, popô, papá" (82) e "Enredo sem enredo" (83). Reapareceu na Unidos de Lucas, com o enredo pacifista "Pare com a Big Bang-bang, nem todo amarelo é ouro, nem todo vermelho é sangue" (91) e "O Galo cantou e Lucas saboreou" (93). Retornou à Em Cima da Hora com "Yara Cigana" (96) e novamente à Lucas "Se eu não cumprir promessa, me processa" (2000). Em 2004, foi homenageado pela Unidos de Cosmos pelo conjunto da obra, com o enredo "Cosmos viaja nos sonhos de Ney Roriz, sem medo de ser feliz".
9º lugar: Anthony Garotinho, homenageado pela Independentes de Cordovil, em 1994.
A luz que ilumina o meu país
A fase de experiência
Linda cidade pioneiro
Campos, onde nasceu Garotinho
Terra de muitas riquezas obra que mãe natureza
Fez de belo pro meu Rio
A fase de experiência
Linda cidade pioneiro
Campos, onde nasceu Garotinho
Terra de muitas riquezas obra que mãe natureza
Fez de belo pro meu Rio
Na época em que a finada Independentes de Cordovil apresentou este carnaval, o homenageado, Anthony Garotinho, ainda era um "perácio". Dublê de radialista e político, a trajetória e atuação de Garotinho ficava restrita à região do município fluminense de Campos, onde tinha sido prefeito. A escola lançou mão de um samba-panfleto para enaltecer a figura de Garotinho, composto anos antes dele pensar em se tornar governador do Estado do Rio ou a candidatar-se a presidente da República. O samba traz versos interessantes. Em determinado momento, a letra diz que Garotinho "veio para a capital com sua amada...". A "amada" em questão é sua esposa e a hoje governadora do Rio, Rosinha Matheus.
8º lugar: Chiquinho da Mangueira, homenageado pela Unidos de Villa Rica de Copacabana, em 2001.
A Inglaterra, seu trabalho aplaudiu
Pro mundo projetou o nosso Brasil
Até Bill Clinton se emocionou
Francisco de Carvalho és um vencedor
Pro mundo projetou o nosso Brasil
Até Bill Clinton se emocionou
Francisco de Carvalho és um vencedor
Responsável pela implantação de projetos sociais na comunidade da Mangueira - entre eles o projeto esportivo Vila Olímpica e a escola mirim Mangueira do Amanhã -, o trabalho de Chiquinho foi cantado em verso e prosa pela Villa Rica. O samba narra até a visita que o ex-presidente dos EUA, Bill Clinton fez à Mangueira em 1997. Na ocasião, o cantor Jamelão falou que o governante ianque estava mais feliz do que "pinto no lixo". Chiquinho da Mangueira foi eleito deputado estadual pelo Rio de Janeiro e nomeado secretário estadual de Esportes pela governadora Rosinha. Seu nome também esteve envolvido em polêmicas, como acusações de conivência com o tráfico.
7º lugar: Luana de Noailles, homenageada pela Beija-Flor de Nilópolis, em 1983.
Eh Luana, o trono de França será seu baiana
As novas gerações devem desconhecer o nome de Luana de Noilles, mas esta baiana criada no bairro da Liberdade, em Salvador, foi uma desbravadora no universo da moda. Menina negra e de infância pobre, mas com um porte altivo de princesa, foi descoberta na década de 70 por Paco Rabanne. Desde então, passou a desfilar para as mais importantes grifes do mundo e virou um mito no mundo da moda, quase 15 anos antes de Naomi Campbell. Após ter finalizado sua trajetória como manequim, Luana casou-se e se tornou Condessa de Noailles. A trajetória de sucesso de Luana chamou a atenção de Joãosinho Trinta, ao escalar os nomes dos homenageados para o enredo "A grande constelação das estrelas negras", que rendeu o título para a Beija-Flor, em 1983. Atualmente, Luana está radicada em Paris.
6º lugar: Centro Empresarial Cidade Nova (Teleporto), homenageado pela Estácio de Sá, em 1996.
