segunda-feira, 14 de março de 2011

Laíla: 'Carnaval não é alegoria'

Entrevista com o diretor de Carnaval da Beija-Flor, 12 vezes campeã do Carnaval carioca



A escola ganhou o título, mas recebeu críticas. Não é estranho? 

— Não querem cair na real e ver que a Beija-Flor é uma das melhores escolas do Rio. Acham que aqui tem maracutaia e não tem. Não damos viagem, não fazemos a cabeça de ninguém. Mas sempre que ganhamos é aquela história... ‘é porque o Anísio é da Liga’.

Teve gente reclamando de jurado que só deu 10 para a Beija-Flor?

— Nossas alegorias estão dentro do enredo. E se a alegoria não estiver adequada à história proposta, a alegoria está fora. Tô mandando um recadinho, amigos. 

Mas gerou bronca ...

— O que está ocorrendo no Carnaval é que as pessoas acham que Carnaval de escola de samba é alegoria. E não é. Esse está sendo o grande erro. Não digo que eu seja o perfeito, mas estou buscando aquilo que aprendi no samba.

O que leva a tantas vitórias?

— Nossa preocupação é fazer um planejamento carnavalesco. Não passo dos meus limites. Não sou vaidoso, não sou fresco. A minha maneira de administrar é diferente das coisas que estão por aí, porque sou sambista. Não sou sambeiro. Não caí de paraquedas e sei a necessidade de uma escola de samba. Aí os caras querem fazer carnavais mirabolantes, vão a Las Vegas, Nova York. Tão começando a botar no Carnaval carioca coisas inexistentes dentro das escolas de samba. Busco fazer um Carnaval mediante o que eu possa dar a minha comunidade e ela possa corresponder.

Esse é o segredo?

— O Anísio fala uma coisa importante: ‘Não quero ninguém trabalhando para mim que não tenha coração azul e branco’. Então, dinheiro não enche os olhos. Porque ele me dá condições de realizar as coisas que gosto e aprendi a fazer desde moleque. 

Você é a favor de comissões na escola. Isso é bom? 

—Tenho comissão de bateria, de alegoria, que nunca teve. 

Um só causa problema?

— Gera, principalmente vaidade. Os caras se sentem como rei e não é a realidade. Se tenho equipe de harmonia, eu tenho uma pessoa para tomar conta. Mas conduzo e faço reunião e todo mundo opina e busco tirar o que é producente para escola.

A comissão funcionou?

— No enredo do Chuveiro (2009), deixei o barracão a critério do carnavalesco. Descemos a ladeira. Fomos vice por conta do grande desfile da escola. No enredo sobre Brasília comecei a botar mais a comissão e este ano resolvi botar o grupo para funcionar. 

Anísio é figura importante para o desfilante?

— O Anísio é uma grande marca para a cultura. É um Deus para todos nós. Pelo tratamento, pela dignidade. Ele tem grande participação no crescimento do Carnaval. Fala com todos, vibra. Gosta disso.

E a sua fama de durão, de mau?

— As pessoas sabem que têm que cumprir o que foi tratado. Durão eu sou, mau eu não sou. Não posso ficar feliz com um cara que não evolua, que não cante. A escola dá as roupas e em troca só pede que cante, dance e tenha comportamento.

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