Autores: Dudu Botelho, Miudinho, Anderson Benson e Luiz Pião
Salgueiro
Apresenta o Rio no cinema
Já não há mais lugar pra nos ver na passarela
Cada um é um astro que entra em cena
No maior espetáculo da tela
A Cinelândia reencontrar
A luz se apaga, acende a vida
Projeta sonhos na avenida
A terra em transe mostrou visão singular
E o tesouro de Atlântida
Foi abraçado pelo mar
Onde está? Diz aí
Carlota Joaquina veio descobrir (bis)
Na busca o bonde da Lapa Madame Satã
Pequena Notável requebra até de manhã
Em um simples instante
Orfeu vence as dores em som dissonante
E as cordas do seu violão
Silenciam para o amanhecer
Brilha o sol de um dia de verão
Salta aos olhos outra dimensão
Revoada risca o céu e faz
Amigos alados, canto de paz
Maneiro deu a louca em Copacabana
Vi beijo do homem na Mulher Aranha
E o "King-Kong" no relógio da central
Meu Salgueiro o "Oscar" sempre é da academia
Toca o "bip-bop" furiosa bateria
Aqui tudo acaba em carnaval
O cenário é perfeito
De braços abertos sobre a Guanabara (bis)
O filme mostrou maravilhosa chanchada
Sob a direção do Redentor
“Meu Salgueiro, o Oscar sempre é da academia; toca o bip-bop furiosa bateria; aqui tudo acaba em Carnaval”... Pela primeira vez em anos, digo com convicção: retiro o meu chapéu para o samba do Salgueiro. Quando tudo apontava para uma possível vitória de um “samba-Quinho” (aquele estilo de samba que é feito especificamente para que o intérprete possa encaixar seus cacos), a tradicional Academia optou por variar um pouco o estilo, o qual adoraria frisar, que já estava pra lá de batido. Acho que aqui não nos cabe atirar pedras ao passado, uma vez que o importante seja a mudança de postura da escola, que é grande demais para comprometer suas raízes a fim de criar uma dependência em torno de uma única pessoa. O enredo do Renato Lage proporcionava possibilidades interessantes, e a parceria de Dudu Botelho optou por uma letra irreverentemente poética e uma melodia longe daquela animação toda dos últimos anos (me refiro particularmente à “Tambor” e “Histórias sem Fim”), entretanto, suprida de um conjunto de variações bem originais (sem ouvir o áudio, é impossível imaginar a estrutura da melodia, ao contrário da maioria das obras atuais, que são bem previsíveis). A poesia contrasta o lirismo com alguns versos irreverentes e abusa também de um vocabulário sofisticado, com passagens coloquiais (isso é pouco comum e me agrada). Por exemplo, na segunda estrofe, o verso “Orfeu vence as dores em som dissonante” (lírico), seguido de gírias como “Maneiro, deu a louca em Copacabana” e depois o “bip-bop”. Em suma, o samba é bem fiel ao enredo, o que não comprometeria a funcionalidade para o desfile. Não me agradou muito o refrão central, que cita Carlota Joaquina e faz um sanduíche um pouco confuso de informações, além de aquele “Onde está? Diz aí!” ter soado um pouco apelativo. Por outro lado, o contraste da melodia do primeiro refrão com a primeira estrofe ficou muito bom e deve permitir que a “Furiosa” brinque um pouco. Na avenida, creio ser uma incógnita, mas torço para que dê certo.
Até a próxima!
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