Enfim, uma nova cidade no Estácio fluiu
É o mundo mais perto do nosso Brasil
A notícia, o fato, a informação
Então... a evolução vai pedindo passagem
O samba fazendo a sua homenagem
À telecomunicação
É o mundo mais perto do nosso Brasil
A notícia, o fato, a informação
Então... a evolução vai pedindo passagem
O samba fazendo a sua homenagem
À telecomunicação
A Estácio de Sá tentou transformar o limão numa saborosa limonada. Em 1995, a escola foi despejada de sua quadra. No exato local onde a vermelho e branco de São Carlos ensaiava, seria implantado uma nova tendência na área das telecomunicações, o Teleporto Centro Empresarial Cidade Nova. O Teleporto, ou "porto de telecomunicações", é um núcleo provedor de serviços eficientes com custo-benefício de alta performance voltados para empresas que demandam grande conectividade em banda larga, tanto local quanto a longa distância, servidos por satélites, fibra ótica, ondas curtas e outras estruturas de rede. Para o desfile de 1996, a Estácio resolveu usar a idéia do Teleporto para desenvolver seu enredo e acabou produzindo um dos sambas mais tocados no carnaval daquele ano.
5º lugar: Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam), homenageado pela Unidos do Jacarezinho, em 2004.
A coruja vai piar, vai piar
"Unisuam" dá aula de cidadania
"Unisuam" dá aula de cidadania
Em 2004, o Jacarezinho homenageou os 35 anos da Unisuam, uma instituição de Ensino Superior mantida pela Sociedade Unificada de Ensino Superior Augusto Motta, que leva o nome do professor carioca pioneiro da iniciativa. A coruja, citada no refrão do samba, é o símbolo da faculdade, localizada no bairro de Bonsucesso.
4º lugar: Abraham Medina (1916-1995), homenageado pela Acadêmicos de Santa Cruz, em 1999.
Eu vim de lá pra cá! O Rio eu fiz brilhar
E dei pro povo arte, vida e emoção
Sou alegria eu sou! E pra folia eu vou!
Sou "Rei da voz" no sonho da televisão
E dei pro povo arte, vida e emoção
Sou alegria eu sou! E pra folia eu vou!
Sou "Rei da voz" no sonho da televisão
Abraham Medina foi um empresário que organizava eventos para promover o turismo no Rio de Janeiro e um grande empreendedor. Criou uma loja - O Rei da Voz - a maior cadeia de eletrodomésticos da América Latina. Explorou o potencial turístico da cidade, com uma série de eventos que ficaram na história. O empresário promovia o Natal, a Páscoa, o Dia das Mães, dos Namorados. Para os eventos, decorava toda a cidade, da zona sul aos subúrbios. Trouxe para o Brasil os maiores artísticos da época: Nat King Cole, Paul Anka, Sammy Davis Jr., Neil Sedaka, etc. Medina comandou as festividades do 4º Centenário do Rio de Janeiro e também construiu o Teatro República. Foi à televisão entrar no ar e Abraham Medina rapidamente montou estúdio, câmaras, equipamentos de iluminação. Foi criador do "Noite de Gala", histórico programa nos primeiros anos da televisão, em que, todas as segundas-feiras, durante duas horas, em pleno horário nobre, apresentava os grandes astros do momento e lançava os maiores nomes da música popular brasileira. Seu filho, Roberto Medina, também herdou o gosto pela promoção e foi responsável pelo festival Rock in Rio.
3º lugar: Seu China (Antônio Fernandes da Silveira, 1900-1976), homenageado pela Unidos de Vila Isabel, em 1994.
Desperta, Seu China! Acorda, Noel!
Pra ver a nossa escola desse branco azul do céu
Pra ver a nossa escola desse branco azul do céu
Em 1994, a Vila contou a história do bairro e sua própria história no enredo "Muito prazer! Isabel de Bragança Drummond Rosa da Silva, mas pode me chamar de Vila". Entre os vários homenageados (ao lado de Noel Rosa, o compositor Paulo Brasão e o bamba Martinho), estava o fundador da escola, "Seu China". Ex-morador do morro do Salgueiro, mudou-se mais tarde para o morro dos Macacos, em Vila Isabel. Apaixonado por carnaval, ficou fascinado ao ver passar o bloco Acadêmicos da Vila, com seus componentes fantasiados e isolados por uma corda, parecendo uma mini escola de samba. A partir daquela visão, Seu China teve a idéia de fundar em Vila Isabel uma escola de samba. Junto com amigos dispostos a fazer parte da futura escola, reuniu-se com os integrantes do Acadêmicos da Vila e propôs a fundação de uma agremiação. Em 4 de abril de 1946, estava fundada a Unidos de Vila Isabel, com as cores azul e branco, em homenagem ao próprio China, que antes fazia parte da Escola de Samba Azul e Branco do Salgueiro.
2º lugar: Didi (Gustavo Adolfo Carvalho Baeta Neves), homenageado pela União da Ilha do Governador, em 1991.
Poeta, enredo da canção
Cartilha que eu aprendi
Canta a Ilha d'emoção
Saudade de você, Didi
Cartilha que eu aprendi
Canta a Ilha d'emoção
Saudade de você, Didi
O competente jurista de nome pomposo Gustavo Adolfo Carvalho Baeta Neves era o alter-ego de Didi, poeta maior da Ilha do Governador e o compositor com o maior número de sambas-enredos vitoriosos no carnaval carioca. Foram 16 vitórias na União da Ilha e quatro no Acadêmicos do Salgueiro. Didi trocou a toga e a carreira brilhante de advogado e procurador do Estado pelas mesas de bar e rodas de samba. Durante muitos anos, Didi não assinou suas obras, em virtude de que a família não aceitava que ele freqüentasse o samba. Muitas de suas canções eram creditadas a amigos. A União da Ilha homenageou seu poeta maior em 1991, com o enredo "De bar em bar, Didi, um poeta". A meu ver, uma homenagem acanhada, pois a escola se deteve em falar dos bares e apenas na última parte do desfile reservou uma alegoria relembrando os carnavais que tiveram sambas de Didi. A figura do compositor é tão misteriosa que acredito que nunca ninguém viu uma foto sua. Nem durante o desfile em sua homenagem apareceu uma imagem do compositor.
1º lugar: Marcelino (Marcelino José Claudino), Mestre Candinho, Tia Tomásia e Farias, homenageados pela Estação Primeira de Mangueira, em 1978.
Quantas saudades
Do famoso Marcelino
Foi o grande mestre sala
Desde os tempos de menino
(...)
E o ponto alto da escola
Mestre Candinho, tia Tomásia
E Cartola
(...)
Samba duro no Faria
Ia até de madrugada
Do famoso Marcelino
Foi o grande mestre sala
Desde os tempos de menino
(...)
E o ponto alto da escola
Mestre Candinho, tia Tomásia
E Cartola
(...)
Samba duro no Faria
Ia até de madrugada
Ao comemorar seu cinqüentenário, em 1978 (há divergências entre os próprios mangueirenses quanto à data de fundação da escola), a verde e rosa reuniu um bom número de "perácios" em seu desfile. Entre baluartes que se tornaram sinônimos de Mangueira, como Jamelão, Nelson Cavaquinho, Cartola, Carlos Cachaça, Dona Zica, Dona Neuma e Mocinha, vários nomes do período pré-histórico da escola foram lembrados: Marcelino foi mestre-sala ainda na época do Bloco dos Arengueiros e, dizem, foi o professor do mítico Delegado. Mestre Candinho e Tia Tomásia foram mandachuvas na escola nos primeiros anos de existência da Manga. Outro homenageado no desfile foi o Faria - um comerciante que tinha um estabelecimento no Morro do Chalé, em Mangueira. No local, provavelmente um bar, os sambistas faziam rodas de samba que entravam madrugada a dentro.
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